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BARBARA GANCIA
Não paro, não paro e não paro!
"Estamos tristes pelo o que aconteceu e também pelos brasileiros, por viverem em um país como esse"
QUANDO RUDOLPH GIULIANI
começou com a história da
"tolerância zero", em Nova
York, nos anos 90, eu ficava de cabelo em pé só de ouvir falar. Para esta
humilde datilógrafa, o termo tinha
conotação das mais pejorativas, só
podia ser alguma forma de restringir a liberdade do cidadão. Dava-me
a impressão de que bastava o nova-iorquino soltar um traque no elevador, para ter de ir prestar esclarecimentos na delegacia mais próxima.
Fato está que, na semana passada,
conversando, entre outros assuntos, sobre a Lei Cidade Limpa e a
violência em São Paulo com o titular da delegacia do meu bairro, o regime de "tolerância zero" voltou à
tona. Ele me lembrou da "teoria da
janela quebrada", que originou o
conjunto de ações encampadas com
enorme sucesso por Giuliani
em Nova York.
Vale lembrar do que se trata. Formulada pelo cientista político James Wilson e o psicólogo criminalista George Kelling, em 1982, a dita
teoria é simples. Se uma casa tiver
uma das janelas quebradas, e se essa
janela não for reparada imediatamente, as pessoas que passam pela
rua irão concluir que naquele local
não mora ninguém ou que não há ali
quem se preocupe com a propriedade. Isso acabará encorajando algum
arruaceiro a jogar pedras nas outras
janelas ou a pichar os muros e, em
pouco tempo, a casa será invadida.
Uma simples janela quebrada
acaba se transformando em sensação de abandono, na falta de autoridade presente, na falta da manutenção da ordem. Pois sensação de
abandono é o que o paulistano experimenta da hora em que acorda
até a hora de ir dormir. Exemplos?
(A amostra é só dos que me impactaram pessoalmente ao longo da semana.) Quando chega atrasado por
conta da greve do metrô, quando é
achacado por flanelinhas, quando
vê subir, ao lado do terreno que penou para comprar, uma torre de telefonia que irá desvalorizar seu
imóvel em até 50% ou quando anda
por ruas sem iluminação, como a
-pasme- al. Franca, no coração
dos Jardins, onde o turista francês
Grégor Erwan Landouar foi assassinado na noite de domingo.
À Folha, o irmão de Landouar
declarou: "Estamos tristes pelo o
que aconteceu com Grégor e também pelos brasileiros, por viverem
em um país como esse". As palavras do irmão de mais um turista
morto de forma inaceitável em
nosso país são um soco na cara
do paulistano.
Confesso que sempre acho peculiar a reação maravilhada de suíços, italianos e franceses quando
revelo que sou brasileira. Já ouvi
mil vezes me dizerem: "Que sorte
a sua!". A esses mal informados sobre as agruras que passamos na
pele de brasileiros, eu diria o seguinte: não venha para cá de jeito
nenhum. Não vale a pena correr
riscos por tão pouco.
Veja o jogador Zé Roberto. Nem
por todo dinheiro do mundo quis
permanecer em Santos, note, uma
das cidades mais seguras do Estado. E ainda teve de ouvir do Dunga
que, no Brasil, não há seqüestros!
Assim como nós tivemos de ouvir
da sempre sexóloga Marta Suplicy
que devemos enfrentar o caos nos
aeroportos relaxando e gozando.
Alô, presidente Lula! O senhor
acha que a culpa pela má imagem do
Brasil é do brasileiro, que deveria
parar de falar mal do país. Nesse caso, estamos quites, pois eu acho que
o problema começa no poder público que nos deixou a todos órfãos.
barbara@uol.com.br
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