São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2011

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31ª SÃO PAULO FASHION WEEK - ÚLTIMA MODA

ATA-ME

DESFILES DE ALEXANDRE HERCHCOVITCH E REINALDO LOURENÇO LANÇAM NOVOS OLHARES SOBRE OS CÓDIGOS FASHION DA DOMINAÇÃO FEMININA

VIVIAN WHITEMAN
EDITORA DE MODA

O que faz de Reinaldo Lourenço e Alexandre Herchcovitch dois dos maiores estilistas brasileiros é sua capacidade de, a cada temporada, subverter a leitura de imagens teoricamente manjadas no circuito fashion.
Ontem, diante de seu desfile no segundo dia da 31ª São Paulo Fashion Week, olhos desatentos poderiam dizer que Herchcovitch encaretou. Coleção estilo moça-chazinho, dessas que vivem em casinhas retrô-floridas e postam no Facebook fotos de cupcakes recém-assados.
De fato, o verão de Herchcovitch é feito de tons pastel, bordados delicados e jeitinho comportado. Porém, num mundo de liberdades cada vez mais restritas, nada seria mais reacionário e fake do que botar na passarela looks rebeldezinhos, do tipo "faço o que eu quero".
A aparência doce de suas moças é feita de açúcar amargo: o look contido de mulher fina, do tipo "para casar", grita opressão muito mais alto do que qualquer gesto punk vazio. O tempo, dizem as roupas, é o da dominação.
Do lado de fora da Faap, pronto para o desfile de Reinaldo, um batalhão de mulheres vestia peças das últimas coleções do estilista. De dondocas à apresentadora e humorista Sabrina Sato, ou seja, da herdeira patricinha à beldade gostosona da TV.
Reinaldo e suas roupas compreendem que as "material girls" de todos os perfis carregam um quê de tristeza em seus looks maravilhosos.
"Os diamantes são os melhores amigos de uma garota", diz a trilha do desfile, com a canção imortalizada por Marilyn Monroe no clássico "Os Homens Preferem as Loiras". Nada mais solitário.
Os peitos dessas mulheres são endurecidos, cobertos por sutiãs incrustados de cristais. Os vestidos longos são de mosaicos de couro, pedacinhos duros prensados sobre tule, o mais frágil dos tecidos não-humanos.
Há ainda os decotes em formato de cabeças de gatos e os looks em que poodles coloridos, cães decorativos, se tornam belas estampas.
É como se as mulheres dissessem: sabemos que vocês nos tratam como pets de luxo, alimentadas com joias e sedas. Algumas moças, decepcionadas talvez com o amor e os homens, escolhem a companhia de objetos- peças que, como a coleção de Reinaldo, são pequenos tesouros melancólicos.

com NINA LEMOS, PEDRO DINIZ e VITOR ANGELO


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