São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2005

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VIOLÊNCIA

Eslyn, 5, morreu durante tiroteio em favela carioca; Larissa, 9, ficou paraplégica após levar um tiro na Vila Prudente

Balas perdidas atingem meninas no Rio e SP

RAFAEL CARIELLO
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

No Rio de Janeiro, Eslyn da Silva Pires, 5, foi assassinada no final da noite de anteontem. Sua amiga, Vitória Florença da Silva, 6, ficou gravemente ferida. Em São Paulo, um dia antes, a menina Larissa do Nascimento Pereira, 9, ficou paraplégica depois de levar um tiro. Em comum, a violência: as três foram vítimas de balas perdidas.
Segundo a polícia, um tiroteio entre traficantes terminou atingindo Eslyn e Vitória na favela Parada de Lucas (zona norte do Rio). A de cinco anos morreu no final da noite de anteontem ao ser atingida na cabeça por uma bala perdida quando brincava com a amiga em frente à sua casa.
Vitória foi baleada na barriga e está internada em estado grave. O suposto autor dos disparos foi preso ontem à tarde. Em São Paulo, a polícia diz já ter identificado um suspeito (leia texto abaixo).
Moradores e a polícia apresentaram versões diferentes sobre o episódio. Parentes de Eslyn disseram que o tiro foi disparado a esmo por traficantes da vizinha favela de Vigário Geral. Os integrantes de facção criminosa de Vigário Geral estão em disputa por pontos-de-venda com os de Parada de Lucas.
No registro da Polícia Civil e para o comandante do 16º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Celso Nogueira, os tiros que atingiram as duas crianças saíram de um confronto entre os traficantes das duas comunidades entre as 22h30 e as 23h de quarta.
A venda de drogas em Vigário Geral é controlada pela facção criminosa Comando Vermelho, enquanto em Parada de Lucas as bocas-de-fumo pertencem ao grupo rival Terceiro Comando Puro.
Na noite de quarta-feira, Eslyn e Vitória brincavam na rua Vasco da Gama, exatamente na fronteira entre as duas favelas, conhecida como "Vietnã", em alusão ao país asiático que enfrentou uma guerra contra os Estados Unidos no final da década de 1960.
Segundo Simone da Silva Pires, 33, tia de Eslyn, pessoas que presenciaram a menina ser baleada por um tiro de fuzil, por volta das 22h30 de quarta-feira, disseram que os traficantes de Vigário Geral atiraram em direção à favela vizinha, atingindo primeiro Eslyn, com um tiro na cabeça.
A amiga da menina, Vitória, teria corrido para socorrê-la quando também foi atingida pelos mesmos traficantes. Um amigo de Simone, que mora em Vigário Geral e pediu para não ser identificado, afirmou que o autor dos disparos foi o traficante Lulinha, "gerente-geral" do tráfico na favela. Segundo essa testemunha, o traficante estava drogado e atirou propositalmente nas crianças.
Ele também disse que é comum os traficantes da favela atirarem sem alvo definido em direção a Parada de Lucas.
Pela manhã, a PM ocupou Vigário Geral. Houve nova troca de tiros. O traficante Lulinha acabou baleado em uma das pernas, foi preso e levado para o hospital Getúlio Vargas (Penha, zona norte).
Eslyn foi enterrada à tarde no cemitério de Irajá, na zona norte do Rio. Ela tinha acabado de entrar para a escola, e estava sendo alfabetizada em um Ciep de Parada de Lucas. Seu irmão, Dênis, nasceu há apenas dez dias. A mãe, Verônica, é empregada doméstica, e teve os dois filhos com Wagner Pires, que trabalha como mecânico. Os dois, no entanto, se separaram recentemente.
Outra filha de Verônica, Evelyn, morreu em 2002, quando tinha três anos de idade. De acordo com Simone, a filha mais velha de sua irmã morreu por "problemas de saúde".
Ela e Verônica moram em Parada de Lucas desde a infância, quando seus pais se mudaram do interior do Estado para o Rio. Questionada sobre o que sentia com a morte da sobrinha, e se responsabilizava alguém pelo fato, ela respondeu: "A gente mora nesses lugares, é assim mesmo. Tem que ter cuidado. O negócio é assim mesmo".


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