São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2006

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Governo endurece e aquartela operadores

Lula autoriza Aeronáutica a resolver a questão "militarmente"; controladores foram confinados e comando do Cindacta-1, trocado

Ministro Pires (Defesa) ficou contrariado com a decisão de convocar cerca de 100 controladores para trabalhar em "regime de prontidão"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou da decisão de tratar a operação-padrão dos controladores de vôo "politicamente" e autorizou o Comando da Aeronáutica a resolver os problemas "militarmente" -ou seja, endurecendo contra os profissionais, em nome da "disciplina e da ordem".
Os dois primeiros efeitos da decisão foram o aquartelamento do Cindacta-1 (o centro de controle de tráfego aéreo sediado em Brasília), com a convocação de toda a equipe, e não só de controladores, e a troca do seu comandante.
Saiu o coronel-aviador Lúcio Nei Rivera da Silva, há oito meses no cargo, e entrou ontem mesmo o também coronel-aviador Carlos Vuyk de Aquino, que comandou por dois anos o Cindacta-2, de Curitiba.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, saiu de uma reunião com os ministros Waldir Pires (Defesa) e Dilma Rousseff (Casa Civil) na noite de segunda-feira, no Planalto, já liberado para a troca. Voltou a seu gabinete, chamou Rivera para uma conversa e comunicou que ele estava deixando o cargo.
Para amenizar o impacto, a Aeronáutica justificou em nota que o objetivo da troca foi "ter um assessoramento direto acerca dos assuntos relativos ao sistema de controle de tráfego aéreo". Rivera ficará, portanto, lotado no Comando.
A troca de Rivera por Aquino já foi comunicada oficialmente ontem, junto com a decisão de adotar um sistema de prontidão ("plano de reunião" no jargão militar) no Cindacta-1, convocando para o trabalho não só os controladores, mas todos que trabalham no setor, inclusive na área administrativa.
A orientação para o novo comandante é tratar os controladores de vôo, que são na grande maioria sargentos, como militares. Equivale a dizer que passou a imperar uma espécie de "linha dura", inclusive com ameaças veladas de punições para os líderes do movimento.
O argumento é de que os militares são proibidos de pertencer a movimentos reivindicatórios e de fazer greves ou operações-padrão, como a que ocorre desde 27 de outubro. Ontem, segundo a Infraero, 35,5% dos vôos previstos tiveram algum tipo de atraso.
Circulava ontem na Aeronáutica, como "prova" de quebra da disciplina e da ordem, trechos de notas dos controladores militares em blogs na internet. Num deles, havia uma conclamação para "que os ventos que abalaram Brasília se espalhem por todos os rincões de nossa pátria".
Em entrevista no Planalto, após reunião com o presidente Lula, o Waldir Pires, que anunciou a criação de um grupo de trabalho como "solução" para a crise, mostrou-se seguidas vezes contrariado com a decisão de aquartelamento de cerca de 100 controladores de vôo. Segundo ele, o grupo tem prazo de 60 dias para analisar a idéia de transformar a carreira de controlador num atividade de civis.


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