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OPINIÃO
Um emérito sem mérito
PAULO ROBERTO RAYMUNDO
e ALCIDES DE SOUZA PINTO
É conhecido o dito daquele professor da república dos Massageras: "Quanto é dois vezes dois não
é a faculdade que deve determinar,
mas o nosso general". A frase, de
um livro de Hermann Hesse, sintetiza a repulsa dos que vêem alguns acadêmicos pôr "seus conhecimentos e métodos à disposição dos detentores do poder".
Após os governos militares, temos visto certos intelectuais alistarem-se para defender os interesses do capital externo e da alta
burguesia local, contra as necessidades mais básicas do nosso povo.
Referimo-nos aos que, prestigiados pelo seu engajamento na resistência à ditadura, não hesitam
(ou, se o fazem, só por breves instantes) em abonar a ação do predador externo com sua biografia.
O mais importante deles é Fernando Henrique Cardoso, ex-professor da USP. Em maio de 92, a
congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
concedeu-lhe o título de professor
emérito. Preocupados em julgar
não a congregação, mas o significado extra-acadêmico da titulação, cremos que o problema diz
respeito ao comportamento do
outorgado, homem público que,
nos últimos cinco anos, deu revelações diárias da sua natureza camaleônica. Seu caráter político
oblíquo mostra-se em atitudes que
vão do "esqueçam o que escrevi"
até mimetizar gestos banais do superior hierárquico, que dá entrevistas nos jardins da Casa Branca.
Quando a USP condecora um
futuro déspota, isso excede as razões puramente acadêmicas para
abrir a possibilidade de essa concessão tornar-se passível de (mau)
uso político. Estudantes, professores e funcionários da USP e a congregação da FFLCH não podem
aceitar que o maior responsável
pelo desmonte do ensino público,
conquanto tenha construído sua
vida profissional na escola pública
(e que dispensa mero tratamento
policial aos colegas docentes das
universidades federais), mantenha no currículo o mesmo título
de patronos da nossa intelectualidade, como os professores Florestan Fernandes e Milton Santos.
Humilde, mas indignadamente,
sugerimos às entidades representativas da USP um plebiscito para
que a comunidade uspiana decida
sobre a cassação ou não do título.
Se a decisão da maioria indicar o
banimento de FHC da FFLCH, como cremos que aconteça, toda a
galeria dos professores eméritos
da USP, intelectuais maiores,
comprometidos com o estudo
d'"O Príncipe" (o livro) e não em
bajular o príncipe (o de Washington), sairá do ato recondecorada.
Paulo Roberto Pereira Raymundo, 44, contador, é pós-graduado em administração de empresas pela FGV, graduando do curso de filosofia da USP e fiscal do INSS. É autor do livro "O
Que é Administração" (Ed. Brasiliense)
Alcides de Souza Pinto, 39, é graduado em direito e ciências sociais pela USP e fiscal do INSS
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