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ABASTECIMENTO
Eles não vêem razão técnica para suspender racionamento no Alto Cotia e se dizem preocupados com o Cantareira
Para especialistas, Sabesp adia o inevitável
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao suspender por tempo indeterminado o racionamento de
água nas cidades atendidas pelo
sistema Alto Cotia, a Sabesp
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) apenas está adiando o inevitável.
Não há razões técnicas para a
decisão, anunciada anteontem à
noite, e, se ela foi tomada por motivos sociais ou políticos, pode,
até o fim do verão, se voltar contra
seus autores. A opinião é de especialistas ouvidos pela Folha.
Eles também afirmam estar
preocupados com o sistema Cantareira. A opção do governo por
só avaliar em novembro se fará
cortes no abastecimento dos 9 milhões de pessoas atendidas pelo
sistema pode colocá-las em racionamento por um longo período.
O esvaziamento progressivo das
represas pode causar ainda problemas na captação e no tratamento da água, já que, quando
seu nível está muito baixo, além
de ser tecnicamente mais difícil
bombeá-la, ela vem mais suja.
Depois do aumento no nível dos
reservatórios no fim de semana,
em razão da chuva e do menor
consumo (provavelmente influenciado pelo tempo frio), eles
voltaram lentamente a secar.
Os que formam o sistema Cantareira caíram de 9,4% para 9,2%;
a represa Pedro Beicht (do Alto
Cotia) passou de 8,2% para 8,1%
de sua capacidade. Ela tinha ontem um volume operacional menor do que na segunda-feira retrasada (8,5%), quando a Sabesp
disse que decretaria o racionamento. Não há previsão de chuvas
fortes para os próximos dias.
"Não houve mudança significativa no quadro de reservação que
justifique a suspensão do racionamento. Foi uma decisão política,
que depende mais da natureza do
que da gestão do sistema", sustenta Helifax Pinto de Souza, presidente do Sintaema (sindicato dos
funcionários da Sabesp).
"A suspensão mostra insegurança e adia uma crise inevitável.
Para quem ia ficar sem água, é
bom, mas o desgaste, quando o
racionamento tiver de voltar a ser
anunciado será grande", afirma
Marussia Whately, especialista
em recursos hídricos do ISA (Instituto Socioambiental).
Para ela, o não-racionamento
de água na área do Cantareira é
ainda mais irresponsável. Isso
porque o sistema é bianual, ou seja, demora dois anos para esvaziar
e dois para encher (enquanto os
demais sistemas levam só um
ano). Este seria o primeiro ano de
enchimento, mas o nível atual do
sistema é menor do que em 2002,
quando ele ainda esvaziava.
"No gerenciamento de reservatórios, a tomada de decisões é
sempre de risco. Se o gestor trabalha com os reservatórios mais vazios, aumenta a chance de ter problemas à frente, pois o ideal é que
eles cheguem ao fim de março
cheios, para aguentar a estiagem
do inverno", afirma Mário Thadeu Lemes de Barros, professor
da Escola Politécnica da USP.
Ele ressalta, porém, que as decisões dependem de fatores que não
são estritamente técnicos e não
podem ser desprezados. "É fácil
criticar sem saber exatamente o
que está em jogo", afirma.
"A Sabesp está arriscando muito porque não consegue se adiantar aos problemas", diz Aldo Rebouças, pesquisador do Instituto
de Estudos Avançados da USP.
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