São Paulo, sexta, 16 de janeiro de 1998.



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Violência leva Sérgio a escola longe de casa

da Reportagem Local

A falta de segurança no Jardim Noronha, bairro da extrema zona sul de São Paulo, levou o estudante Sérgio Inácio dos Santos Oliveira, 18, a estudar à tarde numa escola a uma hora de distância de sua casa.
Mesmo com a ajuda da mãe, Maria Conceição de Oliveira, 41, que antes do sorteio de anteontem passou mais de quatro horas na fila do colégio Maria Petronila, mais perto de casa, tentando uma vaga, o estudante teve a sorte definida no "bingo" realizado no ginásio da escola Alberto Conte, em Santo Amaro (zona sul de São Paulo).
"Em dezembro, no dia em que fui tentar a vaga lá, cheguei às 7h na escola, mas já tinha gente com colchão, que tinha dormido lá. A fila estava enorme. Quando fui atendida, não tinha mais vaga e me indicaram o Alberto Conte", conta Maria Conceição.
Anteontem, no sorteio, Sérgio passou nove horas e meia dentro do abafado ginásio da escola.
"Foi um sufoco. Só saí para ir à cantina, com medo de que saísse o meu número e eu não ouvisse."
A opção por estudar à tarde, apesar da idade de Sérgio, foi causada pelo medo da violência no Jardim Noronha. "Se ele fosse estudar à noite ia chegar quase uma hora da manhã em casa e lá não dá", afirma Maria Conceição.
"Tem muito tráfico de drogas e não dá para passar a pé à noite", diz Sérgio, que terá de sair de casa antes do meio-dia para poder chegar à Alberto Conte antes das 13h.
"São 20 minutos a pé até a avenida onde passa o lotação, que leva mais 40 minutos até o centro de Santo Amaro, onde fica a escola.
Se resolvem apreender as peruas, vou ter de pegar ônibus e aí pode botar pelo menos mais 20 minutos", diz Sérgio.
"Isso porque essa é a escola mais perto de casa", afirma ele. "Tinha vaga num tal de Sabóia, na Adolfo Pinheiro, mas ele teria de pegar mais outro ônibus e não dá, mais longe que isso impossível.", diz Maria da Conceição.
Sérgio estava acostumado com uma viagem bem menor. Até a 8ª série, ele estudava na escola Levi Carneiro, no Jardim Mirna. "Eram 15 minutos, de ônibus, de casa até a escola, mais o trecho a pé." (MO)


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