São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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SAÚDE

Quase 40% dos casos de retinoblastoma no país são detectados somente quando o câncer já se espalhou

Brilho no olho revela tumor infantil

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O brilho branco no olho da menina apareceu em várias de suas fotos, mas passou despercebido até pelos pais, que são médicos.
Marco Aurélio, 38, ficava admirado com a beleza dos olhos "castanhos e meio claros" da filha, mas não notou o reflexo, sinal de um tumor, o retinoblastoma, causado por alterações nas células da retina -o "filme fotográfico" do olho, membrana sensível à luz.
O médico conta que a doença foi descoberta porque sua mulher decidiu levar a garota ao oftalmologista para uma avaliação geral. "Quando fomos alertados para o sinal que aparece nas fotos fomos revê-las. Em todas, havia mais de seis meses, minha filha já apresentava aquele halo branco. Talvez, se tivéssemos percebido, ela não teria perdido o olhinho."
Quase 40% dos casos de retinoblastoma de países em desenvolvimento, como o Brasil, só são detectados quando o tumor já se espalhou para fora do olho -e é mais difícil de tratar.
A Tucca (Associação Brasileira para Crianças com Tumor Cerebral) lançou neste mês em São Paulo campanha para que os pais levem os filhos o mais cedo possível para fazer exames oftalmológicos e se atenham a qualquer brilho ou mancha esbranquiçados nos olhos das crianças, um dos principais sinais da doença.
A melhor maneira de verificar é observar fotos tiradas em locais não muito claros, quando o flash é jogado diretamente sobre os olhos e dilata a pupila. Dificilmente o retinoblastoma causa dores. O déficit de visão só pode aparecer muito tarde. "O globo ocular fica em uma cavidade, espaço para que o tumor cresça sem grandes sintomas", diz Sidnei Epelman, presidente da Tucca.
Como o fundo do olho é vermelho quando está normal, a mancha branca serve de alerta. Pode ser evidência de uma série de outras doenças. Mas também pode ser o câncer que, quando detectado nesse estágio, permite a conservação do olho em cerca de metade dos casos. "Apesar de raro, o retinoblastoma é extremamente agressivo", afirma Martha Motono Chojniak, diretora do Departamento de Oftalmologia do Hospital do Câncer de São Paulo.
"O ideal seria que toda criança fizesse um exame de fundo de olho o mais cedo possível", diz a oftalmologista Clélia Maria Erwenne, chefe do setor de oncologia ocular do Instituto da Visão da Universidade Federal de São Paulo. Os exames oftalmológicos podem ser feitos a partir do primeiro dia de vida da criança. Aquelas com histórico do câncer na família precisam fazer uma avaliação no primeiro mês.
A campanha também traz alertas para oftalmologistas e pediatras. O aviso, para os primeiros, é para que não hesitem em dilatar a pupila da criança para examinar o fundo do olho. Clélia diz que muitos pais pedem que o profissional evite a dilatação por causa do ardor causado por colírios. O pediatra pode fazer uma avaliação simples, com uma lanterna, e encaminhar casos suspeitos.


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