São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Grupo é acusado de fazer movimentações ilegais em milhares de contas do Banco do Brasil; cinco pessoas foram presas

Quadrilha desvia R$ 1 mi de clientes do BB

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

De contas bancárias com altos valores para contas "alugadas", até parar nas mãos de uma quadrilha liderada por um hacker. Assim o dinheiro de milhares de contas de clientes do Banco do Brasil em São Paulo era desviado, em pequenas quantias, segundo a polícia paulista. Só nos últimos três meses, o esquema teria arrecadado cerca de R$ 1 milhão.
O golpe contaria com a participação de correntistas do banco, que concordariam em "alugar" suas contas por, no máximo, dois dias para a quadrilha em troca de 10% do valor desviado.
A descoberta do suposto esquema foi divulgada ontem, pelo Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado). Cinco pessoas foram presas suspeitas de participar do grupo. Eles foram indiciados por estelionato, formação de quadrilha e falsificação de documento.
Os policiais apreenderam dez computadores, dois laptops e oito CDs com informações cadastrais sobre contas, valores e senhas. Os equipamentos estavam na casa dos suspeitos e em uma empresa na zona leste de São Paulo usada, segundo a polícia, para lavar dinheiro.
"São milhares de contas. Só vamos saber o total depois de analisar o material", afirma o delegado Ruy Ferraz Fontes, do Deic. Segundo ele, as investigações ainda vão determinar como a quadrilha conseguia os dados.
Uma das suspeitas é que parte das informações era conseguida por meio de páginas clonadas. "O cliente digitava a página do banco e vinha a falsa. Encontramos com os suspeitos programas usados para fazer isso", diz Fontes.
Outra hipótese, de acordo com a polícia, é a conivência de funcionários do banco. E-mails enviados à quadrilha com dados das contas vão ser analisados. "Pode ter a participação de funcionários, mas isso só a investigação vai comprovar", afirma o delegado.
O líder da quadrilha seria o hacker Anderson Cisneiros da Silva, 33, já condenado por estelionato. Márcia Soares de Jesus, 32, ex-mulher de Silva, também foi presa. Eles seriam responsáveis pela obtenção dos dados das contas.
Marinaldo da Silva Rezende, 33, seria o intermediário entre o topo da quadrilha e o "braço operacional", formado por Cleber Scheffer da Silva, 29, e a mulher dele, Bianca Corrêa Scheffer da Silva, 27, que também estão presos.
Segundo a polícia, o casal tinha a função de arregimentar correntistas. "Eles ofereceriam R$ 200 para usar a conta por um ou dois dias. Esses correntistas aceitavam a oferta achando que não aconteceria nada", diz Fontes.
Com a quadrilha, os policiais apreenderam ontem R$ 56 mil. Desse valor, R$ 34 mil estavam na empresa e R$ 12 mil estavam nos bolsos de Anderson da Silva quando ele foi preso. A polícia também identificou seis imóveis e apreendeu sete veículos. "O patrimônio da quadrilha supera R$ 1 milhão. Esses bens serão alvo de seqüestro", afirma Fontes.
Os presos negaram à polícia fazer parte do esquema. A reportagem não teve acesso a eles.
A assessoria de imprensa do Banco do Brasil em Brasília afirmou que não houve quebra do protocolo de segurança e informou que já alertou os clientes sobre o envio de e-mails falsos com links de páginas clonadas.
A assessoria disse que o banco analisa caso a caso e que o cliente não será prejudicado quando ficar comprovado que ele não foi o responsável pela transferência.
O delegado afirma que o banco foi o maior prejudicado com o esquema, já que teve de ressarcir os clientes. Escutas telefônicas feitas na investigação revelam, porém, que membros da quadrilha comentavam que clientes com altos valores na conta nem notariam o desvio de pequenos valores.


Texto Anterior: Polícia: Falsos técnicos são presos roubando fios de cobre
Próximo Texto: Polícia suspeita de conivência de 500 correntistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.