São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2001

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SEGURANÇA

Juiz considera que gravações e depoimentos são indícios fortes de que investigadores comandavam negócio ilícito

Policiais acusados de tráfico são presos

Gustavo Roth/Folha Imagem
Guilherme Barbosa Palazzo, Hélio Carlo Barba e Alessandro Ramos da Silva (esq. para dir.), investigadores acusados por integrar grupo que comanda o tráfico na região da cracolândia (centro de SP)


DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça decretou ontem a prisão provisória, por 15 dias, dos cinco policiais acusados de comandar o tráfico de drogas na região conhecida como cracolândia, no centro de São Paulo.
A decisão do juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais, Maurício Lemos Porto Alves, foi anunciada na tarde de ontem. Pouco tempo depois, os cinco investigadores se entregaram.
A prisão preventiva pode ser prorrogada por igual período. Ela é utilizada para evitar que os suspeitos influenciem o depoimento de testemunhas, por exemplo.
Os policiais do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) José Carlos de Castilho, Hélio Carlo Barba, Alessandro Ramos da Silva, Guilherme Barbosa Palazzo e Mauro César Bartolomeu são acusados de abuso de autoridade, corrupção, concussão (extorsão praticada por funcionário público) e associação para tráfico de drogas.
Bartolomeu e Castilho se entregaram na própria Corregedoria da Polícia Civil e foram transferidos ao Presídio Especial da Polícia Civil, que fica no Carandiru. Os outros três decidiram se apresentar no próprio presídio.
A acusação contra os cinco é sustentada pelo depoimento de 11 testemunhas (dez delas presas pelos mesmos policiais que agora são acusados de envolvimento com o tráfico) e por fotos, imagens gravadas pelo Ministério Público e veiculadas nesta semana pela Rede Globo e pelo jornal "Diário de S.Paulo". A prisão foi pedida pela polícia e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
O juiz afirma, em sua decisão, que "merecem destaque as declarações prestadas por duas mulheres... atribuindo a Castilho e Barba a disputa entre os próprios no comércio ilícito de substância entorpecente vulgarmente conhecida como crack".
Porto Alves destaca ainda que "tais alegações ganham força ao serem assistidas as fitas de vídeo contendo cenas que estarreceram a polícia e a sociedade civil".
O delegado Osmar Ribeiro Santos, da 4ª Delegacia de Crimes Funcionais, que preside o inquérito, disse ontem que a corregedoria já sabia de irregularidades praticadas pelos policiais e investigava o caso. De acordo com o delegado, a intenção do órgão era fazer a prisão em flagrante.
Santos afirmou que Castilho e Bartolomeu negaram, durante seus depoimentos, que tivessem praticado qualquer irregularidade. Segundo o delegado, Castilho disse que estava "fazendo um empréstimo" à pessoa que aparece no vídeo e não lhe extorquindo.
Quanto ao homem que teve as algemas retiradas, afirmaram, de acordo com o delegado, que soltaram o suspeito porque contra ele não havia nenhum mandado de prisão e, por isso, resolveram soltá-lo, sem levá-lo à delegacia.
Quanto ao uso de extintor de incêndio, acionado contra uma mulher, o delegado disse que ainda não havia ouvido os outros três policiais que se entregaram diretamente no presídio. O depoimento desses investigadores deve acontecer hoje.
Santos ainda afirmou que os outros três homens que aparecem nas filmagens seriam informantes da polícia e serão localizados para prestar depoimentos.
O advogado de Bartolomeu e Castilho, Antonio Calil de Mello, disse que não concordava com a decretação de prisão. "A prisão é um sofrimento certo por um delito eventual", afirmou. "A apuração está sumária e, por cautela e esperança, já vi muitos casos nos quais as pessoas são absolvidas."


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