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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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VIOLÊNCIA

Para a polícia, ataque ao hotel Glória faz parte da estratégia do Comando Vermelho de dar mais visibilidade a suas ações

Tráfico ataca mais um ponto turístico no Rio de Janeiro

Marco Antonio Rezende/Folha Imagem
Fachada do hotel Glória ficou marcada com buracos de balas


MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES

DA SUCURSAL DO RIO

O hotel Glória, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, localizado no bairro da Glória, foi alvejado ontem de madrugada por quatro tiros de fuzil em sua fachada. A Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio apurou que a facção criminosa CV (Comando Vermelho) decidiu atacar hotéis da zona sul e pontos turísticos, para dar visibilidade às suas ações.
O ataque ocorreu por volta de 1h30. Homens em dois carros que passaram na pista da praia do Flamengo atiraram contra o hotel. Quatro balas acertaram o alvo. Ninguém ficou ferido. Um quinto tiro atingiu o apartamento 201 do prédio Tolomei, na rua do Russel, a cerca de 200 metros do Glória. As duas moradoras, que estavam deitadas, não foram atingidas.
O Glória é um dos mais conceituados hotéis do Rio. Funciona desde 1922. Um de seus clientes habituais é o ex-presidente Itamar Franco. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se hospedou lá várias vezes. O hotel tem 630 apartamentos, com móveis de época e tapetes persas. A direção não comentou o ataque.
Segundo a Subsecretaria de Inteligência, líderes presos do CV determinaram a seus comandados em favelas que passem a atacar atrações turísticas, hotéis de luxo e shoppings, de preferência os mais conhecidos.
Na avaliação da cúpula da facção, segundo a subsecretaria, a destruição e a queima de ônibus estariam se banalizando. A intenção dos criminosos seria causar impacto e atemorizar turistas e a população da zona sul. Para a polícia, os ataques a ônibus deverão diminuir.
Testemunhas disseram à polícia que os homens que atiraram no hotel Glória estavam em um Golf e em um Vectra. Eles portavam fuzis. Um deles atirou pela abertura do teto solar do Golf.
De manhã, o Golf foi encontrado em um acesso do morro Santo Amaro, no Catete (bairro vizinho à Glória). A favela é controlada pelo traficante Marco Antônio Pereira, o My Thor, que está preso. Para o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, o ataque pode ter sido ordenado por My Thor.
O delegado titular da 9ª DP (Delegacia de Polícia), Alan Luxardo, disse que não tem pistas sobre os autores do ataque e procurou minimizar a ação. "Não foi nada sério, coisa de menos importância."
As moradoras do apartamento baleado não pensam como o delegado. A pedagoga Janaína Rodrigues da Silva, 39, afirmou que lia no quarto quando ouviu um estrondo na sala. Com medo, não levantou para ver o que ocorrera.
Antes do barulho, ela disse ter ouvido gritos na rua e o som de carros em velocidade. A bala atingiu uma parede da sala, após furar a vidraça. Só de manhã ela descobriu o que ocorrera.
Ao lado do edifício fica o hotel Golden Park. A polícia desconfia que a intenção do bando era atirar no hotel, não no edifício.
"Acho o que ocorreu muito sério. Se estivesse na sala, poderia ter sido atingida. Não temos paz nem mais dentro da própria casa. Minha mãe está traumatizada", afirmou a moradora.
Os ataques a hotéis e pontos turísticos da zona sul começaram no último dia 31, quando uma bomba de fabricação caseira explodiu na portaria do hotel Le Meridien, no Leme. No mesmo dia, cerca de 30 tiros foram disparados contra a estação de trens do Corcovado (Cosme Velho), um dos principais cartões de visita da cidade.
No último dia 9, uma granada foi jogada na entrada do shopping Rio Sul (Botafogo), o maior da zona sul carioca. No dia seguinte, o ataque ocorreu no Leblon: bombas caseiras foram jogadas no térreo do apart-hotel Pantheon e no restaurante Fratelli.
Para a Subsecretaria de Inteligência, todas as ações estão vinculadas. A ordem para os ataque partiu do complexo penitenciário de Bangu (zona sul), onde estão presos os principais líderes do CV, como Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, Isaías Rodrigues, o Isaías do Borel, e Jorge Alexandre Cândido Maria, o Sombra.

Hotelaria
O ataque ao Glória poderá resultar no cancelamento de reservas nos hotéis cariocas para o feriadão da Semana Santa, previu ontem o presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, Alfredo Lopes.
Ele diz que 80% das vagas estão reservadas, mas essa previsão otimista corre o risco de não se confirmar. "Tudo vai depender de como os noticiários mostrarão o ataque", disse Lopes, manifestando preocupação de que as vagas sejam canceladas a partir de hoje.


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