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21 acusados de fraudar vestibular são afastados de curso
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA
Mais da metade da primeira turma de 40 alunos do curso de medicina da Ufac (Universidade Federal do Acre) foi impedida ontem pela Justiça Federal de freqüentar as aulas. Pela acusação do
Ministério Público Federal, 21
alunos, que tiveram suas matrículas canceladas, participaram de
uma fraude para burlar o vestibular de julho de 2002.
Depois de uma investigação da
Polícia Federal, que partiu de uma
denúncia anônima, constatou-se
que 21 aprovados no concurso de
2002, o primeiro do curso, acertaram e erraram exatamente as
mesmas questões na prova objetiva e tiveram resultado muito superior aos outros 19 aprovados.
Eles conseguiram acertar 87,5%
do teste, que tinha 125 questões.
Na segunda fase do exame, que
consistia na elaboração de uma
redação, o desempenho do grupo
foi pífio. Com nota máxima de 30
pontos, nenhum deles conseguiu
resultado superior a 13 pontos.
Outro aspecto levantado pelos
policiais foi que 11 dos 21 alunos
eram estudantes de medicina na
Bolívia, onde não há processo seletivo, havia dois anos. Mesmo assim, os alunos, todos brasileiros,
optaram pelo inglês na prova de
língua estrangeira. Eles obtiveram
a mesma pontuação.
O procurador Marcos Vinicius
Aguiar Macedo, que entrou com a
ação civil pública, ouviu depoimentos de professores do curso
de medicina que relataram que os
estudantes suspeitos "apresentam elevado desnível intelectual
em relação aos demais".
A PF ainda está apurando os
responsáveis pela origem da fraude. Duas hipóteses estão sendo investigadas: ou foram usados dispositivos eletrônicos para passar
as respostas aos alunos (um dos
equipamentos foi entregue para a
polícia por um candidato que foi
aliciado pelo esquema, mas desistiu) ou o gabarito foi comprado.
"Cumprimos a determinação
da Justiça. Os alunos foram retirados da sala de aula, suspensos de
todas as atividades acadêmicas e
tiveram a matrícula cancelada.
Nem a rotina da universidade
nem a do curso foram alteradas.
As evidências da fraude que foram levantadas, até agora, não envolvem pessoas que são ligadas à
universidade, mas uma quadrilha
externa que usou mecanismos sofisticados para burlar o vestibular", afirmou o reitor da Ufac, Jonas Pereira de Souza Filho.
A decisão da Justiça Federal é
em caráter liminar e cabe recurso.
Em caso de uma condenação definitiva, o grupo poderá ter de arcar, se for acatada sugestão da
Procuradoria da República, com
uma multa de R$ 10 milhões.
"Eles terão de pagar pelos custos
que a universidade teve durante a
permanência deles no curso de
medicina", disse o procurador.
O advogado Leonardo Ferreira
Lima, que defende 19 dos 21 alunos, disse que vai entrar com um
agravo de instrumento no Tribunal Regional Federal, em Brasília,
para tentar suspender o afastamento de seus clientes das aulas.
"Nos depoimentos, todos negaram peremptoriamente a participação em qualquer tipo de fraude.
Até onde sei, uma perícia já teria
comprovado que não houve fraude eletrônica", disse Lima.
Segundo o advogado, os seus
clientes não tiveram acesso aos
documentos reunidos pelo Ministério Público Federal nem foram
indiciados pela PF. "Eles ainda
não tiveram nenhum direito à defesa antes de serem afastados. Só
me cabe recorrer ao TRF."
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