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SAÚDE
Governo quer reduzir fila de espera no país, que soma 56,7 mil pessoas; número de transplantes cresceu desde 1997
Campanha vai estimular doação de órgãos
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Minha família já sabe, sou doador." "A melhor herança que você
pode deixar." "Seja feita sua vontade, seja um doador." Com slogans como esses, o Ministério da
Saúde pretende reduzir em pelo
menos 3% ao ano, até 2007, a fila
de órgãos sólidos e zerar a de
transplante de córnea.
A pasta lança na próxima semana uma nova campanha para que
doadores convençam suas famílias. Hoje, mesmo que uma pessoa deixe registrado em cartório
sua opção pela doação, a família
pode vetar o transplante.
Atualmente 56.717 pessoas
aguardam um órgão -29.381 estão na fila do rim- ou a doação
de córnea -21.975 pacientes. O
número de transplantes cresceu
nos últimos anos (162,2%, de 1997
até abril deste ano) e o total de
procedimentos feitos nos quatro
primeiros meses deste ano é quase o mesmo do realizado em todo
o ano passado. Mas o ministério
avalia que o desempenho poderia
ser melhor. De 2002 até hoje, a fila
cresceu quase 10%.
As córneas, por exemplo, são tecidos que podem ser guardados
por vários dias, o que facilita o
transplante. Como há melhor
oferta, a fila não se justifica.
A maior parte dos transplantes
de rim (54%) é feita a partir de
doadores vivos, e não de cadáveres, dado contrastante com o de
outros países. "Ainda existem
questões culturais, falta de informação", disse ontem o ministro
da Saúde, Humberto Costa.
A última ação pública para estimular a doação de órgãos foi realizada há cinco anos, após a promulgação da lei 9.434, de 1997,
que instituiu a doação presumida
-quem não quisesse ter os órgãos retirados para transplantes,
deveria colocar um aviso em documentos. "Surtiu, naquele momento, um efeito negativo", afirma Diogo Mendes, coordenador
do Sistema Nacional de Transplantes. Não houve uma campanha educação adequada, diz.
Em 2001, o Congresso derrubou
o dispositivo, e voltou a ser necessário o consentimento da família.
O ministro defendeu ontem
uma legislação "intermediária".
"A pessoa deveria declarar em vida e ser respeitada, ainda que a família não quisesse." A pasta realizará um levantamento para saber
a opinião da população.
A realização das campanhas
permanentes foi reivindicada durante encontros, neste ano, para
discutir o sistema. A nova campanha, orçada em R$ 6,5 milhões,
estará na TV, no rádio e em revistas entre o dia 19 deste mês e 3 de
dezembro, mas o ministério promete manter ações continuadas.
Para José Medina Pestana, presidente da Associação Brasileira
de Transplantes de Órgãos, é "impossível" reduzir a fila. A associação apóia a campanha, mas diz
que quanto mais se investe na assistência, o que tem acontecido no
Brasil, os resultados são menos
doações -pois menos pessoas
morrem. "As filas acabarão quando conseguirmos fazer xenotransplantes [transplantes de órgãos de animais] ou clonagem."
Segundo Pestana, é preciso melhorar a notificação de possíveis
doadores. De cada dez possibilidades, apenas uma chega à central de transplantes, diz. O ministério informou estar investindo
na formação de profissionais.
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