São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2007

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Juiz é solto após pagar resgate em Alagoas

Presidente da Associação dos Magistrados do Estado, seqüestrado no domingo, foi solto após pagamento de resgate de R$ 10 mil

O ministro Márcio Thomaz Bastos determinou a criação de um Gabinete de Gestão Integrada para combater a criminalidade no Estado

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

Depois de passar 55 horas em poder de seqüestradores, o juiz Paulo Zacarias da Silva, 52, presidente da Almagis (Associação dos Magistrados de Alagoas), foi libertado na madrugada de ontem, após pagamento de resgate de R$ 10 mil.
Em entrevista ontem à tarde, o magistrado disse que a ação dos criminosos não teve motivação política e que, segundo conversas que teve com os bandidos, eles não sabiam que haviam seqüestrado um juiz.
"O líder dos seqüestradores disse: "Se soubesse que o senhor era juiz, não teria pego o senhor". Mas que [a ação] não ia ficar de graça", disse Zacarias da Silva. Para o juiz, os bandidos foram atraídos pelo carro dele (um Corolla).
O secretário de Defesa Social do Estado (responsável pela segurança pública), general Edson Sá Rocha, politizou o seqüestro e disse que, na opinião dele, a ação teve como objetivo desestabilizar o governo de Teotonio Vilela Filho (PSDB).
Até o início da noite de ontem, três pessoas haviam sido presas suspeitas de participar do seqüestro. Entre elas, duas mulheres que teriam ajudado na logística da ação.
O juiz contou que foi abordado por três homens armados quando estacionava seu carro em frente a uma igreja evangélica, na noite de domingo. Ele foi colocado dentro do carro com a cabeça coberta.
O carro trafegou pelas ruas de Maceió em alta velocidade e chegou a atropelar um motociclista. O juiz foi levado a um cativeiro dentro de uma mata fechada, próxima a um canavial, no município de Satuba, região metropolitana de Maceió.
O juiz ficou abrigado numa barraca de camping. O carro do magistrado foi queimado e encontrado na madrugada de segunda, em Coqueiro Seco (AL).
Zacarias disse que passou a negociar diretamente com o líder da quadrilha o pagamento de seu resgate depois que o seqüestrador disse que a família não estava disposta a pagar. O criminoso exigiu R$ 500 mil. Ele ofereceu R$ 30 mil e subiu depois para R$ 50 mil.
Paralelamente, os seqüestradores negociavam com a família o pagamento do resgate, o que foi feito na noite de anteontem. Na madrugada de ontem, depois de andar por mais de uma hora e meia dentro da mata, o juiz foi deixado encapuzado em um canavial.
Por volta das 3h, ele percebeu que havia sido abandonado, tirou o capuz e começou a andar até encontrar uma van, que o levou para Maceió.
Segundo informações da Almagis, além do seqüestro do presidente da associação, outros três parentes próximos de magistrados foram seqüestrados no período de um mês.

Reforço
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, determinou a criação de um Gabinete de Gestão Integrada, composto por forças federais e estaduais em Alagoas para combater a criminalidade no Estado.
A informação foi divulgada na manhã pelo governador do Estado, Teotonio Vilela Filho (PSDB). O ministério enviou dois efetivos da PF para Alagoas anteontem -o Comando de Operações Táticas, de ação ostensiva, e um outro grupo de inteligência policial.
O GGI se reunirá pela primeira vez na segunda-feira e decidirá se há necessidade de usar a Força Nacional.

"Manual da Redação"
A Folha acompanhou o seqüestro do juiz, mas não o divulgou a pedido da família. Segundo o "Manual da Redação" do jornal, "em regra, a Folha publica tudo o que sabe. Mas pode decidir omitir informação cuja divulgação coloque em risco a segurança pública, de pessoa ou de empresa". A Folha só divulga seqüestro em andamento se houver consentimento da família do seqüestrado.


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