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VIOLÊNCIA
Eslyn, 5, morreu durante tiroteio em favela carioca; Larissa, 9, ficou paraplégica após levar um tiro na Vila Prudente
Balas perdidas atingem meninas no Rio e SP
RAFAEL CARIELLO
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
No Rio de Janeiro, Eslyn da Silva
Pires, 5, foi assassinada no final da
noite de anteontem. Sua amiga,
Vitória Florença da Silva, 6, ficou
gravemente ferida. Em São Paulo,
um dia antes, a menina Larissa do
Nascimento Pereira, 9, ficou paraplégica depois de levar um tiro.
Em comum, a violência: as três foram vítimas de balas perdidas.
Segundo a polícia, um tiroteio
entre traficantes terminou atingindo Eslyn e Vitória na favela Parada de Lucas (zona norte do
Rio). A de cinco anos morreu no
final da noite de anteontem ao ser
atingida na cabeça por uma bala
perdida quando brincava com a
amiga em frente à sua casa.
Vitória foi baleada na barriga e
está internada em estado grave. O
suposto autor dos disparos foi
preso ontem à tarde. Em São Paulo, a polícia diz já ter identificado
um suspeito (leia texto abaixo).
Moradores e a polícia apresentaram versões diferentes sobre o
episódio. Parentes de Eslyn disseram que o tiro foi disparado a esmo por traficantes da vizinha favela de Vigário Geral. Os integrantes de facção criminosa de
Vigário Geral estão em disputa
por pontos-de-venda com os de
Parada de Lucas.
No registro da Polícia Civil e para o comandante do 16º Batalhão
da Polícia Militar, tenente-coronel Celso Nogueira, os tiros que
atingiram as duas crianças saíram
de um confronto entre os traficantes das duas comunidades entre as 22h30 e as 23h de quarta.
A venda de drogas em Vigário
Geral é controlada pela facção criminosa Comando Vermelho, enquanto em Parada de Lucas as bocas-de-fumo pertencem ao grupo
rival Terceiro Comando Puro.
Na noite de quarta-feira, Eslyn e
Vitória brincavam na rua Vasco
da Gama, exatamente na fronteira
entre as duas favelas, conhecida
como "Vietnã", em alusão ao país
asiático que enfrentou uma guerra contra os Estados Unidos no final da década de 1960.
Segundo Simone da Silva Pires,
33, tia de Eslyn, pessoas que presenciaram a menina ser baleada
por um tiro de fuzil, por volta das
22h30 de quarta-feira, disseram
que os traficantes de Vigário Geral atiraram em direção à favela
vizinha, atingindo primeiro
Eslyn, com um tiro na cabeça.
A amiga da menina, Vitória, teria corrido para socorrê-la quando também foi atingida pelos
mesmos traficantes. Um amigo
de Simone, que mora em Vigário
Geral e pediu para não ser identificado, afirmou que o autor dos
disparos foi o traficante Lulinha,
"gerente-geral" do tráfico na favela. Segundo essa testemunha, o
traficante estava drogado e atirou
propositalmente nas crianças.
Ele também disse que é comum
os traficantes da favela atirarem
sem alvo definido em direção a
Parada de Lucas.
Pela manhã, a PM ocupou Vigário Geral. Houve nova troca de tiros. O traficante Lulinha acabou
baleado em uma das pernas, foi
preso e levado para o hospital Getúlio Vargas (Penha, zona norte).
Eslyn foi enterrada à tarde no
cemitério de Irajá, na zona norte
do Rio. Ela tinha acabado de entrar para a escola, e estava sendo
alfabetizada em um Ciep de Parada de Lucas. Seu irmão, Dênis,
nasceu há apenas dez dias. A mãe,
Verônica, é empregada doméstica, e teve os dois filhos com Wagner Pires, que trabalha como mecânico. Os dois, no entanto, se separaram recentemente.
Outra filha de Verônica, Evelyn,
morreu em 2002, quando tinha
três anos de idade. De acordo com
Simone, a filha mais velha de sua
irmã morreu por "problemas de
saúde".
Ela e Verônica moram em Parada de Lucas desde a infância,
quando seus pais se mudaram do
interior do Estado para o Rio.
Questionada sobre o que sentia
com a morte da sobrinha, e se responsabilizava alguém pelo fato,
ela respondeu: "A gente mora
nesses lugares, é assim mesmo.
Tem que ter cuidado. O negócio é
assim mesmo".
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