São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2010

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Falta de higiene tira caranguejo do mercado

Restaurantes prometem não comprar a carne

DE BELÉM

Se o açaí se torna cada vez mais exclusivo no Pará, a carne de caranguejo, outra comida típica do Estado, está praticamente desaparecida dos restaurantes.
Diferentemente do que ocorreu com a fruta, o fenômeno não foi causado pela lógica econômica, mas por motivos sanitários.
Há um ano, o Ministério Público do Estado resolveu fazer uma ofensiva contra as precárias condições higiênicas da produção da carne do crustáceo.
E conseguiu que dezenas de bares e restaurantes locais assinassem acordos nos quais se comprometeram a não comprá-la mais.
A ação da Promotoria ocorreu depois que um grupo de técnicos do governo estadual foi a campo e provou que, para retirar a carne do exosqueleto do bicho, valia até chupá-la com a boca e regurgitá-la, com saliva e tudo.

TRABALHO INFANTIL
Também foi demonstrado que a produção do caranguejo envolve quase sempre trabalho infantil familiar e que, para conservar o produto, usam-se até mesmo substâncias como formol e creolina, na falta de sistemas de refrigeração adequados.
A retirada da carne é feita por famílias de baixa renda de pequenas cidades como Bragança, Quatipuru e Maracanã, em casas de barro, com animais domésticos, moscas e mesmo ratos em volta.
E tudo isso para que as famílias recebam dos intermediários cerca de R$ 1 por quilo de carne extraída.
A proibição, porém, não cessou por inteiro o consumo, afirma o promotor Marco Aurélio do Nascimento, responsável pelos acordos.

MERCADO PARALELO
Hoje, alguns estabelecimentos ainda compram o produto -feito sob as mesmas condições precárias-, mas numa espécie de mercado paralelo e ilegal.
Além disso, diz Nascimento, passou-se a exportar a carne para outros Estados, que ainda não fiscalizam seu comércio, como os do Nordeste e do Sudeste -o Espírito Santo, por exemplo.
Para comer ou usar o caranguejo em um prato típico, é necessário agora comprá-lo inteiro e retirar pacientemente a carne de cada um dos animais.
A boa notícia é que a primeira indústria de extração da carne no Pará está em processo de implantação, aguardando atualmente sua licença ambiental.
(JOÃO CARLOS MAGALHÃES)


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