São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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21 acusados de fraudar vestibular são afastados de curso

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

Mais da metade da primeira turma de 40 alunos do curso de medicina da Ufac (Universidade Federal do Acre) foi impedida ontem pela Justiça Federal de freqüentar as aulas. Pela acusação do Ministério Público Federal, 21 alunos, que tiveram suas matrículas canceladas, participaram de uma fraude para burlar o vestibular de julho de 2002.
Depois de uma investigação da Polícia Federal, que partiu de uma denúncia anônima, constatou-se que 21 aprovados no concurso de 2002, o primeiro do curso, acertaram e erraram exatamente as mesmas questões na prova objetiva e tiveram resultado muito superior aos outros 19 aprovados. Eles conseguiram acertar 87,5% do teste, que tinha 125 questões.
Na segunda fase do exame, que consistia na elaboração de uma redação, o desempenho do grupo foi pífio. Com nota máxima de 30 pontos, nenhum deles conseguiu resultado superior a 13 pontos.
Outro aspecto levantado pelos policiais foi que 11 dos 21 alunos eram estudantes de medicina na Bolívia, onde não há processo seletivo, havia dois anos. Mesmo assim, os alunos, todos brasileiros, optaram pelo inglês na prova de língua estrangeira. Eles obtiveram a mesma pontuação.
O procurador Marcos Vinicius Aguiar Macedo, que entrou com a ação civil pública, ouviu depoimentos de professores do curso de medicina que relataram que os estudantes suspeitos "apresentam elevado desnível intelectual em relação aos demais".
A PF ainda está apurando os responsáveis pela origem da fraude. Duas hipóteses estão sendo investigadas: ou foram usados dispositivos eletrônicos para passar as respostas aos alunos (um dos equipamentos foi entregue para a polícia por um candidato que foi aliciado pelo esquema, mas desistiu) ou o gabarito foi comprado.
"Cumprimos a determinação da Justiça. Os alunos foram retirados da sala de aula, suspensos de todas as atividades acadêmicas e tiveram a matrícula cancelada. Nem a rotina da universidade nem a do curso foram alteradas. As evidências da fraude que foram levantadas, até agora, não envolvem pessoas que são ligadas à universidade, mas uma quadrilha externa que usou mecanismos sofisticados para burlar o vestibular", afirmou o reitor da Ufac, Jonas Pereira de Souza Filho.
A decisão da Justiça Federal é em caráter liminar e cabe recurso. Em caso de uma condenação definitiva, o grupo poderá ter de arcar, se for acatada sugestão da Procuradoria da República, com uma multa de R$ 10 milhões. "Eles terão de pagar pelos custos que a universidade teve durante a permanência deles no curso de medicina", disse o procurador.
O advogado Leonardo Ferreira Lima, que defende 19 dos 21 alunos, disse que vai entrar com um agravo de instrumento no Tribunal Regional Federal, em Brasília, para tentar suspender o afastamento de seus clientes das aulas.
"Nos depoimentos, todos negaram peremptoriamente a participação em qualquer tipo de fraude. Até onde sei, uma perícia já teria comprovado que não houve fraude eletrônica", disse Lima.
Segundo o advogado, os seus clientes não tiveram acesso aos documentos reunidos pelo Ministério Público Federal nem foram indiciados pela PF. "Eles ainda não tiveram nenhum direito à defesa antes de serem afastados. Só me cabe recorrer ao TRF."


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