São Paulo, sábado, 15 de junho de 2002

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RIO

É o segundo aumento desde que Benedita da Silva assumiu o governo do Estado; foram 75 em maio, contra 70 em abril

Crescem mortes em confronto com a polícia

SABRINA PETRY
ANTÔNIO GOIS

DA SUCURSAL DO RIO

O número de pessoas mortas em confronto com a polícia do Rio aumentou pela segunda vez desde que a governadora Benedita da Silva (PT) assumiu a administração estadual. Segundo as estatísticas de criminalidade divulgadas ontem, foram 75 mortes em maio, contra 70 em abril.
O mês de abril, primeiro da gestão de Benedita, já havia registrado um crescimento de 11,11% em relação a março, quando 63 pessoas morreram dessa forma, oficialmente chamadas de auto de resistência. O recorde, entretanto, ocorreu em janeiro deste ano, quando houve 86 mortes.
O aumento desse tipo de ocorrência vem sendo registrado desde 2000, quando o total de casos no ano chegou a 427, uma média de 35 por mês. Em 2001, foram 592 mortes -49 por mês.

Problema estrutural
Na opinião do pesquisador Ignacio Cano, do Iser (Instituto de Estudos da Religião), esse quadro é resultado de um problema estrutural da polícia do Rio. "É um problema que está embutido na forma como os policiais trabalham. É preciso intensificar ações de resultado imediato, como exigir relatórios de utilização de armas de fogo, e de longo prazo, como aprimorar o treinamento."
As estatísticas mostraram ainda que os sequestros dobraram em relação a abril. Em maio, quatro pessoas foram vítimas de extorsão mediante sequestro, contra duas em abril e uma em março. De acordo com o chefe da Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, todos os sequestros foram solucionados.
O número de homicídios se manteve praticamente o mesmo em relação ao mês anterior -foram 668 em abril e 667 no mês passado. O total, entretanto, é bastante superior ao registrado em maio de 2001: 489.
Índices como roubos e furtos de veículos, assaltos a pedestre e a bancos, latrocínios e estupros tiveram pequenas reduções entre os meses de abril e de maio.
Ocorrências que não eram divulgadas durante o governo anterior, de Anthony Garotinho (PSB), e que passaram a ser publicadas pela nova equipe da Secretaria da Segurança tiveram aumento em maio, em relação a abril. O número de cadáveres encontrados subiu de 87 para 116. Foram localizadas cinco ossadas em maio, três a mais que em abril.
No mês passado, três PMs morreram em serviço, contra apenas um em abril. Só em maio, 419 pessoas foram consideradas desaparecidas -409 no mês anterior.

Troca de governo
Para Ignacio Cano, os dados ainda precisam ser mais bem analisados para detectar alguma tendência clara. Ele afirma, no entanto, que "a impressão é que os índices estão mesmo altos em 2002 em comparação a 2001".
Segundo ele, uma das possíveis explicações para isso é a instabilidade gerada pela troca de governo. "Quando há uma mudança de governo, isso gera reacomodações locais entre os traficantes e entre os bandidos e policiais corruptos. Isso gera uma instabilidade que resulta em violência."
Procurada pela Folha, a Secretaria de Segurança Pública não havia se pronunciado sobre as estatísticas até as 19h.



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