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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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ABASTECIMENTO

Eles não vêem razão técnica para suspender racionamento no Alto Cotia e se dizem preocupados com o Cantareira

Para especialistas, Sabesp adia o inevitável

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao suspender por tempo indeterminado o racionamento de água nas cidades atendidas pelo sistema Alto Cotia, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) apenas está adiando o inevitável.
Não há razões técnicas para a decisão, anunciada anteontem à noite, e, se ela foi tomada por motivos sociais ou políticos, pode, até o fim do verão, se voltar contra seus autores. A opinião é de especialistas ouvidos pela Folha.
Eles também afirmam estar preocupados com o sistema Cantareira. A opção do governo por só avaliar em novembro se fará cortes no abastecimento dos 9 milhões de pessoas atendidas pelo sistema pode colocá-las em racionamento por um longo período.
O esvaziamento progressivo das represas pode causar ainda problemas na captação e no tratamento da água, já que, quando seu nível está muito baixo, além de ser tecnicamente mais difícil bombeá-la, ela vem mais suja.
Depois do aumento no nível dos reservatórios no fim de semana, em razão da chuva e do menor consumo (provavelmente influenciado pelo tempo frio), eles voltaram lentamente a secar.
Os que formam o sistema Cantareira caíram de 9,4% para 9,2%; a represa Pedro Beicht (do Alto Cotia) passou de 8,2% para 8,1% de sua capacidade. Ela tinha ontem um volume operacional menor do que na segunda-feira retrasada (8,5%), quando a Sabesp disse que decretaria o racionamento. Não há previsão de chuvas fortes para os próximos dias.
"Não houve mudança significativa no quadro de reservação que justifique a suspensão do racionamento. Foi uma decisão política, que depende mais da natureza do que da gestão do sistema", sustenta Helifax Pinto de Souza, presidente do Sintaema (sindicato dos funcionários da Sabesp).
"A suspensão mostra insegurança e adia uma crise inevitável. Para quem ia ficar sem água, é bom, mas o desgaste, quando o racionamento tiver de voltar a ser anunciado será grande", afirma Marussia Whately, especialista em recursos hídricos do ISA (Instituto Socioambiental).
Para ela, o não-racionamento de água na área do Cantareira é ainda mais irresponsável. Isso porque o sistema é bianual, ou seja, demora dois anos para esvaziar e dois para encher (enquanto os demais sistemas levam só um ano). Este seria o primeiro ano de enchimento, mas o nível atual do sistema é menor do que em 2002, quando ele ainda esvaziava.
"No gerenciamento de reservatórios, a tomada de decisões é sempre de risco. Se o gestor trabalha com os reservatórios mais vazios, aumenta a chance de ter problemas à frente, pois o ideal é que eles cheguem ao fim de março cheios, para aguentar a estiagem do inverno", afirma Mário Thadeu Lemes de Barros, professor da Escola Politécnica da USP.
Ele ressalta, porém, que as decisões dependem de fatores que não são estritamente técnicos e não podem ser desprezados. "É fácil criticar sem saber exatamente o que está em jogo", afirma.
"A Sabesp está arriscando muito porque não consegue se adiantar aos problemas", diz Aldo Rebouças, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.


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