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INFÂNCIA
Segundo projeto, ONGs e fundações administrarão monitores e pedagogia; segurança continuará nas mãos do Estado
Alckmin deve entregar Febem a 3º setor
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo do Estado de São
Paulo deve anunciar até o final
deste ano que passará a gestão das
unidades da Febem (Fundação
para o Bem-Estar do Menor) para
entidades do terceiro setor.
De acordo com o plano, a cujo
esboço a Folha teve acesso, organizações não-governamentais
(ONGs), organizações da sociedade civil de interesse público
(Ocips) e fundações cuidarão já a
partir do ano que vem dos monitores e de todo o aspecto pedagógico e profissionalizante dos internos e suas atividades; o Estado
indicará o administrador da unidade e continuará respondendo
pela segurança interna e externa.
O processo de escolha de tais
entidades ainda não está definido,
mas provavelmente será feito por
licitação pública e deverá privilegiar nomes consagrados, que já
apresentem um trabalho consistente com crianças e adolescentes.
Um fonte ouvida pela Folha cita
como exemplo, entre outros, o
Instituto da Cidadania, o Rotary
Club do Brasil, a Fundação Bradesco, a Abrinq e a Fundação
Ayrton Senna. Devem ser privilegiadas ainda entidades religiosas
de diversas denominações que
também tenham trabalho no setor, como a Fundação Mackenzie,
de origem presbiteriana.
"O plano realmente existe, é
ambicioso e mais eu não posso falar", disse à Folha Joaquim Maria
Botelho, assessor de comunicação
social da Febem. "Só que a idéia é
abrir a entidade para a sociedade,
e a sociedade para a entidade, o
que não foi possível até hoje."
A Folha apurou que há uma pequena disputa interna pela paternidade do projeto e pela primazia
de anunciá-lo publicamente. Pela
lógica, Paulo Sérgio de Oliveira e
Costa, o presidente da Febem, deveria fazer as honras. Não fará.
O secretário da Educação, Gabriel Chalita, a quem a entidade é
subordinada, tomou para si e sua
equipe a elaboração e execução
do plano e deve anunciar a mudança ao lado do governador do
Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).
Teria partido dele, Alckmin, a
idéia de reestruturar a entidade,
há cinco meses. Seu modelo é
projeto parecido que funciona em
algumas unidades da Grande Belo
Horizonte com grande sucesso.
Ressalvas
Com plano ambicioso ou não, a
relação da Febem com entidades
não-governamentais nem sempre
foi pacífica. Em diversas situações, representantes de Ocips,
ONGs e fundações foram proibidos de entrar nas unidades, muitas vezes ferindo o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA).
Em julho, doze conselheiros tutelares (representantes da sociedade civil responsáveis por fiscalizar a aplicação do estatuto) que
iriam apurar denúncias de agressão na Vila Maria 3 (zona norte de
São Paulo) tiveram sua entrada
barrada pela direção da unidade.
O caso foi parar na delegacia.
Por isso mesmo, há quem veja
com certo cuidado a iniciativa. É o
caso do representante da comissão de Direitos Humanos da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) e coordenador do grupo de
trabalho para a implementação
do ECA, Ariel de Castro Alves.
"Claro que a parceria é importante, até porque o estatuto prevê
que a questão da infância e da juventude deve ser tratada pelo Estado, pelas famílias e a sociedade
como um todo", disse ele. "Inclusive, as mesmas empresas envolvidas podem ajudar depois a colocação dos jovens no mercado."
O problema, segundo o representante da OAB, é ocorrer uma
"privatização" da Febem, o que
contrariaria totalmente a lei atual.
"Aí sim seríamos totalmente contrários", disse Castro Alves.
Com ele concorda Wilson Tafner, promotor da Infância e Juventude. "A princípio uma participação maior da comunidade será sempre bem-vinda", disse ele.
"Só temos de tomar cuidado para
ver como isso será implantado."
Franco da Rocha
Tafner foi autor da representação que apura a responsabilidade
pessoal dos dirigentes da Febem
de Franco da Rocha (Grande São
Paulo) em relação a irregularidades constatadas por juízes em vistoria no mês passado.
Em resposta a ela, na quarta-feira a juíza Mônica Ribeiro de Souza Paukoski, do Deij (Departamento de Execuções da Infância e
da Juventude), decidiu que a Febem tem 20 dias para resolver os
problemas estruturais e pedagógicos do prédio da unidade.
Todos os jovens da Unidade de
Internação (UI) 31 e da Unidade
de Internação Provisória 1 terão
de receber escolarização e cursos
profissionalizantes, atendimento
médico, odontológico e psicossocial individualizado, ter monitores habilitados em número adequado, atividades de cultura e lazer, condições satisfatórias de higiene e salubridade e ser separados por critérios de idade, compleição física e gravidade do delito
cometido -curiosamente, pelo
novo plano, a maioria destas atribuições seria de responsabilidade
das entidades civis.
Caso isso não ocorra, o presidente Oliveira e Costa poderá ser
afastado do cargo pela Justiça.
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