São Paulo, terça, 15 de setembro de 1998

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MEIO AMBIENTE
Produto estava sendo despejado no canal que liga a lagoa dos Patos ao mar; pesca na região está proibida
Justiça suspende despejo de ácido no RS

LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Porto Alegre

O despejo de ácido sulfúrico do navio Bahamas no canal que liga a lagoa dos Patos ao mar, no porto de Rio Grande, está suspenso até amanhã devido a liminar concedida pelo juiz Ricardo Nske, da 1ª Vara Federal de Rio Grande.
A decisão, tomada anteontem, foi motivada pela ação do grupo ambientalista Greenpeace, que se reuniu com integrantes do Ministério Público e lhes repassou alguns dados sobre os danos ecológicos causados pelo despejo do ácido sulfúrico no canal.
Ontem, a administração do porto determinou, também, a transferência das cem toneladas de óleo diesel acumuladas no navio para caminhões-tanque, evitando o despejo na água junto com as 12 mil toneladas de ácido existentes no Bahamas.
Além da denúncia do Greenpeace, segundo a qual as autoridades portuárias optaram pelo derrame em vez de adotar soluções menos prejudiciais (e mais onerosas) ao meio ambiente, o delegado da Polícia Federal Glauber Diehl revelou haver indícios de que o acidente possa ter sido uma forma de a empresa suíça Chemoil International, responsável pelo navio, conseguir o dinheiro do seguro.

Alternativas
As outras alternativas, segundo o grupo ambientalista, teriam sido a utilização de um tanque vitrificado para transfusão do ácido ou o reboque da embarcação para alto-mar.
Um dos motivos que levaram o delegado da Polícia Federal Glauber Diehl à suspeita é o fato de a memória do computador de bordo ter sido apagada.
Nessa memória, havia duas informações sobre as quais o Greenpeace faz outras acusações, como o fato de o navio nunca ter passado por uma vistoria e ter limitado seu trajeto a portos com legislação pouco rígida.
O seguro, de acordo com o delegado, é avaliado em cerca de US$ 75 mil.
Se a opção da Capitania dos Portos fosse a de recorrer à transferência da carga para um tanque vitrificado ou ao reboque do navio, os custos ficariam entre R$ 3,6 milhões e R$ 12 milhões.
Ou seja, nas duas hipóteses, há suspeita de que o vazamento, com danos ao meio ambiente e prejuízos financeiros aos 6.500 pescadores da região, atenderia a interesses meramente econômicos. O derrame do ácido, um produto extremamente tóxico, já provocou a morte de peixes na região e a pesca está proibida.

Outro lado
O advogado da empresa suíça Chemoil International, Renato Caetano, limitou-se a dizer que, se a Polícia Federal tem essas suspeitas, deve apresentar provas.



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