São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2001

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TRANSPORTES

Grevistas falam que muitas quebras foram promovidas por perueiros; 500 mil pessoas ficam sem transporte

Motoristas do DF depredam 156 veículos

Kleber Lima/CBPress
Policiais fazem revista em passageiros de ônibus clandestino na cidade-satélite de Cinelândia na tentativa de identificar possíveis envolvidos com as depredações


LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em menos de 24 horas, a greve dos motoristas de ônibus em Brasília, considerada a mais violenta dos últimos anos, deixou 156 veículos depredados e 500 mil pessoas sem transporte ontem.
A informação é da Secretaria da Segurança do Distrito Federal. Oficialmente, duas pessoas ficaram feridas com estilhaços de vidro, mas vans e peruas que faziam o transporte alternativo ontem de manhã, autorizado de forma emergencial pelo Departamento Metropolitano de Transportes Urbanos, também foram depredadas e passageiros se feriram.
Desde as 20h de anteontem, grevistas fizeram piquetes em vários pontos de Brasília. Eles atiravam pedras, esferas de aço e bolas de gude nos vidros de veículos em movimento. "Fiquei assustada. Fazer greve tudo bem, mas atingir gente que não está envolvida não pode", disse a doméstica Madalena Barbosa, que ficou com o braço ferido por cacos de vidro quando era transportada em uma van. Segundo ela, homens escondidos num matagal atiraram pedras no veículo em movimento. Os pedaços de vidro deixaram também um rapaz gravemente ferido.
Segundo o sindicato da categoria, a adesão à greve foi de 100% ontem. Já o sindicato das empresas informou que a adesão foi de 94% dos 10 mil funcionários.
Os trabalhadores reivindicam a renovação de um acordo coletivo, que venceu no mês passado, além de reposição salarial de 6,8% e um reajuste de 10% (veja quadro).
Anteontem à noite, após a assembléia dos rodoviários que decidiu pela greve, os grevistas começaram a apedrejar os ônibus que ainda circulavam e tentaram incendiar um deles na rodoviária -ponto de parada de várias linhas urbanas e interurbanas.
Apesar de a secretaria ter divulgado que 156 veículos foram depredados, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo e de Passageiros do DF, Wagner Canhedo Filho, informou que mais de 70 carros sofreram danos e aproximadamente 400 vidros foram quebrados.
Após o cancelamento de uma audiência de conciliação no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), que aconteceria no início da tarde, mais veículos alternativos foram apedrejados. Um vidro do prédio do TRT foi quebrado.
Segundo o sindicato dos rodoviários, a violência é promovida por "perueiros infiltrados na manifestação". "O governo não senta com a gente para resolver o problema", disse Lúcio Lima, diretor de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviário do DF. Uma nova reunião foi marcada para amanhã devido à ausência de um representante do governo.
Segundo Canhedo, 150 funcionários do primeiro turno de trabalho foram demitidos ontem em consequência da greve. A previsão é que a greve continue hoje.
Segundo ele, a maior parte das reivindicações dos funcionários faz parte do acordo coletivo, que venceu no mês passado. "Não vamos oferecer nada. O acordo só tinha validade de um ano." As reivindicações salariais também não devem ser atendidas. "É impossível dar os aumentos e reajustes devido à queda de 30% na receita das empresas, causada pela pirataria [clandestino"", disse.


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