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RIO
Cúpula da Segurança Pública conclui que tiro na Estácio de Sá não foi dado por traficante; imagens de vídeo foram suprimidas
Para secretaria, policial atirou em aluna
MARIO HUGO MONKEN
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O tiro que feriu gravemente a estudante Luciana Gonçalves Novaes, 19, na Universidade Estácio
de Sá foi disparado por um policial que estava dentro do campus
do Rio Comprido (zona norte do
Rio). A conclusão é da cúpula da
Secretaria de Segurança Pública, a
partir de informações coletadas
pelos responsáveis pelo inquérito.
O policial responsável pelo tiro
não havia sido identificado até a
conclusão desta edição. A secretaria também não sabe se ele trabalha na Polícia Civil ou na PM (Polícia Militar).
A apuração aponta que o policial vestia roupas civis e baleou a
estudante por engano. Ele, de
acordo com as investigações, tentava atirar em um traficante do
morro do Turano que, armado,
invadira o campus.
A secretaria suspeita que o policial esteja sendo protegido pelos
encarregados do esquema de segurança do campus.
A suspeita sobre o acobertamento do autor do disparo foi
consolidada ontem, com a descoberta pela Polícia Civil de que pelo
menos dez minutos de imagens
gravadas pelo circuito de câmeras
internas do campus foram suprimidos dos discos rígidos entregues à DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes).
Os discos armazenam as imagens. As que sumiram incluem
justamente o momento em que a
estudante foi baleada.
Para os investigadores, existe
apenas uma razão para as fitas terem sido adulteradas: elas mostram quem atirou.
A nova suspeita em relação ao
caso surge quase dez dias depois
de o crime ter ocorrido, na manhã
do dia 5. No início, o governo do
Rio de Janeiro acreditava que o tiro havia sido disparado por traficantes do morro do Turano, em
represália ao fato de a faculdade
não ter atendido a ordem de suspender as atividades.
Dúvida
Uma outra dúvida persistia até
o início da noite. Os investigadores não sabiam se o policial estava
no campus como integrante do
esquema de segurança da universidade ou investigando a venda de
drogas dentro do campus.
De acordo com a apuração policial, emissários do tráfico do Turano vendiam cocaína e maconha
no campus, principalmente na
área próxima ao ponto onde a
aluna foi baleada.
O chefe da Polícia Civil, Álvaro
Lins, disse que o desaparecimento
das imagens, feitas pelas câmeras
móveis do circuito de TV do campus, foi uma "manobra grosseira
e infantil" e uma "tentativa de
preservar a atividade de segurança do local que poderia estar sendo feita de maneira irregular".
"Pode ser uma tentativa de esconder quem disparou o tiro", afirmou o chefe da Polícia Civil.
Um dos trechos suprimidos
corresponde ao período de 9h42 a
9h47 do dia 5, quando a universitária foi baleada. As imagens, em
vez de registrarem o que ocorreu
durante esses cinco minutos, repetem os cinco minutos anteriores (9h37 a 9h42), quando nada
acontecera no local.
O titular da DRE, delegado Luiz
Alberto de Andrade, acompanhado do promotor estadual Márcio
Nobre e do vice-diretor do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, Hugo Monteiro, esteve na universidade à tarde para pedir as
imagens que foram adulteradas.
Eles ficaram reunidos por cerca
de três horas com diretores da
universidade. Andrade não falou
ao sair do encontro. A Folha apurou que os policiais deixaram o
local levando sete fitas de vídeo
com imagens gravadas pelas câmeras do circuito interno.
À noite, a Polícia Civil informou
que mais duas fitas com imagens
da universidade sumiram. Segundo a polícia, as fitas continham
imagens feitas da sala do operador das câmeras de segurança e
de uma tela que reunia as filmagens de todas as câmeras.
Lins deu um prazo até hoje para
que apareçam as imagens suprimidas. Caso contrário, disse que
indiciará os diretores da universidade e da empresa Telesegurança
-responsável pelas câmeras-
por fraude processual, cuja pena é
de até quatro anos de reclusão.
A direção da Estácio informou
que só vai se pronunciar após a
conclusão do inquérito.
A Folha ligou duas vezes para a
Telesegurança, mas nenhum diretor quis falar sobre o caso. À
noite, a polícia interditou a empresa por 30 dias.
Avaliação neurológica
Luciana Novaes deverá ser submetida a avaliações neurológicas
até o fim desta semana. Ela continua respirando com a ajuda de
aparelhos e não apresenta atividades motoras.
A bala atingiu a sua medula. A
universitária corre o risco de ficar
tetraplégica.
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