|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMBIENTE
Em Ribeirão Preto, 1.300 residências podem explodir, e moradores podem estar contaminados por substâncias cancerígenas
Justiça interdita casas erguidas em lixão
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Quatro conjuntos habitacionais
da zona leste de Ribeirão Preto
correm risco de explosão, e seus
moradores podem ser contaminados por produtos cancerígenos. Os riscos estão expostos em
laudo pericial feito por determinação da Justiça. A área possui
cerca de 1.300 casas e uma população estimada de 3.900 pessoas.
O documento produzido pelo
perito judicial Marco Antônio
Cornetti, 47, concluiu que parte
dos bairros Jardim Juliana, Parque dos Servidores e Jardim Palmeiras 1 e 2 foi construída sobre
um lixão que funcionou na área
entre 1974 e 1978.
Ainda segundo o laudo, todas as
casas sobre o lixão estão condenadas a apresentar rachaduras, como ocorreu em pelo menos 11 delas. As casas foram interditadas
ou demolidas. "Eu entendo que
ali não poderiam morar pessoas,
pelo que apuramos. Mas quem
decidirá é o juiz", disse o perito.
No documento apresentado por
Cornetti, ele enumera 12 substâncias que podem ser encontradas
no solo dos bairros e o risco a que
os moradores estão expostos. Na
lista estão substâncias cancerígenas, como arsênio, benzopireno,
DDT e HCB-hexaclorobenzeno.
Os moradores ouvidos pela Folha afirmam conhecer os riscos de
morar sobre uma área onde existia um lixão, mas falam que não
podem deixar os imóveis sem que
recebam uma indenização da Cohab de Ribeirão Preto.
"Eu sei disso [do risco à saúde].
Mas eu vou fazer o quê? Eu não tenho para onde ir", afirmou a dona-de-casa Gláucia Moraes da Silva Rodrigues, 35, moradora do
Jardim Juliana.
Risco para o aquífero
De acordo com o perito, além
dos moradores, até o aquífero
Guarani pode ser contaminado
pelo lixão, já que não existe nada
que impeça a água da chuva de escoar até o reservatório, cuja área é
de 1,2 milhão de km2 e é considerado o maior local de abrigo de
águas subterrâneas do mundo.
O lixão está sobre um dos principais pontos de recarga do aquífero. Recentemente, Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai (países
abastecidos pelo Guarani) lançaram, em Ribeirão Preto, um plano
de prevenção ambiental para o
maior reservatório de águas.
O local do lixão também não
tem pontos de escape de gás metano que é liberado pelos detritos
acumulados. "Qualquer faísca
pode fazer aquilo lá explodir",
afirmou o perito.
Cornetti foi nomeado pelo juiz
da 11ª Vara Cível de Ribeirão,
Paulo César Gentile, em ação de
moradores dos bairros que pedem indenização contra a Cohab-RP (Companhia Habitacional Regional de Ribeirão Preto), responsável pela construção dos bairros
Juliana e Palmeiras 2.
Segundo a assessoria de imprensa da Cohab, o departamento
jurídico da empresa de habitação
popular já recorreu do laudo, mas
não deu detalhes sobre o teor da
contestação apresentada à Justiça.
As casas dos bairros Jardim Juliana, Parque dos Servidores e Jardim Palmeiras 1 e 2 foram construídas e entregues entre 1991 e
1994, nos governos do agora tucano Welson Gasparini (1989-1992)
e do petista Antonio Palocci Filho
(1993-1996).
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Panorâmica - Saúde: Bactéria pode ter causado a morte de 31 pacientes em hospital estadual de MS Índice
|