São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2007

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BARBARA GANCIA

Não paro, não paro e não paro!

"Estamos tristes pelo o que aconteceu e também pelos brasileiros, por viverem em um país como esse"

QUANDO RUDOLPH GIULIANI começou com a história da "tolerância zero", em Nova York, nos anos 90, eu ficava de cabelo em pé só de ouvir falar. Para esta humilde datilógrafa, o termo tinha conotação das mais pejorativas, só podia ser alguma forma de restringir a liberdade do cidadão. Dava-me a impressão de que bastava o nova-iorquino soltar um traque no elevador, para ter de ir prestar esclarecimentos na delegacia mais próxima.
Fato está que, na semana passada, conversando, entre outros assuntos, sobre a Lei Cidade Limpa e a violência em São Paulo com o titular da delegacia do meu bairro, o regime de "tolerância zero" voltou à tona. Ele me lembrou da "teoria da janela quebrada", que originou o conjunto de ações encampadas com enorme sucesso por Giuliani em Nova York.
Vale lembrar do que se trata. Formulada pelo cientista político James Wilson e o psicólogo criminalista George Kelling, em 1982, a dita teoria é simples. Se uma casa tiver uma das janelas quebradas, e se essa janela não for reparada imediatamente, as pessoas que passam pela rua irão concluir que naquele local não mora ninguém ou que não há ali quem se preocupe com a propriedade. Isso acabará encorajando algum arruaceiro a jogar pedras nas outras janelas ou a pichar os muros e, em pouco tempo, a casa será invadida.
Uma simples janela quebrada acaba se transformando em sensação de abandono, na falta de autoridade presente, na falta da manutenção da ordem. Pois sensação de abandono é o que o paulistano experimenta da hora em que acorda até a hora de ir dormir. Exemplos? (A amostra é só dos que me impactaram pessoalmente ao longo da semana.) Quando chega atrasado por conta da greve do metrô, quando é achacado por flanelinhas, quando vê subir, ao lado do terreno que penou para comprar, uma torre de telefonia que irá desvalorizar seu imóvel em até 50% ou quando anda por ruas sem iluminação, como a -pasme- al. Franca, no coração dos Jardins, onde o turista francês Grégor Erwan Landouar foi assassinado na noite de domingo.
À Folha, o irmão de Landouar declarou: "Estamos tristes pelo o que aconteceu com Grégor e também pelos brasileiros, por viverem em um país como esse". As palavras do irmão de mais um turista morto de forma inaceitável em nosso país são um soco na cara do paulistano.
Confesso que sempre acho peculiar a reação maravilhada de suíços, italianos e franceses quando revelo que sou brasileira. Já ouvi mil vezes me dizerem: "Que sorte a sua!". A esses mal informados sobre as agruras que passamos na pele de brasileiros, eu diria o seguinte: não venha para cá de jeito nenhum. Não vale a pena correr riscos por tão pouco.
Veja o jogador Zé Roberto. Nem por todo dinheiro do mundo quis permanecer em Santos, note, uma das cidades mais seguras do Estado. E ainda teve de ouvir do Dunga que, no Brasil, não há seqüestros! Assim como nós tivemos de ouvir da sempre sexóloga Marta Suplicy que devemos enfrentar o caos nos aeroportos relaxando e gozando.
Alô, presidente Lula! O senhor acha que a culpa pela má imagem do Brasil é do brasileiro, que deveria parar de falar mal do país. Nesse caso, estamos quites, pois eu acho que o problema começa no poder público que nos deixou a todos órfãos.

barbara@uol.com.br


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