São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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Policial vive na rua para descobrir assassinos

Agente infiltrou-se em grupo de catadores de papel por nove dias para encontrar quem matou morador de rua no Rio

A morte ocorreu depois de uma briga, iniciada quando o homem que confessou o crime negou um cigarro à vítima no dia 17 de abril

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Um policial viveu infiltrado como morador de rua por nove dias, na comunidade de catadores de papel do centro do Rio, para descobrir os três assassinos do também morador de rua João Belisário de Aquino, 53.
Aquino foi morto a pauladas em 17 de abril, enquanto dormia próximo ao prédio do Ministério Público Federal. A ação dos assassinos foi filmada por uma câmera de segurança.
"Estou passando na rua e vejo o cara que me ameaçou, dormindo. Tinha medo de ele me matar. Pensei: antes de eu morrer, vou matar ele [sic]." Assim, tranqüilo e arrependido, Claudovan Cavalcanti da Silva, o Cláudio, 36, contou à Folha como matou com quatro pauladas Aquino, também catador.
A morte ocorreu depois de uma briga, iniciada quando Cláudio negou um cigarro a Aquino. "Ele me mandou enfiar o cigarro não sei onde e ameaçou: "Não dá mole que vou te pegar". Cruzei com ele outra vez e ele falou que minha mãe ia chorar antes da dele."
O catador relatou que dormia ao lado de uma cabine da PM e se escondia na rua, com medo de ser morto. "Ele [Aquino] era o "dono do pedaço". Na hora, ele estava dormindo, não reagiu. Depois [do crime], fiquei aliviado", disse Cláudio.
Os outros dois acusados, José Arimatéia Soares, 28, e Sérgio Rodrigues Fróes, 34, catavam papel com Cláudio na hora do crime. Fróes ainda voltou e deu uma paulada em Aquino.
"[Eu] estava cheio de cachaça na mente", disse Fróes. Soares apenas observou a cena, mas será incluído como cúmplice no processo.

Infiltrado
O agente da 17ª DP (São Cristóvão) camuflou-se entre moradores de rua e levou poucos dias para descobrir o primeiro nome dos criminosos.
"Ele [o policial] virou um morador de rua... Morou, comeu e dormiu com os moradores de rua, para se associar a eles. No último dia, juntou-se aos três para dormir no mesmo albergue. Aí nos avisou e os acordamos: polícia", contou o chefe de investigação da delegacia, inspetor Marco Antônio Carvalho. O agente infiltrado não deu entrevista nem teve o seu nome revelado.
Com "20 anos de carteira assinada", o alagoano Cláudio -que admitiu ter matado o rival- já foi encanador, eletricista, ajudante de armazém de bebidas e, desde segunda-feira, trabalhava como pedreiro em uma obra, recebendo R$ 895.
"Tenho que pagar pelo que fiz. Errei, um erro que não poderia ter cometido. Trabalhei 20 anos com carteira assinada, nunca roubei ninguém nem fui preso. É a primeira vez que mato", disse.


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