São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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Visita de príncipe muda regras de etiqueta

Convidados não podem tocar, olhar ou até mesmo fotografar Naruhito durante sua visita ao Brasil, entre os dias 17 e 25

Cerimonial ia pôr camélias na lapela de convidados, mas foi informado para trocar, pois a flor é símbolo de má sorte no Japão

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não o aponte, não o toque, não o cumprimente nem lhe estenda as mãos. Não olhe nos olhos, não tire fotos dele em movimento (só em pose de estátua), não o siga, não atravesse, não ultrapasse e nem recue na frente dele.
No centenário da imigração japonesa no Brasil, o príncipe Naruhito, 48, primeiro na linha sucessória do trono do Japão, monarquia hereditária mais antiga do mundo, vem ao Brasil nesta semana cercado de regras de etiqueta, protocolo e cerimonial para lá de rígidas.
Antes mesmo de chegar, a visita do príncipe já causou gafes por aqui. O cerimonial do governo do Estado de São Paulo, que prepara um jantar com toda a pompa oferecido pelo governador José Serra (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes, planejou, como de costume no Japão, colocar na lapela dos convidados alguma flor, cujo tamanho varia de acordo com a importância do visitante.
Foi pensada uma camélia, que também adornaria o uniforme da equipe de cerimonial. Mas a flor é símbolo de má sorte no Japão. A solução foi encomendar algumas flores de cerejeira, símbolo daquele país.
"Não queria falar, mas a camélia significa, para os japoneses, cortar o pescoço, a morte", explica a professora de etiqueta japonesa Lumi Toyoda, contratada para assessorar o cerimonial do Estado no assunto.
A principal lição de Toyoda ao cerimonial brasileiro é em relação à pontualidade. Atrasos são vistos no Japão como "falha de caráter" e uma das "piores faltas de educação".
"Se combinar com um japonês às 10h, dez minutos antes ele já está esperando", diz a consultora, que já morou no Japão e é fluente na língua.
O cumprimento ocidental, o aperto de mãos (ou o beijo no rosto, como em alguns países), e olhar diretamente nos olhos seria outra indelicadeza com o príncipe. A explicação está na tradição secular japonesa: não se pode dirigir nada (nem o olhar, nem as mãos, nem a palavra) a alguém de grau superior.
"A maioria dos japoneses não sabe nem apertar a mão. Se alguém esticar a mão, eles não sabem o que fazer", diz Toyoda.
A consultora de etiqueta Cláudia Matarazzo, responsável pelo cerimonial do Palácio dos Bandeirantes, teve de reforçar as aulas de alongamento e preparar os assessores de Serra. O protocolo japonês exige que se curve até mais de 90 graus para cumprimentar o herdeiro do trono. Só o governador, por também ser autoridade e ter "grau superior", não precisa cumprir a regra.
No Brasil entre os dias 17 e 25, o príncipe visitará Brasília, São Paulo, Santos, Rio, Belo Horizonte, Londrina, Rolândia, Maringá. A primeira visita de Naruhito ao Brasil foi em 1982.


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