São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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Bazar beneficente atrai "garimpeiros" do comércio

Donos de antiquários procuram peças raras entre as doações recebidas

Em SP, os compradores restauram as peças e as colocam à venda por preços que chegam a ser 80 vezes mais caros

GIBA BERGAMIM JR.
DE SÃO PAULO

Uma tela de Aldemir Martins, famoso por desenhar gatos, estava à venda por R$ 40 no meio de artigos de decoração. Outra obra, do pintor Murilo La Grecca, foi comprada por R$ 10 após ficar dias numa prateleira.
Além de raras, as peças têm outro detalhe em comum: foram achadas em bazares de lares beneficentes que se transformaram numa espécie de "garimpo" urbano frequentado por donos de antiquários, lojas de móveis, de brinquedos e de roupas.
Os compradores restauram as peças e as colocam à venda por preços até 80 vezes mais caros.
As cifras são o resultado de um movimentado mercado de doações na cidade que se sofisticou a ponto de uma instituição filantrópica já contar com a ajuda de avaliadores e leiloeiros.
Objetos achados no meio de quinquilharias vão parar em vitrines de lojas em Pinheiros (zona oeste), da Vila Mariana (zona sul) e em feiras como a da praça Benedito Calixto (Pinheiros) e do Bexiga (região central).
Os "garimpos" são entidades que prestam assistência a idosos, a crianças e a deficientes como o Lar Escola São Francisco, a Unibes (União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social) e as Casas André Luiz, que revertem o lucro para seus internos.

ANOS 50
Esse comércio de velharias doadas ganha espaço no embalo da onda retrô, estilo que está em moda na cidade.
Um jogo de cadeiras que teria sido construído pelo designer português Joaquim Tenreiro (1906-1992), precursor da mobília moderna brasileira, foi a leilão num bazar da Unibes, no ano passado.
"Quando colocamos as cadeiras na loja, vimos que despertou interesse. Constatamos que eram peças desse artista. Colocamos num leilão e cada cadeira foi arrematada por cerca de R$ 800", afirma Daniel Machlup, 58, diretor de bazares da entidade.
Especialistas em arte e leiloeiros atuam como voluntários na Unibes. "Nosso objetivo não é vender e lucrar, mas atender aos assistidos. Então, organizamos bazares especiais para maximizar o retorno sobre o produto", diz.
Entidades têm vendedores que ganham comissão, caso do Lar São Francisco, na Vila Mariana.
Ali, moças uniformizadas e atenciosas oferecem produtos que vão de abajures quebrados por R$ 10 a pianos avaliados em R$ 2.000 ou armários da década de 1940 negociados a R$ 2.500.
Tamanha oferta é motivada pela grande quantidade de doações às instituições. Motoristas do Lar São Francisco e da Unibes recolhem diariamente o equivalente a cinco caminhões com doações, no mínimo.
De acordo com a gerente do bazar do Lar São Francisco, Maria Augusta Freitas Pinto, muitas vezes um veículo descarrega o material recebido de uma única família, que coloca um inventário inteiro para doação. Em um desses pode estar a "pedra preciosa" que os garimpeiros buscam.


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