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Prefeitura faz muro sob viaduto para tirar moradores de rua
Subprefeitura da Lapa atendeu a pedidos de associações vizinhas e ergueu paredão de cerca de 5 metros para remover 30 sem-teto
Administração afirma que remoção foi feita para evitar incêndio na ponte, como o ocorrido em 2000, quando havia 55 famílias no local
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Construir um paredão cinzento de tijolo cru, sem portas
nem janelas e com cerca de cinco metros de altura sob o viaduto Mofarrej, na Vila Leopoldina
-bairro da zona oeste de São
Paulo que atravessa um boom
imobiliário- foi a alternativa
encontrada pela Subprefeitura
da Lapa para remover cerca de
30 moradores de rua que viviam no local havia nove meses.
A subprefeitura diz que a remoção foi feita para evitar risco
de incêndio no viaduto, já que
os moradores de rua acendiam
fogueiras à noite, e que pretende ceder o local a uma entidade
de reciclagem de lixo, para criação de uma cooperativa. Mas
não sabe ainda quando isso será
feito -no local, não há placa indicando que qualquer ação da
prefeitura esteja em curso.
A construção do muro, concluída há pouco mais de três semanas, atendeu a pedidos de
associações de empresários e
de moradores do bairro para a
"tomada de providência" em
relação aos moradores de rua.
Coincidentemente, a Vila Leopoldina atravessa um momento de grande valorização imobiliária, com a atração de empreendimentos residenciais de
alto padrão, para ocupar o lugar
de antigos galpões industriais.
A meia quadra do paredão,
está sendo construído o residencial Jardim Leopoldina
Parque Clube, da construtora
Rossi. Os apartamentos, na
planta, custam entre R$ 353
mil e R$ 430 mil. Procurada pela Folha, a construtora não se
manifestou.
Os moradores estavam instalados sob o viaduto desde que
foram desalojados pela prefeitura do albergue Humaitá, que
foi desativado. Cada um, diz a
subprefeitura, recebeu R$ 5
mil de indenização. Além de
morar sob o viaduto Mofarrej-
onde já haviam construído casas de madeira e de papelão-,
eles também armazenavam lixo, que era vendido para reciclagem.
"Tiram a gente, mas não dão
outra opção. A gente só quer
um lugar para trabalhar", afirma o catador de lixo Romildo
Viviane, 42, pai de cinco filhos.
Ele e outros dez catadores continuam armazenando lixo debaixo do viaduto -mas agora
no meio da avenida, em frente
ao paredão. O trabalho rende a
cada um até R$ 700 por mês.
Além do pedido dos moradores do bairro, a prefeitura alegou como motivo para a construção do muro o risco de incêndios. O viaduto já pegou fogo em 2000, quando havia uma
favela no mesmo local, e ficou
três meses interditado.
Outros casos
Neste ano, ações semelhantes já foram realizadas embaixos dos viadutos Jaguaré, Lapa
e Pompéia (região oeste). Entretanto, nos três casos, as remoções ocorreram antes que a
cessão dos locais a entidades,
para a criação de cooperativas,
fosse concluída. Até o momento, nenhuma delas começou a
funcionar.
"O histórico não é animador.
A lógica dessas ações tem sido
limpar a cidade da presença da
pobreza e privilegiar a valorização imobiliária. É uma política
higienista", diz o urbanista do
Instituto Pólis, Kazuo Nakano.
Colaborou FERNANDA CRANCIANINOV ,
da Redação
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