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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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SAÚDE

Governo quer reduzir fila de espera no país, que soma 56,7 mil pessoas; número de transplantes cresceu desde 1997

Campanha vai estimular doação de órgãos

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Minha família já sabe, sou doador." "A melhor herança que você pode deixar." "Seja feita sua vontade, seja um doador." Com slogans como esses, o Ministério da Saúde pretende reduzir em pelo menos 3% ao ano, até 2007, a fila de órgãos sólidos e zerar a de transplante de córnea.
A pasta lança na próxima semana uma nova campanha para que doadores convençam suas famílias. Hoje, mesmo que uma pessoa deixe registrado em cartório sua opção pela doação, a família pode vetar o transplante.
Atualmente 56.717 pessoas aguardam um órgão -29.381 estão na fila do rim- ou a doação de córnea -21.975 pacientes. O número de transplantes cresceu nos últimos anos (162,2%, de 1997 até abril deste ano) e o total de procedimentos feitos nos quatro primeiros meses deste ano é quase o mesmo do realizado em todo o ano passado. Mas o ministério avalia que o desempenho poderia ser melhor. De 2002 até hoje, a fila cresceu quase 10%.
As córneas, por exemplo, são tecidos que podem ser guardados por vários dias, o que facilita o transplante. Como há melhor oferta, a fila não se justifica.
A maior parte dos transplantes de rim (54%) é feita a partir de doadores vivos, e não de cadáveres, dado contrastante com o de outros países. "Ainda existem questões culturais, falta de informação", disse ontem o ministro da Saúde, Humberto Costa.
A última ação pública para estimular a doação de órgãos foi realizada há cinco anos, após a promulgação da lei 9.434, de 1997, que instituiu a doação presumida -quem não quisesse ter os órgãos retirados para transplantes, deveria colocar um aviso em documentos. "Surtiu, naquele momento, um efeito negativo", afirma Diogo Mendes, coordenador do Sistema Nacional de Transplantes. Não houve uma campanha educação adequada, diz.
Em 2001, o Congresso derrubou o dispositivo, e voltou a ser necessário o consentimento da família.
O ministro defendeu ontem uma legislação "intermediária". "A pessoa deveria declarar em vida e ser respeitada, ainda que a família não quisesse." A pasta realizará um levantamento para saber a opinião da população.
A realização das campanhas permanentes foi reivindicada durante encontros, neste ano, para discutir o sistema. A nova campanha, orçada em R$ 6,5 milhões, estará na TV, no rádio e em revistas entre o dia 19 deste mês e 3 de dezembro, mas o ministério promete manter ações continuadas.
Para José Medina Pestana, presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, é "impossível" reduzir a fila. A associação apóia a campanha, mas diz que quanto mais se investe na assistência, o que tem acontecido no Brasil, os resultados são menos doações -pois menos pessoas morrem. "As filas acabarão quando conseguirmos fazer xenotransplantes [transplantes de órgãos de animais] ou clonagem."
Segundo Pestana, é preciso melhorar a notificação de possíveis doadores. De cada dez possibilidades, apenas uma chega à central de transplantes, diz. O ministério informou estar investindo na formação de profissionais.


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