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POLÍCIA FORA DA LEI
Integrantes do Gradi estiveram com os 12 membros do PCC dois dias antes da operação na Castelinho
PM podia ter antecipado ação de Sorocaba
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os 12 supostos integrantes da
facção criminosa PCC mortos em
confronto com a Polícia Militar de
São Paulo no pedágio da rodovia
Castelinho (Sorocaba), em 5 de
março deste ano, poderiam ter sido presos dois dias antes em Itaquaquecetuba, na Grande São
Paulo, em uma reunião em que se
discutiram os últimos detalhes do
assalto que eles planejavam.
Dois PMs do Gradi (Grupo de
Repressão e Análise dos Delitos
de Intolerância) e um preso recrutado, infiltrados na quadrilha,
estiveram com todos os suspeitos
no dia 3 de março, segundo relatório sigiloso da PM enviado para
o Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), em 12 de março.
O grupo poderia ter sido preso
nesse momento ou antes de sair
para o roubo, no dia 5. Pela lei,
pouco mudaria. Se os 12 tivessem
sido detidos, em vez de mortos,
sem que houvesse o tiroteio no
pedágio de Sorocaba que colocou
em risco a vida de PMs e de civis,
os suspeitos seriam acusados de
formação de quadrilha, porte ilegal de armas e tentativa de roubo.
Durante a reunião, dois dias antes
do confronto, todos poderiam ter
sido presos em flagrante por formação de quadrilha e porte de armas -já que, segundo o relatório, o armamento estava lá.
Outra possibilidade seria pegá-los nos dias seguintes. Em 3 de
março, os PMs infiltrados já sabiam o ponto de partida dos suspeitos, em Itaquaquecetuba
(grande São Paulo). ""Desse local,
onde se encontravam as armas e
os veículos, sairiam os integrantes
da quadrilha", diz o documento
da PM. Como não houve a prisão,
o grupo cometeu dois crimes:
roubou duas camionetes na capital, nos dias 3 e 4, para ir a Sorocaba. O mecânico Waldemar Kissel,
53, uma das vítimas, foi surpreendido por dois homens armados
no Jabaquara (zona sul). ""Falei
que não tinha seguro e falaram até
em me matar", contou.
Não se sabe quantos crimes os
12 suspeitos cometeram nos 30
dias em que o Gradi monitorou o
grupo sem prendê-los. Seis deles
eram procurados, por assaltos,
tráfico e até homicídio. ""Não se tinha controle sobre o que eles fizeram soltos", disse João José Sady,
coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP.
A ação dos agentes do Gradi será investigada pelo Ministério Público. A mesma lei que trata da infiltração de agentes policiais (nš
9.034/95) e não prevê a participação de presos diz que a polícia pode retardar sua ação contra organizações criminosas, desde que
mantida sob observação para obtenção de prova e informações.
""A conduta dos PMs será avaliada, porque o objetivo final da ação
não parece ter sido o que previa o
legislador", afirmou o promotor
Rodrigo Canellas Dias, coordenador do Centro de Apoio às Promotorias Criminais do Estado, ao
se referir às mortes na ação.
No relatório, o Gradi afirma que
houve um estudo prévio do trajeto que seria usado no dia da ação e
que se optou pelo ""ponto de menor risco" para os motoristas.
A escolha do momento certo
para agir não é o único mistério
da história. Um preso que trabalhou para o Gradi, Ronny Clay
Chaves, 27, disse em depoimento
que os detentos infiltrados pela
PM teriam ""inventado" o assalto
do avião em Sorocaba.
Em nota oficial, o Daesp (Departamento Aeroviário de São
Paulo), responsável pelo aeroporto de Sorocaba, informou na época que a cidade não recebia mais
vôos regulares de transporte de
valores. Até hoje, não se identificou qual seria o alvo deles.
Segundo a Folha apurou, um
dos presos recrutados pelo Gradi
e que trabalhou no caso de Sorocaba, Marcos Massari, já foi indiciado por assalto a avião pagador
e era conhecido entre os criminosos por esse feito. Ele teria convencido os 12 suspeitos a agir.
Quando a operação do Gradi
aconteceu, as autoridades de segurança estavam sob pressão por
uma série de fatos, como os atentados a bomba do PCC, rebeliões
e o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).
A ação na Castelinho recebeu
elogios do secretário Saulo de
Castro Abreu Filho (Segurança
Pública), que agora será investigado pelo TJ por causa dos métodos
usados pelo Gradi. Ele nega que
sabia das operações com presos.
O Comando da Polícia Militar
informou ontem que todas as
ações do Gradi estão sendo apuradas e que a corporação irá se
manifestar depois disso.
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