São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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RIO SOB TENSÃO

Com o desaparecimento de Lulu, um dos protagonistas da guerra de traficantes na Rocinha, bando rival pode querer voltar à favela

Morte de líder do tráfico deixa polícia alerta

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

ALESSANDRO FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de três dias de ocupação maciça na favela da Rocinha (zona sul do Rio), a polícia informou ter matado na tarde de ontem o traficante Luciano Barbosa da Silva, 27, o Lulu, apontado como chefe do tráfico no morro.
Segundo o comandante do 23º Batalhão da Polícia Militar (Leblon, zona sul), tenente-coronel Jorge Braga, Lulu foi morto com um tiro no abdômen durante um confronto com policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais). Ele estaria escondido em uma casa na rua 1, no alto da favela, e teria reagido.
Segundo Fernando Príncipe, comandante do Bope, a polícia chegou a Lulu por meio de informações do Disque-Denúncia.
Um suposto cúmplice do traficante, identificado como Ronaldo Araújo da Silva, o Didão, também morreu no confronto. Com eles, foram apreendidos dois fuzis, duas pistolas, munição e um cachorro da raça pit bull.
Os corpos foram levados para o hospital Miguel Couto, no Leblon, onde Lulu foi identificado por peritos do Instituto Félix Pacheco. Logo que souberam da morte do principal chefe do tráfico, os comerciantes fecharam as lojas em sinal de luto.
Com as duas mortes, subiu para 12 o número de pessoas assassinadas na Rocinha desde a madrugada de sexta-feira. Na ocasião, traficantes liderados por Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, tentaram invadir a favela para retomar o controle dos pontos de venda de drogas que estavam em poder de Lulu.
A guerra levou a polícia a ocupar a Rocinha com 1.237 homens, a maior ocupação já realizada em favelas fluminenses nos últimos 18 meses. Ontem, 23 pessoas foram presas.

Poder enfraquecido
A morte de Lulu deixou a polícia do Rio em alerta. Segundo a Cinpol (Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil), o poder na Rocinha ficou enfraquecido, o que propiciaria mais uma invasão do bando ligado a Dudu, que tem o apoio da facção criminosa CV (Comando Vermelho).
Dudu era um dos chefes do tráfico na favela até ser preso em 1995. Ele fugiu da cadeia em fevereiro deste ano.
Por ordem dos chefões do Comando Vermelho que estão presos no presídio Bangu 1 (zona oeste do Rio), Dudu teria que assumir de novo o controle da favela quando saísse da cadeia, o que ocorreu em janeiro. Lulu, porém, não obedeceu.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Renato Hottz, afirmou que o policiamento na Rocinha ficará reforçado por tempo indeterminado para evitar manifestações ou novas invasões.
Na manhã de ontem, a Polícia Civil realizou uma operação com 200 homens no morro do Borel (Tijuca, zona norte) após receber informações de que Dudu e parte do seu grupo estaria escondido lá. Ninguém foi encontrado.
Por meio de interceptações telefônicas feitas com autorização judicial, a Cinpol descobriu que Dudu esteve escondido no complexo do Alemão (zona oeste) há poucos dias.
A ascensão de Lulu no tráfico de drogas da Rocinha ocorreu no início desta década. Segundo a polícia, ele sucedeu ao tio, Milton Ferreira da Silva, o Zito.
De acordo com investigações policiais, Lulu era assistencialista com a comunidade e só visava o lucro com o comércio de drogas. Um levantamento da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) indica que a favela arrecada, por mês, cerca de R$ 50 milhões com a venda de drogas.


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