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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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VIOLÊNCIA

Casa, no Jardim Europa (zona oeste de SP), pegou fogo; ambas tinham marcas de tiro, mas arma não foi encontrada

Mãe e filha são encontradas mortas em casa

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O sobrado número 124 da rua França, no Jardim Europa, bairro de classe alta da zona oeste de São Paulo, esconde um mistério: se Mirian Fonseca Smith, 61, matou a tiros a mãe doente, Maria Aparecida Fonseca Smith, 85, depois ateou fogo ao casarão e usou a mesma arma para se matar.
As duas foram encontradas mortas anteontem à noite, depois de o vigia da rua, Simão Cardoso dos Santos, 24, perceber que o incêndio se alastrava pelo andar superior, por volta das 19h30, e chamar o Corpo de Bombeiros.
Um detalhe impede a polícia de dizer se houve assassinato seguido de suicídio: a arma do crime, provavelmente uma pistola de pequeno calibre, compatível com os ferimentos de ambas, não foi localizada. Segundo o delegado Mauro Guimarães Soares, do 15º DP, a hipótese menos possível, até agora, é que uma terceira pessoa tenha estado na casa e matado as duas. "Encontrar a arma é o que falta para dizer o que houve."
Mãe e filha moravam sozinhas no sobrado e enfrentavam dificuldades financeiras, segundo amigos. Mirian cuidava de Maria Aparecida, que tinha mal de Alzheimer e havia quebrado uma vértebra, o que a mantinha na cama o tempo todo. As duas não teriam contato com parentes.
Na casa, paredes com infiltração e reboco deteriorado revelavam o abandono. Espalhados aqui e ali, no corredor e na cozinha, latas de refrigerante, pacotes de pão de fôrma e biscoitos. Na geladeira, duas panelas de arroz, meia dúzia de ovos, pacotes de presunto e de queijo, margarina, maionese e um saco de acerolas congeladas.
Quando os bombeiros chegaram, a filha estava caída no segundo andar, perto do quarto da mãe. Parte do teto desmoronou, um pedaço do chão desabou.
Ao levar Mirian para fora, bombeiros notaram quatro marcas de tiro do lado esquerdo do peito dela. Havia marca de sangue no corrimão da escada e em outros pontos da casa. Sobre a cama do quarto -onde o fogo foi mais intenso- estava o corpo da Maria Aparecida, quase carbonizado.
Controlado o fogo no sobrado, policiais encontraram em uma sala cerca de 80 latas de querosene, provavelmente o que deu início ao fogo, e um registro de arma em nome de Mirian -uma pistola calibre 6,35-, comprada em 86, mais três cápsulas deflagradas.
Novas pistas surgiram na delegacia, quando o caso era registrado como morte a esclarecer. De madrugada, a psicóloga de Mirian entregou uma carta que recebera dela há dois dias, em que ela relatou estar cada vez mais difícil cuidar sozinha da mãe e que se sentia cansada da vida. No mesmo dia, Mirian entregou a cachorra de estimação para a psicóloga cuidar.
Mãe e filha tinham marcas de tiros de calibre parecido e sinais de queimaduras, diz o Instituto Médico Legal. Para peritos, Mirian pode ter dado quatro tiros contra o peito para tentar se matar.
Maria Aparecida estava morta havia vários dias (de cinco a dez) e Mirian morrera poucas horas antes da autópsia. "A filha pode ter planejado tudo", disse o delegado.
Ontem a polícia voltou à casa, mas nada foi encontrado.


Colaborou o "Agora"


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