São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2004

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Grupo é voltado para atender a quem está são

DA REPORTAGEM LOCAL

"Curar não é suficiente, é preciso cuidar das complicações do tratamento e da qualidade de vida do paciente curado." A frase, do oncologista-pediatra Luiz Fernando Lopes, traduz bem a idéia do grupo multidisciplinar que ele coordena no Hospital do Câncer, o Gepetto, que visa estudar e tratar os efeitos tardios da terapia oncológica em crianças.
Criado em 1999, o grupo acompanha 650 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos que tiveram câncer na infância. Atualmente, 70% a 80% das crianças com diagnóstico de câncer são curadas. Na década de 60, o índice de cura chegava a, no máximo, 40%.

Integração
O desafio, afirma Lopes, é que, uma vez curado, o paciente seja integrado à sociedade. Seqüelas psicológicas, como diminuição no desempenho escolar ou social, podem ser resultantes de déficits neuropsicológicos atribuídos a toxicidades da quimioterapia ou do isolamento que o paciente sofreu em decorrência da doença.
Segundo o oncopediatra, estudos apontam que crianças tratadas por leucemia que receberam radioterapia em doses maiores que as utilizadas hoje apresentam menor desempenho escolar, piora na concentração, entre outros. Sem contar o alto índice de esterilidade.
"As mães chegavam preocupadas com a rebeldia ou a apatia do filho adolescente. A gente não sabia se era efeito do tratamento ou falta de rédeas", conta o coordenador do Gepetto.

Exigência
Também é preciso acompanhar a possível recidiva da doença. De acordo com Lopes, de 2% a 3% dos pacientes são acometidos por outros tipos de câncer. O critério para receber o atendimento do Gepetto é estar curado do câncer há pelo menos oito anos.
"Parecemos uma galinha choca", resume Lopes, referindo-se ao vínculo criado entre médicos e pacientes.
O dentista Marcos dos Santos Oliveira, 29, assina em baixo: "Quando sinto qualquer dor, recorro a eles".
Em razão da quimioterapia feita há dez anos, ele tem deficiência auditiva, alterações renais e cardíacas, além de ser estéril. Mas nem por isso deixa de ser otimista. "Sou muito mais feliz do que antes da doença. Tenho mais fé e me importo mais com as pessoas", afirma Oliveira, que está com tudo preparado para se casar no próximo mês. (CC)


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