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DENGUE
Ex-ministro diz que texto de 95 já alertava para uma explosão da doença; FHC participou de reunião em 96
Governo sabia da epidemia, afirma Jatene
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
O governo sabia que o surto de
dengue explodiria se medidas de
erradicação do mosquito Aedes
aegypti não fossem adotadas. A
afirmação foi feita pelo cirurgião e
ex-ministro da Saúde Adib Jatene.
Para ele, a dengue era uma epidemia anunciada e poderia ser evitada. Seu combate era uma prioridade de governo de Fernando
Henrique Cardoso.
Jatene estava à frente do ministério quando foi elaborado o Plano
Diretor de Erradicação do Aedes
aegypti (PEA), em dezembro de
1995 e início de 1996. "No texto de
introdução do plano, já estava
previsto que a epidemia aconteceria se nada fosse feito", afirma.
O plano foi debatido e aprovado
em março do ano seguinte em reunião ministerial presidida pelo
presidente da República. A médica
sanitarista Fabíola Aguiar Nunes,
que estava à frente do programa e
do Conselho Nacional de Saúde,
disse que o presidente participou
das discussões com os ministros e
que saiu informado da gravidade
da situação. "Aprovou-se um plano interministerial e Jatene passou
a presidi-lo", disse Fabíola.
Segundo a médica, FHC teria dedicado um dos programas da Radiobrás, de meados de 96, à epidemia da dengue. "O presidente prometeu que acabaria com a doença
até o final de seu mandato e que
deixaria em andamento o plano de
erradicação do mosquito."
Adib Jatene deixou o governo
em novembro de 1996 por não
concordar com a redução das verbas destinadas ao ministério. "Em
março de 1997 seria lançada a
campanha para começar a erradicação em todo o país", afirmou o
ex-ministro. "Mas, com o esquema financeiro previsto para 1997,
o plano estava inviabilizado."
Jatene disse acreditar que, apesar do atraso, o surto da dengue
estará sob controle. "O ministro
José Serra certamente conseguirá
mobilizar os recursos necessários
e a doença será controlada. Mas é
certo que a epidemia poderia ter
sido evitada." O ex-ministro disse
não ter condições de estimar
quanto o país gastará com as vítimas da doença.
Em dezembro de 1995, quando o
plano começou a ser montado, tinham sido registrados 127,3 mil
casos da doença. Em dezembro do
ano passado, eram 254,1 mil.
O ex-ministro lembrou que a
dengue estava entre as três preocupações que o levaram a pedir a
criação da CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira). As outras eram a
mortalidade infantil e a malária.
Carlos Albuquerque, que substituiu Jatene, cortou pela metade os
recursos destinados ao combate à
dengue e reduziu o plano de erradicação -que estava subordinado
diretamente ao ministro- a um
simples programa dentro da Fundação Nacional da Saúde.
A decisão de se erradicar o Aedes
aegypti foi tomada no final de 95
numa reunião do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão que deve nortear as políticas de saúde.
"Estava claro que a dengue não
era um problema apenas da Saúde, mas de vários outros ministérios", afirma Fabíola Nunes. "Era
preciso uma decisão política e
ações sincronizadas em todos os
Estados, além de uma estratégia
continental."
O custo de todo o plano, incluindo obras de saneamento, estava
estimado em R$ 4,5 bilhões.
O plano elaborado a partir de
então foi considerado exemplar
pela própria Opas (Organização
Panamericana da Saúde). Graças
às intervenções do Brasil, a estratégia de erradicação foi adotada
em toda a América Latina. "Nós
conseguimos o que parecia impossível, mas paramos no meio do
caminho", disse Fabíola. "O Brasil
precisa retomar seu programa e
seu papel no continente."
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