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Só pressão política fará Planalto enviar tropas
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de contrário ao uso das
Forças Armadas no combate à
violência no Rio de Janeiro e de irritado com o casal Garotinho, o
governo federal não descarta adotar essa medida como uma resposta política.
"Estilo animador de auditório"
e "tentativa de pegadinha" foram
as palavras usadas por um auxiliar próximo ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva para descrever a entrevista de anteontem do
secretário da Segurança Pública,
Anthony Garotinho, na qual ele
pediu o envio de 4.000 militares à
capital fluminense.
A Folha apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está
contrariado com Garotinho e
com a governadora Rosinha Matheus (PMDB), por avaliar que
eles tentam minimizar o dano político do conflito na favela da Rocinha buscando dividir o ônus
com o governo federal.
Do ponto de vista policial, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, e a cúpula do governo estão convencidos de que não há
justificativa para usar militares na
favela da Rocinha.
No entanto, a "sensação de insegurança", outra expressão usada
por pessoa próxima a Lula, aliada
à batalha política com o casal Garotinho, pode levar o presidente a
determinar ao ministro José Viegas (Defesa) que vença as resistências militares a uma missão
desse tipo.
Isso já ocorreu no ano passado,
no Carnaval, quando as Forças
Armadas foram enviadas ao Rio
de Janeiro para fazer o patrulhamento das ruas da cidade. Lula
não gostava da idéia, Thomaz
Bastos e Viegas eram contra, e os
chefes militares aceitaram a empreitada a contragosto.
O presidente bancou a medida
do ano passado para mostrar que
se importava com um problema
que atinge a população do Rio, especialmente a influente parcela
que vive na zona sul da cidade. A
cobertura da mídia carioca e do
"Jornal Nacional", programa da
TV Globo, por exemplo, são fundamentais para que uma decisão
desse tipo seja tomada.
O problema é que a relação entre o Planalto e o casal Garotinho,
que já era ruim, piorou. O envio
de tropas federais teria que ser negociado nos mínimos detalhes,
disseram à Folha um auxiliar do
presidente e um interlocutor do
ministro da Justiça.
Ontem, Thomaz Bastos buscou
restabelecer algum elo de confiança com o secretário Garotinho
após dois dias em que autoridades do Rio e de Brasília, incluindo
os dois, bateram cabeça publicamente. O ministro ofereceu melhoria da cooperação que já existe
entre a Polícia Federal e as polícias
Civil e Militar do Rio e deixou claro que não descarta o envio das
tropas à capital fluminense.
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