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EDUCAÇÃO
Número de aprovados da rede particular (73%) é o maior desde 2001; para USP, resultado reflete crise no ensino público
Escola privada amplia domínio na Fuvest
FÁBIO TAKAHASHI
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de aprovados da rede
particular no vestibular deste ano
da Fuvest é o maior desde 2001,
apesar das iniciativas tomadas pela fundação e pela USP para tentar
aumentar a proporção de alunos
da escola pública na universidade.
No processo seletivo 2006 da
Fuvest -que seleciona para a
USP, Santa Casa e Academia do
Barro Branco-, 73,2% dos chamados para a matrícula fizeram o
ensino médio integralmente em
colégios particulares. O número é
o maior desde 2001, quando foi de
74,1%. Em 2005, ficou em 71,9%.
Apesar de a variação percentual
no período ser relativamente pequena, isso mostra que as políticas de inclusão social adotadas até
agora tiveram pouco efeito.
De 2001 para cá, a USP criou um
campus na zona leste da capital
paulista (inaugurado em 2005), o
que aproximou a universidade de
uma região de baixa renda.
Além disso, a Fuvest aumentou
de 10 mil para 65 mil o número de
isenções da taxa de inscrição no
vestibular (neste ano, custou R$
105, incluindo manual).
Com isso, a proporção de inscritos provenientes da escola pública
subiu 8,2%, entre os vestibulares
2005 e o 2006. O crescimento, porém, não resultou em mais aprovações desses alunos -houve
queda de 7,9%.
"A única maneira de explicar
esse fenômeno é estimar que o nível da escola pública continua
caindo", diz o coordenador da
Fuvest, Roberto Costa.
Para ele, se forem mantidas as
características do processo seletivo, a rede particular continuará
prevalecendo nas listas de aprovação. "Como o exame avalia o
conteúdo, é difícil mudar o perfil
dos aprovados." A universidade
possui um grupo de trabalho que
analisa a possibilidade de mudar
o vestibular. Um relatório foi feito
e aguarda votação.
Para a pró-reitora de graduação
da USP, Selma Garrido Pimenta,
as medidas tomadas até agora pela universidade "estão surtindo
efeito, mas o resultado não se faz
presente imediatamente".
Ela diz ainda que o aumento do
ingresso de alunos da escola pública também é responsabilidade
do governo estadual e da comunidade, para que haja uma melhoria
na educação pública. "As porcentagens têm sido pequenas também como resultado da desqualificação geral que o ensino sofreu
nestes últimos 20 anos."
Para a professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da PUC-SP Isabel Franchi
Cappelletti, o menor índice de
aprovação de alunos do sistema
público não está relacionado apenas à qualidade dessa rede. "Temos de lembrar que estudantes de
escolas públicas não estão acostumados com avaliações como a da
Fuvest, ao contrário dos estudantes das particulares."
Já a professora de metodologia
de ensino da Faculdade de Educação da USP Nídia Nacib Pontuschka diz que "são muitos itens
que devem ser considerados, desde a desvalorização da escola pública até o formato do vestibular".
Atualmente, 85% dos estudantes do ensino médio do Estado
cursam a rede pública, mas em
geral eles são menos de 30% dos
aprovados na USP.
Cotas
Para Thiago Tobias, assessor da
ONG Educafro, a única forma de
aumentar a inclusão seria com a
adoção de ações afirmativas, como as cotas -medida que a universidade entende que pode baixar seu nível de ensino.
"É um contra-senso tremendo.
A USP comemora o aumento de
alunos carentes fazendo vestibular e os condena à decepção", afirma Tobias.
O coordenador do MSU (Movimento dos Sem Universidade),
Sérgio Custódio, critica a prova de
inglês da Fuvest. "Ela tem um nível de doutorado, sendo que está
trabalhando com alunos que possuem nível do verbo "to be"."
Vanessa Cristina de Alvarenga,
20, foi um dos vestibulandos que
conseguiram isenção, mas não foram aprovados. "A prova é muito
difícil, com coisas próprias pra
cursinhos. Tem muitas pegadinhas, é aquela velha decoreba. No
fim das contas, é um vestibular
que é medido por condições financeiras e exclui de toda a forma
os alunos da rede pública."
Colaborou DANIELA TÓFOLI, da Reportagem Local
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