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EDUCAÇÃO
Segundo especialistas, proposta fará classe média buscar colégios do Estado para facilitar acesso à universidade
Cotas vão estimular corrida à escola pública
Patrícia Santos - 06.jan.2003/Folha Imagem
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Candidatos durante a prova da Fuvest no prédio da Politécnica/ USP |
LAURA CAPRIGLIONE
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
O projeto de lei, anunciado anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prevê a reserva de 50% das vagas das instituições federais de ensino superior para alunos que cursaram o
ensino médio na rede pública vai
estimular uma corrida da classe
média às escolas públicas do país.
É essa a análise de especialistas
ouvidos pela Folha, entre eles, o
ex-ministro da Educação Cristovam Buarque e o coordenador do
Núcleo de Apoio aos Estudos de
Graduação da Universidade de
São Paulo (Naeg-USP), o professor Adilson Simonis, do Instituto
de Matemática e Estatística.
Dados do Exame Nacional de
Cursos mostram que 41,8% dos
estudantes que entram todos os
anos nas instituições federais de
ensino superior já são oriundos
do ensino médio público.
Com a medida proposta pelo
governo, esse percentual aumentará em 8,2 pontos, até atingir a
cota de 50% das vagas. Segundo o
Censo Escolar, em 2002, as instituições federais de ensino superior ofereceram 106.320 vagas para processo seletivo.
De uma penada, portanto, serão
abertas cerca de 9.000 vagas a formandos do ensino médio público. "É como se fosse criada uma
nova USP, só para estudantes de
escolas públicas", diz o professor
Simonis, lembrando que a USP
admite 8.500 calouros a cada ano.
De outro lado, para os egressos do
ensino particular, é como se toda
uma USP desaparecesse.
Concorridos
O principal atrativo para a migração da classe média rumo à escola pública, no entanto, é que as
novas vagas se concentrarão nos
cursos mais concorridos, aqueles
em que o número de candidatos
por vaga é maior e nos quais os estudantes das escolas públicas,
quando existem, são exceções.
Em cursos pouco concorridos,
como letras, geografia ou licenciatura, o percentual de estudantes
provenientes de escolas públicas
já é próximo ou superior a 50%. O
projeto do governo, portanto,
pouco mudará a realidade dessas
faculdades.
Nos cursos mais disputados,
aqueles que oferecem possibilidades de profissionalização maior,
com melhores padrões de remuneração, o projeto do governo
tem um forte impacto.
Exemplos de escolas nessas
condições são medicina, engenharia, computação e jornalismo.
Para os alunos egressos do ensino médio privado, as vagas em
disputa nessas escolas, com a medida, caem pela metade. Aumentarão, portanto, as notas para passar no vestibular.
Já se sabe que, num primeiro
momento, os 50% restantes, sendo reservados para egressos da escola pública, terão notas bem
mais baixas, já que a escola pública tem performance educacional
inferior à das particulares, segundo o Ministério da Educação.
Se a USP adotasse a cota de 50%,
numa simulação feita pelo Naeg,
entrariam em medicina calouros
com pontuação 54% menor do
que a atualmente exigida.
Na Faculdade de Direito, poderiam entrar alunos com pontuação também 54% menor. Detalhe:
o novo estudante começaria o
curso, mesmo que cravasse nota
zero em português ou história.
Isso significa, na prática, que
uma classe de calouros terá alunos superqualificados ao lado de
outros menos preparados.
Repercussão
Simonis acha que a cota, tal como proposta pelo governo federal, só terá chances de sucesso se
vier acompanhada de outras medidas, destinadas a evitar que alunos provenientes das escolas públicas acabem abandonando a faculdade, por não conseguir acompanhar as aulas.
"O governo federal terá de cuidar de uma demanda extra por
moradia, alimentação, transporte
e material didático, já que os alunos da escola pública também são
mais carentes do que os da escola
particular", lembra Simonis.
Otimista, o ex-ministro da Educação Cristovam Buarque acredita ser provisório o desnível entre
estudantes que entrarem na universidade pela cota e os demais.
"A grande vantagem do projeto é
que teremos a classe média se deslocando para a escola pública. Isso vai prestigiá-la. Essa "nova"
clientela vai exigir mais qualidade
de ensino", avalia. Para ele, "é
uma iniciativa para reduzir a exclusão educacional".
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