São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2001
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CRIANÇAS DO BRASIL Menina afirma para policiais que, para receber R$ 1.600, cometeu o crime a mando de traficante da zona leste de São Paulo T., 12, vai à creche e sequestra bebê de 1 ano
MARIO CESAR CARVALHO DA REPORTAGEM LOCAL Uma menina de 12 anos sequestrou um bebê de 1 ano e 5 dias de uma creche municipal de São Paulo e contou na delegacia que fez tudo a mando de um traficante de drogas, que venderia a criança por R$ 20 mil a um casal estrangeiro. Para fechar o círculo da infância pervertida, a mãe do bebê tem 13 anos e é colega da sequestradora de 12. "Durante cinco horas, achei que nunca mais veria a minha filha", contou Leudiane Pantoja de Lima, 13, aluna da 5ª série e mãe de Luana, o bebê sequestrado. As tais cinco horas foram das 16h às 21h de anteontem. Às 16h, T.A.S., a sequestradora de 12 anos, conseguiu retirar Luana de uma creche municipal na zona leste sem autorização, segundo a mãe. Ela teria tentado entregar o bebê a um traficante da favela Primavera, na avenida Sapopemba, mas não o achou. A Secretaria Municipal da Assistência Social confirma a versão de Leudiane. A direção da creche Benedito Costa Carvalho (conveniada da prefeitura) diz o contrário. A secretaria vai apurar o caso. A história de T.A.S. pode ser fantasiosa, mas os policiais foram conferir o barraco indicado por ela e encontraram dois homens em fuga. Na correria, deixaram no chão um saco plástico com R$ 1.602 e uma pistola Beretta. O dinheiro, segundo a sequestradora, seria o pagamento que ela receberia pelo bebê. A polícia suspeita que o bebê poderia servir também para pagar dívida de drogas, contraídas por T.A.S. A sequestradora foi descoberta por PMs da Rota num golpe de sorte. Por volta das 21h, quando zanzava pelo largo São Mateus, T.A.S. se assustou ao ver um carro da polícia e largou o bebê num banco. Tentou fugir, mas foi apanhada. Na delegacia, os PMs encontraram uma adolescente desesperada -era a mãe do bebê. "Até os policiais choraram quando viram o rosto de alegria da mãe", conta Noemi Gonçalves Pantoja, 33, avó do bebê. A sequestradora e a mãe do bebê são colegas e vizinhas no Jardim Pernambuco, uma ocupação com cerca de 2.000 casas, na zona leste, a 32 km do centro. Lá, todo mundo sabe que T.A.S. usa e vende drogas. Tanto que seu apelido é "Noinha" -"nóia", redução de paranóia, é a forma como os dependentes de crack são conhecidos em São Paulo. Um segurança da ocupação conta que ela já foi apanhada com um pacote de maconha no "bairro". T.A.S. e a mãe do bebê são colegas há pouco mais de um mês. "T. ia muito à minha casa. Ela estuda com os meus irmãos na 4ª série e vivia fazendo agrado no bebê", relata Leudiane. A amizade só não prosperou porque a mãe de Leudiane proibiu-a de ver T.A.S. por causa da fama de seu envolvimento com drogas. T.A.S. alardeia que tem cinco passagens pela Febem -a rigor, ela já foi encaminhada ao S.O.S. Criança e ao conselho tutelar, instâncias que antecedem uma eventual internação. Agora a menina está na Febem. "Eu era colega de T. porque conhecia pouca gente em São Paulo", diz Leudiane. A família Pantoja chegou a São Paulo há seis meses, completados ontem. Os pais de Leudiane são de Tomé-Açu, no sul do Pará, e foram parar na periferia paulistana depois de passar por Belém. Foi lá que Leudiane engravidou aos 12 anos. "Eu não queria a criança. Foi descuido", conta. O pai da criança, ela não vê há nove meses. A mãe trata a gravidez precoce com naturalidade. "Quem mandou brincar", diz, rindo, Noemi, cozinheira de uma restaurante no Brás, onde ganha R$ 350. O marido ganha R$ 50 a menos como uma espécie de faz-tudo na construção civil -é pedreiro, carpinteiro e ajudante, dependendo da oferta de trabalho. Depois do sequestro, Noemi já duvida se vale a pena continuar em São Paulo: "O ganho aqui é muito maior do que no Pará. Mas acho que não vale a pena. Não temos paz, é muita violência". Uma decisão ela já tomou: vai deixar o emprego para cuidar da neta. Próximo Texto: Creche errou ao entregar o bebê, diz secretaria Índice |
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