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Governo endurece e aquartela operadores
Lula autoriza Aeronáutica a resolver a questão "militarmente"; controladores foram confinados e comando do Cindacta-1, trocado
Ministro Pires (Defesa) ficou contrariado com a decisão de convocar cerca de 100 controladores para trabalhar em "regime de prontidão"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuou da decisão de
tratar a operação-padrão dos
controladores de vôo "politicamente" e autorizou o Comando
da Aeronáutica a resolver os
problemas "militarmente"
-ou seja, endurecendo contra
os profissionais, em nome da
"disciplina e da ordem".
Os dois primeiros efeitos da
decisão foram o aquartelamento do Cindacta-1 (o centro de
controle de tráfego aéreo sediado em Brasília), com a convocação de toda a equipe, e não só de
controladores, e a troca do seu
comandante.
Saiu o coronel-aviador Lúcio
Nei Rivera da Silva, há oito meses no cargo, e entrou ontem
mesmo o também coronel-aviador Carlos Vuyk de Aquino,
que comandou por dois anos o
Cindacta-2, de Curitiba.
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, saiu de uma reunião com os
ministros Waldir Pires (Defesa) e Dilma Rousseff (Casa Civil) na noite de segunda-feira,
no Planalto, já liberado para a
troca. Voltou a seu gabinete,
chamou Rivera para uma conversa e comunicou que ele estava deixando o cargo.
Para amenizar o impacto, a
Aeronáutica justificou em nota
que o objetivo da troca foi "ter
um assessoramento direto
acerca dos assuntos relativos
ao sistema de controle de tráfego aéreo". Rivera ficará, portanto, lotado no Comando.
A troca de Rivera por Aquino
já foi comunicada oficialmente
ontem, junto com a decisão de
adotar um sistema de prontidão ("plano de reunião" no jargão militar) no Cindacta-1, convocando para o trabalho não só
os controladores, mas todos
que trabalham no setor, inclusive na área administrativa.
A orientação para o novo comandante é tratar os controladores de vôo, que são na grande
maioria sargentos, como militares. Equivale a dizer que passou a imperar uma espécie de
"linha dura", inclusive com
ameaças veladas de punições
para os líderes do movimento.
O argumento é de que os militares são proibidos de pertencer a movimentos reivindicatórios e de fazer greves ou operações-padrão, como a que ocorre
desde 27 de outubro. Ontem,
segundo a Infraero, 35,5% dos
vôos previstos tiveram algum
tipo de atraso.
Circulava ontem na Aeronáutica, como "prova" de quebra da disciplina e da ordem,
trechos de notas dos controladores militares em blogs na internet. Num deles, havia uma
conclamação para "que os ventos que abalaram Brasília se espalhem por todos os rincões de
nossa pátria".
Em entrevista no Planalto,
após reunião com o presidente
Lula, o Waldir Pires, que anunciou a criação de um grupo de
trabalho como "solução" para a
crise, mostrou-se seguidas vezes contrariado com a decisão
de aquartelamento de cerca de
100 controladores de vôo. Segundo ele, o grupo tem prazo de
60 dias para analisar a idéia de
transformar a carreira de controlador num atividade de civis.
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