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CRIME
De janeiro a junho deste ano foram registrados na região metropolitana 718 assassinatos, 70% do total de 97
Impunidade agrava violência em Vitória
MALU GASPAR
enviada especial a Vitória
Tráfico de drogas, grupos de extermínio, violência policial. Agravados pela forte sensação de impunidade, esses ingredientes se
somam para fazer da Grande Vitória, no Espírito Santo, a região
metropolitana mais violenta do
Brasil.
Um sistema de segurança pública sucateado completa o quadro e
abre espaço para que o número de
pessoas assassinadas cresça constantemente, deixando a população cada vez mais assustada.
De janeiro a junho, foram registrados na região metropolitana,
segundo a prefeitura da capital,
718 assassinatos, 70% do total de
97, de acordo com o Datasus.
Só no município de Serra, o
mais violento da Grande Vitória
(que inclui também Cariacica, Vila Velha e Viana), os assassinatos
registrados até julho passado já
são 82% de todas as mortes de 97,
sempre segundo o Datasus.
Tráfico
Um relatório elaborado pela
prefeitura de Vitória, a partir de
dados recolhidos com as polícias
e os hospitais, mostra que, no primeiro semestre, 19% dos homicídios cuja causa é identificável estão relacionados ao tráfico.
Os motivos, nesses casos, são dívidas de drogas e disputas por bocas de fumo, o que faz com que a
população morta seja predominantemente jovem -38% das
pessoas assassinadas no primeiro
trimestre tinham de 15 anos a 24
anos.
Os grupos de extermínio, apontados por todas as pessoas como
parcela importante da criminalidade na região, não aparecem de
forma clara no relatório.
Mesmo assim, sua existência é
reconhecida até pelo governo do
Estado do Espírito Santo.
Os crimes cometidos de madrugada, por homens armados em
um carro ou uma moto, geralmente com características de crimes planejados, reforçam essa
impressão.
Crime organizado
O arcebispo de Vitória, Silvestre
Scandian, é um dos que extrapola
os números.
"O tráfico, que se alastrou a partir do Rio de Janeiro, encontrou
aqui uma polícia mal preparada e
mal armada. Acabou criando ramificações dentro da própria polícia e com vários outros setores.
Existe uma certa promiscuidade
com braços do Estado. Aqui ninguém vai negar isso", afirma
Scandian.
Nem o governo estadual nega
que haja policiais que cometam
crimes.
Mas o governador do Espírito
Santo, José Ignácio Ferreira
(PSDB), que também reconhece a
existência dos grupos de extermínio, afirma que os policiais que
participam dos grupos são muito
poucos (leia entrevista na página
3-4).
As outras causas para os assassinatos identificadas no relatório
semestral produzido pela prefeitura são, pela ordem, vingança,
briga e assalto.
Pelos dados do primeiro semestre, a polícia aparece como possível culpada em apenas 2,2% dos
homicídios.
O problema é que a maioria dos
crimes não é solucionada.
O levantamento da prefeitura
sobre o primeiro semestre deste
ano mostra que, em 58% dos casos, não há causa provável para os
crimes.
O chefe da divisão de homicídios do Estado do Espírito Santo,
Germano Pedrosa, diz que apenas
na metade dos inquéritos abertos
o responsável é encontrado.
Além disso, o número de mortes apuradas pela prefeitura nos
hospitais é bem maior que o número de ocorrências da Secretaria
de Segurança Pública do Estado
do Espírito Santo, o que sugere
uma subnotificação de homicídios (leia texto nesta página).
"A sensação de impunidade hoje é total. Além disso, os distritos
estão tão mal organizados que se
tornaram a última alternativa para as pessoas", diz Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB), prefeito da
capital capixaba.
Em busca de uma alternativa, as
comunidades locais têm se mobilizado para ajudar a polícia a comprar carros, reformar e construir
sedes de delegacias. Em Serra, por
exemplo, há bairros em que todas
as reformas e carros foram compradas pelos moradores ou pela
prefeitura.
"A gente não pode esperar que o
Estado decida investir, temos que
tomar providência", diz o líder
comunitário Jesus Bezerra.
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