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PATRIMÔNIO
João Candido afirma que dimensões da obra tornam o caso inédito
Filho de Portinari acha roubo suspeito
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
João Candido Portinari, filho de
Candido Portinari (1903-1962),
ainda não conseguiu engolir a história de que uma pintura de seu
pai avaliada em R$ 2,5 milhões foi
roubada de uma galeria de São
Paulo e seria vendida por R$ 20
mil numa praça de Taboão da
Serra, na Grande São Paulo.
"Essa história está mal contada.
Isso não faz sentido", diz João
Candido, 66, que criou há 26 anos
o Projeto Portinari, responsável
pela catalogação da obra e pela
preservação da memória de seu
pai. Não é exatamente o preço da
venda que o assusta. É o alvo dos
ladrões -um óleo sobre madeira
medindo 1,50m x 2,20m. João
Candido parte da hipótese de que
ladrão não é estúpido.
"Entrar numa galeria para roubar um quadro de madeira, de
dois metros? Pode ser amadorismo, mas o ladrão em geral não é
burro. Ele sabe que tem telas,
obras que ele pode enrolar, e vai
carregar uma obra desse tamanho? Isso parece encomendado.
Não há nenhum precedente de alguém entrar numa galeria de arte
e roubar um quadro com essa dimensão, de madeira", disse.
Professor aposentado de matemática da PUC do Rio, com um
pós-doutorado no MIT (Massachusetts Institute of Technology),
ele frisa que não quer fazer prejulgamento da polícia paulista ao levantar algumas dúvidas sobre o
caso. "Mesmo porque seria leviano fazer qualquer julgamento
porque não tenho mais informações sobre o roubo."
Furto ou roubo de um Portinari
são raríssimos, diz João Candido.
O último caso havia ocorrido em
agosto de 1993, segundo Noélia
Coutinho, responsável pelo arquivo do Projeto Portinari. Três
painéis com santos que estavam
na capela Mayrink, na floresta da
Tijuca, no Rio, foram furtados.
Era uma encomenda, provavelmente, de colecionadores italianos. Em abril de 1994, as obras foram recuperadas quando estavam em vias de deixar o país.
Em 1995, os originais da capela
Mayrink foram transferidos para
o Museu Nacional de Belas Artes,
no centro do Rio. Desde então a
igrejinha no meio da floresta da
Tijuca tem réplicas dos santos
pintados em 1944 por Portinari.
A dor de cabeça principal do
Projeto Portinari é com falsificadores. A cada 15 dias, diz, é apontada uma obra falsificada. A
maioria das consultas é feita por
meio de correio eletrônico. "Não
sou especialista em reconhecer
um Portinari original, mas pelo e-mail você nota que é falso."
Foi para tentar conter a onda de
falsificações que o Projeto Portinari lançou em 2004 um catálogo
"raisonné" do artista. O termo do
francês, que pode ser traduzido
por arrazoado, designa a publicação que traz informações sobre
uma obra desde o momento em
que ela saiu do ateliê do artista até
o último comprador.
O catálogo disseca 4.919 obras.
A base de dados usada para checar as informações editadas no
catálogo tem 30 mil documentos.
Com o catálogo "raisonné", o
Projeto Portinari chegou à conclusão que até ontem existiam 519
obras falsas do pintor e outras 55
sobre as quais pairam dúvidas.
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