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Visita de príncipe muda regras de etiqueta
Convidados não podem tocar, olhar ou até mesmo fotografar Naruhito durante sua visita ao Brasil, entre os dias 17 e 25
Cerimonial ia pôr camélias na lapela de convidados, mas foi informado para trocar, pois a flor é símbolo de má sorte no Japão
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não o aponte, não o toque,
não o cumprimente nem lhe estenda as mãos. Não olhe nos
olhos, não tire fotos dele em
movimento (só em pose de estátua), não o siga, não atravesse, não ultrapasse e nem recue
na frente dele.
No centenário da imigração
japonesa no Brasil, o príncipe
Naruhito, 48, primeiro na linha
sucessória do trono do Japão,
monarquia hereditária mais
antiga do mundo, vem ao Brasil
nesta semana cercado de regras
de etiqueta, protocolo e cerimonial para lá de rígidas.
Antes mesmo de chegar, a visita do príncipe já causou gafes
por aqui. O cerimonial do governo do Estado de São Paulo,
que prepara um jantar com toda a pompa oferecido pelo governador José Serra (PSDB) no
Palácio dos Bandeirantes, planejou, como de costume no Japão, colocar na lapela dos convidados alguma flor, cujo tamanho varia de acordo com a importância do visitante.
Foi pensada uma camélia,
que também adornaria o uniforme da equipe de cerimonial.
Mas a flor é símbolo de má sorte no Japão. A solução foi encomendar algumas flores de cerejeira, símbolo daquele país.
"Não queria falar, mas a camélia significa, para os japoneses, cortar o pescoço, a morte",
explica a professora de etiqueta
japonesa Lumi Toyoda, contratada para assessorar o cerimonial do Estado no assunto.
A principal lição de Toyoda
ao cerimonial brasileiro é em
relação à pontualidade. Atrasos
são vistos no Japão como "falha
de caráter" e uma das "piores
faltas de educação".
"Se combinar com um japonês às 10h, dez minutos antes
ele já está esperando", diz a
consultora, que já morou no Japão e é fluente na língua.
O cumprimento ocidental, o
aperto de mãos (ou o beijo no
rosto, como em alguns países),
e olhar diretamente nos olhos
seria outra indelicadeza com o
príncipe. A explicação está na
tradição secular japonesa: não
se pode dirigir nada (nem o
olhar, nem as mãos, nem a palavra) a alguém de grau superior.
"A maioria dos japoneses não
sabe nem apertar a mão. Se alguém esticar a mão, eles não sabem o que fazer", diz Toyoda.
A consultora de etiqueta
Cláudia Matarazzo, responsável pelo cerimonial do Palácio
dos Bandeirantes, teve de reforçar as aulas de alongamento
e preparar os assessores de Serra. O protocolo japonês exige
que se curve até mais de 90
graus para cumprimentar o
herdeiro do trono. Só o governador, por também ser autoridade e ter "grau superior", não
precisa cumprir a regra.
No Brasil entre os dias 17 e
25, o príncipe visitará Brasília,
São Paulo, Santos, Rio, Belo
Horizonte, Londrina, Rolândia,
Maringá. A primeira visita de
Naruhito ao Brasil foi em 1982.
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