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RIO SOB TENSÃO
Após reunião com secretário, ministros voltam a dizer que pedido de tropas federais para combater o tráfico não atende a preceitos legais
Garotinho pode controlar crise, diz governo
Lula Marques/Folha Imagem
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O secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, José Otávio Germano, o ministro Thomaz Bastos (centro) e Garotinho |
IURI DANTAS
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os ministros Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) e José Viegas (Defesa) rejeitaram os termos do ofício apresentado ontem pelo secretário de Segurança Pública do
Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, para que 4.000 homens das
Forças Armadas apóiem o combate ao crime no Estado.
"Não é possível que um governo
[estadual] escolha as coisas que
ele quer, os instrumentos do
Exército, das Forças Armadas. É
uma coisa mais grave, mais normatizada do que essa. Acredito
que esse não é um pedido que
possa ser atendido. Isso não quer
dizer que nós tenhamos descartado essa hipótese", disse Bastos.
Segundo o ministro, os termos
do pedido da governadora do Rio,
Rosinha Matheus (PMDB), não
condizem com os preceitos legais.
"A intervenção, a presença do governo federal, tropas para manter
a lei e a ordem em unidades federativas têm requisitos constitucionais, requisitos de uma lei complementar e de um decreto. Não
se trata deste caso."
Para José Viegas, o pedido não
pode ser aceito da forma como foi
formulado porque, entre outras
coisas, o Estado precisa reconhecer formalmente que sua polícia é
insuficiente para deter a violência.
Viegas disse ainda que, ontem,
o Rio não estava mais em condição emergencial. "A situação hoje
[ontem] é mais calma que a de
ontem [anteontem], e a de ontem,
melhor que a do dia anterior."
Rosinha aceitou oferta
Em Brasília, após reunião pela
manhã com Thomaz Bastos, Garotinho recuou ao analisar a necessidade de apoio das Forças Armadas no patrulhamento do Estado. Disse que a governadora
Rosinha estava apenas aceitando
uma oferta do governo federal.
"Aceitamos aquilo que foi oferecido para que amanhã uma parcela da população não venha acusar a governadora de, tendo sido
oferecido reforço policial a ela, ela
tenha recusado. A governadora
agiu com prudência, inteligência
e responsabilidade."
Pessoalmente, Garotinho se
manifestou contra a atuação do
Exército no combate à violência.
"Minha posição é clara. As Forças
Armadas têm uma função constitucional e só devem ser usadas
nessa função ou em medidas excepcionalistas [sic]", afirmou.
O secretário afirmou que não
houve "impasse" entre o governo
do Rio e o Ministério da Justiça.
"Não houve nenhum impasse
porque o governo federal, com seriedade, ofereceu tropas, e o governo do Rio de Janeiro, com seriedade, aceitou a oferta. Tudo foi
feito em um clima de respeito e de
entendimento", frisou.
Pela manhã, antes de embarcar
para Brasília, em entrevista à rádio CBN, o secretário Garotinho
havia sido um pouco mais enfático em suas declarações.
Afirmou que não compreendera os motivos da recusa de cessão
das tropas federais, quando da visita do secretário nacional de Segurança, no dia anterior.
"Não entendi e fiquei chocado
quando o secretário nacional de
Segurança [Luiz Fernando Corrêa] disse que dava os parabéns
para a polícia do Rio, que tudo estava sob controle e que não havia
necessidade da presença do Exército", disse. "Estão querendo dar
um caráter político que não tem.
O governo federal ofereceu, e o
Estado aceitou. Pronto."
À tarde, em reunião com secretários de Segurança, Garotinho ligou a crise econômica à falta de
dinheiro para a segurança. "O ministro (da Justiça) está refém da
equipe econômica. Ele não fala isso abertamente, mas o contingenciamento das verbas dele é feito
pela equipe econômica", disse.
Ofício
O ofício de Rosinha entregue a
Bastos solicita 4.000 homens, tais
como pára-quedistas e fuzileiros
navais. O secretário fluminense
admitiu a contradição entre sua
opinião e a decisão da governadora, sua mulher. "A governadora
tem uma posição, eu tenho outra.
Mas tenho que cumprir o meu papel de secretário. O governo federal é que decide", afirmou.
Garotinho explicou que o efetivo das Forças Armadas ficaria no
Rio até dezembro, quando um
efetivo de mesmo número que está sendo treinado para formar
uma "força de ocupação" estará
pronto para assumir a função.
Colaborou a Sucursal do Rio
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