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Falta de higiene tira caranguejo do mercado
Restaurantes prometem não comprar a carne
DE BELÉM
Se o açaí se torna cada vez
mais exclusivo no Pará, a
carne de caranguejo, outra
comida típica do Estado, está
praticamente desaparecida
dos restaurantes.
Diferentemente do que
ocorreu com a fruta, o fenômeno não foi causado pela
lógica econômica, mas por
motivos sanitários.
Há um ano, o Ministério
Público do Estado resolveu
fazer uma ofensiva contra as
precárias condições higiênicas da produção da carne do
crustáceo.
E conseguiu que dezenas
de bares e restaurantes locais
assinassem acordos nos
quais se comprometeram a
não comprá-la mais.
A ação da Promotoria
ocorreu depois que um grupo
de técnicos do governo estadual foi a campo e provou
que, para retirar a carne do
exosqueleto do bicho, valia
até chupá-la com a boca e regurgitá-la, com saliva e tudo.
TRABALHO INFANTIL
Também foi demonstrado
que a produção do caranguejo envolve quase sempre trabalho infantil familiar e que,
para conservar o produto,
usam-se até mesmo substâncias como formol e creolina,
na falta de sistemas de refrigeração adequados.
A retirada da carne é feita
por famílias de baixa renda
de pequenas cidades como
Bragança, Quatipuru e Maracanã, em casas de barro, com
animais domésticos, moscas
e mesmo ratos em volta.
E tudo isso para que as famílias recebam dos intermediários cerca de R$ 1 por quilo de carne extraída.
A proibição, porém, não
cessou por inteiro o consumo, afirma o promotor Marco
Aurélio do Nascimento, responsável pelos acordos.
MERCADO PARALELO
Hoje, alguns estabelecimentos ainda compram o
produto -feito sob as mesmas condições precárias-,
mas numa espécie de mercado paralelo e ilegal.
Além disso, diz Nascimento, passou-se a exportar a
carne para outros Estados,
que ainda não fiscalizam seu
comércio, como os do Nordeste e do Sudeste -o Espírito Santo, por exemplo.
Para comer ou usar o caranguejo em um prato típico,
é necessário agora comprá-lo
inteiro e retirar pacientemente a carne de cada um dos
animais.
A boa notícia é que a primeira indústria de extração
da carne no Pará está em processo de implantação, aguardando atualmente sua licença ambiental.
(JOÃO CARLOS MAGALHÃES)
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