São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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PATRIMÔNIO

João Candido afirma que dimensões da obra tornam o caso inédito

Filho de Portinari acha roubo suspeito

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

João Candido Portinari, filho de Candido Portinari (1903-1962), ainda não conseguiu engolir a história de que uma pintura de seu pai avaliada em R$ 2,5 milhões foi roubada de uma galeria de São Paulo e seria vendida por R$ 20 mil numa praça de Taboão da Serra, na Grande São Paulo.
"Essa história está mal contada. Isso não faz sentido", diz João Candido, 66, que criou há 26 anos o Projeto Portinari, responsável pela catalogação da obra e pela preservação da memória de seu pai. Não é exatamente o preço da venda que o assusta. É o alvo dos ladrões -um óleo sobre madeira medindo 1,50m x 2,20m. João Candido parte da hipótese de que ladrão não é estúpido.
"Entrar numa galeria para roubar um quadro de madeira, de dois metros? Pode ser amadorismo, mas o ladrão em geral não é burro. Ele sabe que tem telas, obras que ele pode enrolar, e vai carregar uma obra desse tamanho? Isso parece encomendado. Não há nenhum precedente de alguém entrar numa galeria de arte e roubar um quadro com essa dimensão, de madeira", disse.
Professor aposentado de matemática da PUC do Rio, com um pós-doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology), ele frisa que não quer fazer prejulgamento da polícia paulista ao levantar algumas dúvidas sobre o caso. "Mesmo porque seria leviano fazer qualquer julgamento porque não tenho mais informações sobre o roubo."
Furto ou roubo de um Portinari são raríssimos, diz João Candido. O último caso havia ocorrido em agosto de 1993, segundo Noélia Coutinho, responsável pelo arquivo do Projeto Portinari. Três painéis com santos que estavam na capela Mayrink, na floresta da Tijuca, no Rio, foram furtados.
Era uma encomenda, provavelmente, de colecionadores italianos. Em abril de 1994, as obras foram recuperadas quando estavam em vias de deixar o país.
Em 1995, os originais da capela Mayrink foram transferidos para o Museu Nacional de Belas Artes, no centro do Rio. Desde então a igrejinha no meio da floresta da Tijuca tem réplicas dos santos pintados em 1944 por Portinari.
A dor de cabeça principal do Projeto Portinari é com falsificadores. A cada 15 dias, diz, é apontada uma obra falsificada. A maioria das consultas é feita por meio de correio eletrônico. "Não sou especialista em reconhecer um Portinari original, mas pelo e-mail você nota que é falso."
Foi para tentar conter a onda de falsificações que o Projeto Portinari lançou em 2004 um catálogo "raisonné" do artista. O termo do francês, que pode ser traduzido por arrazoado, designa a publicação que traz informações sobre uma obra desde o momento em que ela saiu do ateliê do artista até o último comprador.
O catálogo disseca 4.919 obras. A base de dados usada para checar as informações editadas no catálogo tem 30 mil documentos.
Com o catálogo "raisonné", o Projeto Portinari chegou à conclusão que até ontem existiam 519 obras falsas do pintor e outras 55 sobre as quais pairam dúvidas.


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