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Policial vive na rua para descobrir assassinos
Agente infiltrou-se em grupo de catadores de papel por nove dias para encontrar quem matou morador de rua no Rio
A morte ocorreu depois de uma briga, iniciada quando o homem que confessou o crime negou um cigarro à vítima no dia 17 de abril
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Um policial viveu infiltrado
como morador de rua por nove
dias, na comunidade de catadores de papel do centro do Rio,
para descobrir os três assassinos do também morador de rua
João Belisário de Aquino, 53.
Aquino foi morto a pauladas
em 17 de abril, enquanto dormia próximo ao prédio do Ministério Público Federal. A
ação dos assassinos foi filmada
por uma câmera de segurança.
"Estou passando na rua e vejo o cara que me ameaçou, dormindo. Tinha medo de ele me
matar. Pensei: antes de eu morrer, vou matar ele [sic]." Assim,
tranqüilo e arrependido, Claudovan Cavalcanti da Silva, o
Cláudio, 36, contou à Folha como matou com quatro pauladas Aquino, também catador.
A morte ocorreu depois de
uma briga, iniciada quando
Cláudio negou um cigarro a
Aquino. "Ele me mandou enfiar o cigarro não sei onde e
ameaçou: "Não dá mole que vou
te pegar". Cruzei com ele outra
vez e ele falou que minha mãe
ia chorar antes da dele."
O catador relatou que dormia ao lado de uma cabine da
PM e se escondia na rua, com
medo de ser morto. "Ele [Aquino] era o "dono do pedaço". Na
hora, ele estava dormindo, não
reagiu. Depois [do crime], fiquei aliviado", disse Cláudio.
Os outros dois acusados, José Arimatéia Soares, 28, e Sérgio Rodrigues Fróes, 34, catavam papel com Cláudio na hora
do crime. Fróes ainda voltou e
deu uma paulada em Aquino.
"[Eu] estava cheio de cachaça na mente", disse Fróes. Soares apenas observou a cena,
mas será incluído como cúmplice no processo.
Infiltrado
O agente da 17ª DP (São Cristóvão) camuflou-se entre moradores de rua e levou poucos
dias para descobrir o primeiro
nome dos criminosos.
"Ele [o policial] virou um morador de rua... Morou, comeu e
dormiu com os moradores de
rua, para se associar a eles. No
último dia, juntou-se aos três
para dormir no mesmo albergue. Aí nos avisou e os acordamos: polícia", contou o chefe de
investigação da delegacia, inspetor Marco Antônio Carvalho.
O agente infiltrado não deu entrevista nem teve o seu nome
revelado.
Com "20 anos de carteira assinada", o alagoano Cláudio
-que admitiu ter matado o rival- já foi encanador, eletricista, ajudante de armazém de bebidas e, desde segunda-feira,
trabalhava como pedreiro em
uma obra, recebendo R$ 895.
"Tenho que pagar pelo que
fiz. Errei, um erro que não poderia ter cometido. Trabalhei
20 anos com carteira assinada,
nunca roubei ninguém nem fui
preso. É a primeira vez que mato", disse.
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