São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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Impunidade estimula crimes em PE, diz ONG

FÁBIO GUIBU
da Agência Folha, em Recife


A impunidade e a omissão do Estado no controle da violência foram apontadas pelo Gajop (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares) como os principais fatores de estímulo ao crime no Grande Recife. A organização foi a criadora do programa de proteção a testemunhas adotado pelo governo federal.
Segundo a entidade, que há dez anos pesquisa a violência no Estado, a ocorrência de homicídios também está associada à crise social e à "cultura da vingança privada" (ação de fazer justiça com as próprias mãos).
"Muitas pessoas ainda acham que podem lavar a honra com a violência", disse a advogada e coordenadora-adjunta do Gajop, Valdênia Brito. "Veja o exemplo recente do prefeito de Recife, Roberto Magalhães (PFL)."
Em 9 de agosto, o prefeito entrou armado na redação do "Jornal do Commercio" e ameaçou um jornalista por acreditar que teve sua honra atacada em notas publicadas em uma coluna social.
Pesquisas feitas pela entidade revelam que conflitos interpessoais, como brigas casuais e por motivos fúteis, foram responsáveis por cerca de 20% dos homicídios cometidos na região metropolitana de Recife nos últimos três anos.
A entidade revelou ainda que 98% dos assassinos são homens e que a maioria deles -em torno de 80%- utilizou armas de fogo para matar.
Ainda segundo o Gajop, cerca de 90% das vítimas são do sexo masculino. A maioria morre na rua, durante os fins-de-semana -entre a madrugada de sábado e a de segunda-feira.
Números contestados
A Secretaria da Defesa Social de Pernambuco contesta os números sobre a violência divulgados pelo Datasus e afirma que 915 pessoas foram assassinadas em 1997 no Grande Recife, e não 1.946, como afirma o Ministério da Saúde.
Segundo a diretora executiva de comunicação do órgão, Maria Gorete Queiroz, os dados divulgados pela secretaria são do IML (Instituto de Medicina Legal) e constam nos arquivos do Estado.
No ano passado, disse a diretora, 1.139 pessoas foram mortas na região metropolitana. Nos primeiros sete meses deste ano, afirmou, foram registrados 614 homicídios no Grande Recife.
De acordo com Maria Gorete, há meio ano os índices referentes aos assassinatos cometidos no Estado vêm caindo mensalmente em relação ao mesmo período de 98. Segundo ela, "é a primeira vez em três anos" que isso acontece.
A secretaria acredita que o número de homicídios está caindo graças ao "emprego intensificado dos órgãos operativos nas ações preventivas e repressivas".
Segundo a diretora, nos últimos seis meses o efetivo policial nas ruas aumentou e novos veículos destinados à segurança pública foram adquiridos. Além disso, as polícias Civil e Militar receberam novos equipamentos.


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