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RIO SOB TENSÃO
Com o desaparecimento de Lulu, um dos protagonistas da guerra de traficantes na Rocinha, bando rival pode querer voltar à favela
Morte de líder do tráfico deixa polícia alerta
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
ALESSANDRO FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Depois de três dias de ocupação
maciça na favela da Rocinha (zona sul do Rio), a polícia informou
ter matado na tarde de ontem o
traficante Luciano Barbosa da Silva, 27, o Lulu, apontado como
chefe do tráfico no morro.
Segundo o comandante do 23º
Batalhão da Polícia Militar (Leblon, zona sul), tenente-coronel
Jorge Braga, Lulu foi morto com
um tiro no abdômen durante um
confronto com policiais militares
do Bope (Batalhão de Operações
Especiais). Ele estaria escondido
em uma casa na rua 1, no alto da
favela, e teria reagido.
Segundo Fernando Príncipe,
comandante do Bope, a polícia
chegou a Lulu por meio de informações do Disque-Denúncia.
Um suposto cúmplice do traficante, identificado como Ronaldo
Araújo da Silva, o Didão, também
morreu no confronto. Com eles,
foram apreendidos dois fuzis,
duas pistolas, munição e um cachorro da raça pit bull.
Os corpos foram levados para o
hospital Miguel Couto, no Leblon,
onde Lulu foi identificado por peritos do Instituto Félix Pacheco.
Logo que souberam da morte do
principal chefe do tráfico, os comerciantes fecharam as lojas em
sinal de luto.
Com as duas mortes, subiu para
12 o número de pessoas assassinadas na Rocinha desde a madrugada de sexta-feira. Na ocasião, traficantes liderados por Eduíno
Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, tentaram invadir a favela para
retomar o controle dos pontos de
venda de drogas que estavam em
poder de Lulu.
A guerra levou a polícia a ocupar a Rocinha com 1.237 homens,
a maior ocupação já realizada em
favelas fluminenses nos últimos
18 meses. Ontem, 23 pessoas foram presas.
Poder enfraquecido
A morte de Lulu deixou a polícia
do Rio em alerta. Segundo a Cinpol (Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil), o poder na
Rocinha ficou enfraquecido, o
que propiciaria mais uma invasão
do bando ligado a Dudu, que tem
o apoio da facção criminosa CV
(Comando Vermelho).
Dudu era um dos chefes do tráfico na favela até ser preso em
1995. Ele fugiu da cadeia em fevereiro deste ano.
Por ordem dos chefões do Comando Vermelho que estão presos no presídio Bangu 1 (zona
oeste do Rio), Dudu teria que assumir de novo o controle da favela quando saísse da cadeia, o que
ocorreu em janeiro. Lulu, porém,
não obedeceu.
O comandante-geral da Polícia
Militar, coronel Renato Hottz,
afirmou que o policiamento na
Rocinha ficará reforçado por tempo indeterminado para evitar manifestações ou novas invasões.
Na manhã de ontem, a Polícia
Civil realizou uma operação com
200 homens no morro do Borel
(Tijuca, zona norte) após receber
informações de que Dudu e parte
do seu grupo estaria escondido lá.
Ninguém foi encontrado.
Por meio de interceptações telefônicas feitas com autorização judicial, a Cinpol descobriu que Dudu esteve escondido no complexo
do Alemão (zona oeste) há poucos dias.
A ascensão de Lulu no tráfico de
drogas da Rocinha ocorreu no
início desta década. Segundo a
polícia, ele sucedeu ao tio, Milton
Ferreira da Silva, o Zito.
De acordo com investigações
policiais, Lulu era assistencialista
com a comunidade e só visava o
lucro com o comércio de drogas.
Um levantamento da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) indica que a favela arrecada,
por mês, cerca de R$ 50 milhões
com a venda de drogas.
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