São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 1998

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CARNAVAL
Campeã de 97 deixou de ser "pequena' para se tornar uma das mais ricas e temidas escolas de samba do Rio
Viradouro é favorita ao título carioca

MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio

Campeã de 97 e favorita ao título do Carnaval carioca deste ano, a Unidos do Viradouro tenta se firmar como a "nova Beija-Flor". Assim como a escola de Nilópolis nos anos 70, a niteroiense Viradouro rompeu o domínio das agremiações cariocas, deixando o estigma de "pequena" para se transformar em uma das mais ricas e temidas.
Como a Beija-Flor, a Viradouro chegou ao primeiro título escorada na criatividade do carnavalesco Joãosinho Trinta e no poder econômico de um bicheiro, José Carlos Monassa. Na Beija-Flor, o patrono é Aniz Abrahão David.
O próprio Monassa -que, embora não tenha cargo oficial na escola, é tratado por todos como "residente"- assume o favoritismo da Viradouro, mesmo evitando a palavra "bicampeonato".
"Assumimos a responsabilidade do favoritismo. Quem quiser ganhar o Carnaval vai ter que ganhar da Viradouro", afirma.
Para Joãosinho Trinta, a escola niteroiense "já repetiu" a trajetória da Beija-Flor. "Niterói sempre foi alvo de preconceito dos cariocas, mas a Viradouro já está entre as grandes do Carnaval."
A Viradouro está gastando este ano R$ 2 milhões para mostrar na avenida o enredo "Orfeu, o Negro do Carnaval", baseado no mito do deus grego da música.
O desfile acontecerá no momento em que o cineasta Cacá Diegues começa a rodar seu novo filme, "Orfeu", refilmagem do clássico francês "Orfeu da Conceição", de Marcel Camus.
Diegues vai aproveitar imagens do desfile da Viradouro, já que, tanto no enredo quanto no roteiro do filme, o mito de Orfeu é adaptado à realidade de uma favela.
No desfile, Orfeu será o compositor da escola de samba de um morro do Rio que apresentará, como enredo, a história do Carnaval. A cada setor da Viradouro, serão apresentados, ao mesmo tempo, a evolução do Carnaval, o mito grego e sua adaptação carioca.
Apesar da expectativa, Joãosinho diz que não se preocupa com comparações com "Trevas! Luz! A Explosão do Universo", o vitorioso enredo do ano passado.
Ele afirma não estar preparando nenhuma surpresa especial. "A surpresa, quando acontece, vem do tratamento dado ao enredo. Não faço surpresa pela surpresa."
Em 97, Joãosinho inovou com o abre-alas e a primeira ala da escola inteiramente pretos, representando as trevas que, no enredo, precediam o surgimento do universo.
Na versão do carnavalesco, Eurídice, a mulher amada por Orfeu, morre atingida por uma bala perdida -problema que afeta o Rio.



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