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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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RIO

Cúpula da Segurança Pública conclui que tiro na Estácio de Sá não foi dado por traficante; imagens de vídeo foram suprimidas

Para secretaria, policial atirou em aluna

MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES

DA SUCURSAL DO RIO

O tiro que feriu gravemente a estudante Luciana Gonçalves Novaes, 19, na Universidade Estácio de Sá foi disparado por um policial que estava dentro do campus do Rio Comprido (zona norte do Rio). A conclusão é da cúpula da Secretaria de Segurança Pública, a partir de informações coletadas pelos responsáveis pelo inquérito.
O policial responsável pelo tiro não havia sido identificado até a conclusão desta edição. A secretaria também não sabe se ele trabalha na Polícia Civil ou na PM (Polícia Militar).
A apuração aponta que o policial vestia roupas civis e baleou a estudante por engano. Ele, de acordo com as investigações, tentava atirar em um traficante do morro do Turano que, armado, invadira o campus.
A secretaria suspeita que o policial esteja sendo protegido pelos encarregados do esquema de segurança do campus.
A suspeita sobre o acobertamento do autor do disparo foi consolidada ontem, com a descoberta pela Polícia Civil de que pelo menos dez minutos de imagens gravadas pelo circuito de câmeras internas do campus foram suprimidos dos discos rígidos entregues à DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).
Os discos armazenam as imagens. As que sumiram incluem justamente o momento em que a estudante foi baleada.
Para os investigadores, existe apenas uma razão para as fitas terem sido adulteradas: elas mostram quem atirou.
A nova suspeita em relação ao caso surge quase dez dias depois de o crime ter ocorrido, na manhã do dia 5. No início, o governo do Rio de Janeiro acreditava que o tiro havia sido disparado por traficantes do morro do Turano, em represália ao fato de a faculdade não ter atendido a ordem de suspender as atividades.

Dúvida
Uma outra dúvida persistia até o início da noite. Os investigadores não sabiam se o policial estava no campus como integrante do esquema de segurança da universidade ou investigando a venda de drogas dentro do campus.
De acordo com a apuração policial, emissários do tráfico do Turano vendiam cocaína e maconha no campus, principalmente na área próxima ao ponto onde a aluna foi baleada.
O chefe da Polícia Civil, Álvaro Lins, disse que o desaparecimento das imagens, feitas pelas câmeras móveis do circuito de TV do campus, foi uma "manobra grosseira e infantil" e uma "tentativa de preservar a atividade de segurança do local que poderia estar sendo feita de maneira irregular". "Pode ser uma tentativa de esconder quem disparou o tiro", afirmou o chefe da Polícia Civil.
Um dos trechos suprimidos corresponde ao período de 9h42 a 9h47 do dia 5, quando a universitária foi baleada. As imagens, em vez de registrarem o que ocorreu durante esses cinco minutos, repetem os cinco minutos anteriores (9h37 a 9h42), quando nada acontecera no local.
O titular da DRE, delegado Luiz Alberto de Andrade, acompanhado do promotor estadual Márcio Nobre e do vice-diretor do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, Hugo Monteiro, esteve na universidade à tarde para pedir as imagens que foram adulteradas.
Eles ficaram reunidos por cerca de três horas com diretores da universidade. Andrade não falou ao sair do encontro. A Folha apurou que os policiais deixaram o local levando sete fitas de vídeo com imagens gravadas pelas câmeras do circuito interno.
À noite, a Polícia Civil informou que mais duas fitas com imagens da universidade sumiram. Segundo a polícia, as fitas continham imagens feitas da sala do operador das câmeras de segurança e de uma tela que reunia as filmagens de todas as câmeras.
Lins deu um prazo até hoje para que apareçam as imagens suprimidas. Caso contrário, disse que indiciará os diretores da universidade e da empresa Telesegurança -responsável pelas câmeras- por fraude processual, cuja pena é de até quatro anos de reclusão.
A direção da Estácio informou que só vai se pronunciar após a conclusão do inquérito.
A Folha ligou duas vezes para a Telesegurança, mas nenhum diretor quis falar sobre o caso. À noite, a polícia interditou a empresa por 30 dias.

Avaliação neurológica
Luciana Novaes deverá ser submetida a avaliações neurológicas até o fim desta semana. Ela continua respirando com a ajuda de aparelhos e não apresenta atividades motoras.
A bala atingiu a sua medula. A universitária corre o risco de ficar tetraplégica.


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