São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2001

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SEGURANÇA

Desenhista diz que equipe de Castilho queria R$ 10 mil para evitar que ele e amigo fossem presos; valor não chegou a ser pago

Vítima acusa policial de cobrar propina

DA REPORTAGEM LOCAL

Investigadores do Denarc, órgão da Polícia Civil, são acusados de cobrar R$ 10 mil de propina para liberar dois rapazes detidos no dia 27 de novembro sob a acusação de porte de drogas. A prisão foi feita por investigadores acusados de comandar o tráfico na cracolândia (centro de SP). Os cinco policiais acusados e identificados até agora negam as acusações.
O relato sobre a cobrança de propina aparece em dois depoimentos dados a promotores de Justiça anteontem.
Um deles é do desenhista Adilson Francisco Rocha, 24. Ele aparece sendo solto por investigadores em imagens gravadas em investigação iniciada após denúncia do jornal "Diário de S.Paulo".
O outro depoimento é do advogado de Rocha, Antonio Carlos Rinaldi, 33. Chamado por policiais após a prisão dos dois rapazes, ele aparece nas imagens gravadas pelo Ministério Público conversando com o investigador José Carlos de Castilho e presenciando seu cliente ser solto. Toda a cena se passa em via pública.
O caso não foi para a delegacia, apesar de as cenas terem sido gravadas na cracolândia, região próxima à sede do Denarc.
Rocha e seu amigo, identificado como Chiquinho, foram presos na Vila Prudente, depois de terem sido abordados no carro do desenhista. Depois de terem sido revistados, policiais teriam exibido um papel usado para embalar droga e ameaçado acusá-los de porte de entorpecente. Os dois negam que portavam droga.
Condenado por porte ilegal de arma, Rocha teve suspensão condicional do processo e cumpre pena em regime aberto.
Após a prisão, policiais ligaram para o advogado e acertaram um encontro em uma rua no centro. Lá, Rinaldi diz ter encontrado Rocha e o amigo algemados dentro de um carro da polícia.
A negociação para o pagamento de propina foi feita em um bar, segundo o advogado. Nas imagens feitas pelo Ministério Público, Rocha e Chiquinho aparecem sendo soltos às 2h30 por Castilho.
O advogado afirma não ter participado da negociação, revelada por Rocha após ele ter sido solto. Rinaldi diz que o caso não foi denunciado por receio de represália.
Nada foi pago aos policiais. "Ficou uma promessa e uma ameaça. Eles [os policiais" disseram que tinham o meu cartão e passariam ele para todas as delegacias, assim não conseguiria trabalhar. Ao Rocha, disseram que o achariam em qualquer lugar [se a propina não fosse paga"".
A ameaça para garantir o pagamento de propina havia sido feita também durante a negociação, segundo o advogado de Rocha.
Ele afirma que os policiais ameaçaram segurar um documento que Rocha tem de usar para circular pelas ruas, devido à condenação por porte de arma.
Depois, o documento acabou liberado. Segundo o advogado, Rocha já foi julgado também por um homicídio, mas foi absolvido.



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