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DIREITOS HUMANOS
Entidades participam de encontro em SP
Brasil é criticado por tortura e elogiado por política anti-Aids
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os contrastes brasileiros, tradicionalmente concentrados nos
setores social e econômico, estão
migrando para a área de direitos
humanos.
De um lado, organismos internacionais condenam o país pela
prática da tortura sistemática, cometida contra a população dos
distritos policiais e das cadeias.
De outro, citam como um dos
principais avanços nessa área o
fato de o governo ter incluído a
saúde no rol de direitos humanos,
ameaçando quebrar patentes de
medicamentos para Aids.
A pressão brasileira sobre os laboratórios reduziu o preço de
dois remédios -Efavirenz (da
Merck Sharp & Dohme) e Indinavir (da Merck)- consumidos
diariamente pelos doentes. A decisão repercutiu na África, onde
concentra-se a maior parte dos
doentes de Aids do mundo.
"A atitude do Brasil foi simbólica para a construção da chamada
justiça econômica", afirma Paulo
Martin, diretor do Departamento
de Direitos Humanos da Universidade de Columbia, em Nova
York, um dos mais importantes
centros de pesquisa do mundo
nessa área.
Segundo Martin, que participa
em São Paulo do 1º Colóquio
Anual de Direitos Humanos, um
dos grandes desafios das instituições que atuam na área (incluindo organizações do terceiro setor
e universidades) é trabalhar pela
construção da chamada "justiça
econômica".
"Quando o lucro fere os direitos
humanos, é hora de racionalizar a
margem desses ganhos", diz Martin. Um exemplo é o preço da
água potável, segundo ele exorbitante, em alguns países da África e
da América do Sul.
Na África, o litro da água potável chega a custar US$ 1,50. Na
Venezuela, diz Martin, custa o dobro do valor do litro da gasolina.
"Um gênero de primeira necessidade não pode ser tratado como
um commodity", disse.
O professor Paulo Sérgio Pinheiro, da Universidade de São
Paulo, afirma que os protestos feitos em Davos (Suíça), Seatle
(EUA) e Porto Alegre mostram
que a sociedade está organizada
para protestar contra a formação
de blocos econômicos que agravem a exclusão social.
Situação crítica
Enquanto o Brasil está se consolidando como uma força internacional importante na relação entre saúde e direitos humanos, na
esfera policial a situação continua
crítica, como mostra o relatório
da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em abril.
De acordo com um relatório feito pela instituição européia Freedom House, apresentado ontem
no encontro, 156.509 pessoas foram assassinadas no Brasil entre
1995 e 1998.
Só para comparar, a guerra do
Curdistão, no Iraque, matou, entre 1961 e 2000, 120 mil pessoas.
Ou seja: mesmo sem guerra, entre 1995 e 1998, 39.127 brasileiros
morreram a cada ano em razão da
violência. No Curdistão, o número de vítimas por ano foi de 3.076.
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