São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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Só pressão política fará Planalto enviar tropas

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de contrário ao uso das Forças Armadas no combate à violência no Rio de Janeiro e de irritado com o casal Garotinho, o governo federal não descarta adotar essa medida como uma resposta política.
"Estilo animador de auditório" e "tentativa de pegadinha" foram as palavras usadas por um auxiliar próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para descrever a entrevista de anteontem do secretário da Segurança Pública, Anthony Garotinho, na qual ele pediu o envio de 4.000 militares à capital fluminense.
A Folha apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está contrariado com Garotinho e com a governadora Rosinha Matheus (PMDB), por avaliar que eles tentam minimizar o dano político do conflito na favela da Rocinha buscando dividir o ônus com o governo federal.
Do ponto de vista policial, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e a cúpula do governo estão convencidos de que não há justificativa para usar militares na favela da Rocinha.
No entanto, a "sensação de insegurança", outra expressão usada por pessoa próxima a Lula, aliada à batalha política com o casal Garotinho, pode levar o presidente a determinar ao ministro José Viegas (Defesa) que vença as resistências militares a uma missão desse tipo.
Isso já ocorreu no ano passado, no Carnaval, quando as Forças Armadas foram enviadas ao Rio de Janeiro para fazer o patrulhamento das ruas da cidade. Lula não gostava da idéia, Thomaz Bastos e Viegas eram contra, e os chefes militares aceitaram a empreitada a contragosto.
O presidente bancou a medida do ano passado para mostrar que se importava com um problema que atinge a população do Rio, especialmente a influente parcela que vive na zona sul da cidade. A cobertura da mídia carioca e do "Jornal Nacional", programa da TV Globo, por exemplo, são fundamentais para que uma decisão desse tipo seja tomada.
O problema é que a relação entre o Planalto e o casal Garotinho, que já era ruim, piorou. O envio de tropas federais teria que ser negociado nos mínimos detalhes, disseram à Folha um auxiliar do presidente e um interlocutor do ministro da Justiça.
Ontem, Thomaz Bastos buscou restabelecer algum elo de confiança com o secretário Garotinho após dois dias em que autoridades do Rio e de Brasília, incluindo os dois, bateram cabeça publicamente. O ministro ofereceu melhoria da cooperação que já existe entre a Polícia Federal e as polícias Civil e Militar do Rio e deixou claro que não descarta o envio das tropas à capital fluminense.


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