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PLANO DIRETOR
Urbanistas elogiam mudanças propostas por relator, mas pedem para adiar a votação prevista para hoje
Para especialistas, projeto continua precário
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora acreditem que a nova
proposta do Plano Diretor, elaborada pelo vereador Nabil Bonduki
(PT), tenha mais pontos positivos
do que o texto original, feito pelo
Executivo, especialistas consideram que o projeto ainda é precário, precisa de mudanças e pedem
tempo para discuti-lo antes da votação final, prevista para hoje.
Segundo urbanistas ouvidos pela Folha, a versão final da proposta, aprovada anteontem em primeira votação pela Câmara, apresenta problemas que podem
comprometer sua execução.
Um dos pontos mais criticados
pelos especialistas é a colocação
das estratégias previstas para a segunda etapa do plano -a política
habitacional, os planos regionais
e o plano de transportes- como
leis complementares.
Apesar de defenderem a execução do projeto em duas fases, eles
acreditam que essas leis posteriores precisam estar articuladas
com as diretrizes do plano e não
podem ser tratadas de modo secundário ou menos importante.
"Embora Bonduki tenha feito
um trabalho extraordinário, algumas partes do plano permanecem
precárias", diz o arquiteto e urbanista Luiz Carlos Costa, professor
de planejamento urbano da USP.
Para Costa, os objetivos do plano ainda estão desarticulados. "O
projeto é feito de pedaços separados que foram precariamente
unidos. Precisa haver garantias de
que o conjunto terá consistência.
Não basta dizer que serão apresentadas outras leis, é necessário
dizer como elas serão elaboradas", afirma o professor.
O urbanista e ex-secretário do
Planejamento de São Paulo Cândido Malta concorda. "Estão colocando como leis complementares as principais políticas para a
cidade, elas são parte do plano.
Além disso, é preciso vincular o
Estado às mudanças propostas."
Malta diz ter apontado pelo menos 24 pontos do projeto que precisariam passar por modificações.
Ele e outros urbanistas participaram ontem da última audiência
pública para discutir o plano e
afirmam que receberam de Bonduki promessas de mudanças antes da votação final, após manifestarem suas dúvidas e sugestões.
Para a professora e coordenadora do mestrado de urbanismo
da PUC de Campinas, Raquel
Rolnik, o novo projeto apresenta
uma vinculação mais estreita entre os objetivos que propõe e os
instrumentos que pretende utilizar, mas não é um projeto perfeito. "Aprová-lo assim é um avanço
em relação à situação atual, mas
me preocupo com esse excessivo
número de artigos que o plano
propõe, é prolixo demais."
Segundo a arquiteta e diretora
do movimento Defenda São Paulo, Regina Monteiro, um dos pontos falhos do plano é permitir que
o Executivo arbitre em questões
consideradas conflitos de interesse. "Esse tipo de conflito tem de
ser resolvido na Justiça", diz.
Ela, porém, considera positiva a
mudança de tornar a fixação dos
potenciais construtivos da cidade
de forma gradual, o que diminuiu
a resistência dos construtores.
Apesar de ainda ser alvo de críticas entre os urbanistas, o plano
tem sido bem avaliado pelo setor
de construção civil, que ganhou
muitas concessões na proposta.
Para o conselheiro do Secovi
(sindicato das construtoras e
imobiliárias) Cláudio Bernardes,
a nova proposta está melhor do
ponto de vista urbanístico. "A
questão da outorga onerosa [taxa
para construir acima do permitido" está bem resolvida no que diz
respeito ao mercado imobiliário."
O plano também ganhou elogios do Sinduscon (Sindicato da
Indústria da Construção Civil).
Para Artur Quaresma, presidente
da entidade, é preciso dar uma
chance à prefeitura. "O plano é
viável e não podemos pensar que
não vai dar certo, o desafio é articular as políticas futuras", diz.
Segundo Bonduki, que defende
a aprovação do plano o mais rápido possível, a redação do texto
pode melhorar, mas a demora nas
discussões pode fazer com que
não haja tempo para colocar as
medidas em prática.
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