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VIOLÊNCIA
Para a polícia, ataque ao hotel Glória faz parte da estratégia do Comando Vermelho de dar mais visibilidade a suas ações
Tráfico ataca mais um ponto turístico no Rio de Janeiro
Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
![](../images/c1504200301.jpg) |
Fachada do hotel Glória ficou marcada com buracos de balas |
MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O hotel Glória, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, localizado no bairro da Glória, foi alvejado ontem de madrugada por
quatro tiros de fuzil em sua fachada. A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio apurou
que a facção criminosa CV (Comando Vermelho) decidiu atacar
hotéis da zona sul e pontos turísticos, para dar visibilidade às suas
ações.
O ataque ocorreu por volta de
1h30. Homens em dois carros que
passaram na pista da praia do Flamengo atiraram contra o hotel.
Quatro balas acertaram o alvo.
Ninguém ficou ferido. Um quinto
tiro atingiu o apartamento 201 do
prédio Tolomei, na rua do Russel,
a cerca de 200 metros do Glória.
As duas moradoras, que estavam
deitadas, não foram atingidas.
O Glória é um dos mais conceituados hotéis do Rio. Funciona
desde 1922. Um de seus clientes
habituais é o ex-presidente Itamar
Franco. O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva já se hospedou lá várias vezes. O hotel tem 630 apartamentos, com móveis de época e
tapetes persas. A direção não comentou o ataque.
Segundo a Subsecretaria de Inteligência, líderes presos do CV
determinaram a seus comandados em favelas que passem a atacar atrações turísticas, hotéis de
luxo e shoppings, de preferência
os mais conhecidos.
Na avaliação da cúpula da facção, segundo a subsecretaria, a
destruição e a queima de ônibus
estariam se banalizando. A intenção dos criminosos seria causar
impacto e atemorizar turistas e a
população da zona sul. Para a polícia, os ataques a ônibus deverão
diminuir.
Testemunhas disseram à polícia
que os homens que atiraram no
hotel Glória estavam em um Golf
e em um Vectra. Eles portavam
fuzis. Um deles atirou pela abertura do teto solar do Golf.
De manhã, o Golf foi encontrado em um acesso do morro Santo
Amaro, no Catete (bairro vizinho
à Glória). A favela é controlada
pelo traficante Marco Antônio
Pereira, o My Thor, que está preso. Para o chefe de Polícia Civil,
Álvaro Lins, o ataque pode ter sido ordenado por My Thor.
O delegado titular da 9ª DP (Delegacia de Polícia), Alan Luxardo,
disse que não tem pistas sobre os
autores do ataque e procurou minimizar a ação. "Não foi nada sério, coisa de menos importância."
As moradoras do apartamento
baleado não pensam como o delegado. A pedagoga Janaína Rodrigues da Silva, 39, afirmou que lia
no quarto quando ouviu um estrondo na sala. Com medo, não
levantou para ver o que ocorrera.
Antes do barulho, ela disse ter
ouvido gritos na rua e o som de
carros em velocidade. A bala atingiu uma parede da sala, após furar
a vidraça. Só de manhã ela descobriu o que ocorrera.
Ao lado do edifício fica o hotel
Golden Park. A polícia desconfia
que a intenção do bando era atirar
no hotel, não no edifício.
"Acho o que ocorreu muito sério. Se estivesse na sala, poderia
ter sido atingida. Não temos paz
nem mais dentro da própria casa.
Minha mãe está traumatizada",
afirmou a moradora.
Os ataques a hotéis e pontos turísticos da zona sul começaram
no último dia 31, quando uma
bomba de fabricação caseira explodiu na portaria do hotel Le
Meridien, no Leme. No mesmo
dia, cerca de 30 tiros foram disparados contra a estação de trens do
Corcovado (Cosme Velho), um
dos principais cartões de visita da
cidade.
No último dia 9, uma granada
foi jogada na entrada do shopping
Rio Sul (Botafogo), o maior da zona sul carioca. No dia seguinte, o
ataque ocorreu no Leblon: bombas caseiras foram jogadas no térreo do apart-hotel Pantheon e no
restaurante Fratelli.
Para a Subsecretaria de Inteligência, todas as ações estão vinculadas. A ordem para os ataque
partiu do complexo penitenciário
de Bangu (zona sul), onde estão
presos os principais líderes do
CV, como Márcio Nepomuceno,
o Marcinho VP, Isaías Rodrigues,
o Isaías do Borel, e Jorge Alexandre Cândido Maria, o Sombra.
Hotelaria
O ataque ao Glória poderá resultar no cancelamento de reservas nos hotéis cariocas para o feriadão da Semana Santa, previu
ontem o presidente da Associação
Brasileira da Indústria Hoteleira,
Alfredo Lopes.
Ele diz que 80% das vagas estão
reservadas, mas essa previsão otimista corre o risco de não se confirmar. "Tudo vai depender de como os noticiários mostrarão o
ataque", disse Lopes, manifestando preocupação de que as vagas
sejam canceladas a partir de hoje.
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