da Reportagem Local

Este ano será muito diferente para o auxiliar de escritório Samuel de Holanda Bertaze, 16, que só conseguiu vaga no sorteio de anteontem em uma escola que fica a uma hora de sua casa.
Ele vai ter que entrar mais cedo e sair mais tarde do serviço, cortar as saídas com os amigos, as idas ao shopping e principalmente se preparar para enfrentar horas no trânsito para completar o cansativo percurso casa-trabalho, trabalho-casa, casa-escola em um dia, perdendo no mínimo quatro horas no trânsito.
A boa notícia é que a escola onde ele obteve a vaga, a EEPSG Brasílio Machado, na Vila Mariana, zona sudoeste de São Paulo, é uma das dez escolas mais procuradas de São Paulo, devido à qualidade de ensino.
A má é que Bertaze mora em Americanópolis, na zona sul, e trabalha em período integral em Santana, na zona norte, das 7h30 às 16h30.
"Acho que vou enlouquecer, apesar de estar acostumado a ficar horas parado no trânsito ou então rodar a cidade com um envelope embaixo do braço", afirma o garoto, que passa o dia percorrendo bancos e empresas.
Parar de trabalhar
Inconformado, Bertaze diz que vai continuar tentando uma vaga no 1º ano do 2º grau na EESG Dr. Carlos Augusto de Freitas Villalva Júnior, no bairro de Conceição, a 15 minutos de sua casa. "Se não conseguir, acho que muito em breve terei de parar de trabalhar", diz o Bertaze, que ganha um salário de R$ 230.
E com isso vão se os sonhos dele, que planejava comprar um carro no ano que vem, quando completa 18 anos. "Também terei de dizer não aos CDs, às roupas e às saídas com os amigos", diz. "Até concordo com tudo isso porque é bobeira. Mas a única coisa que não quero é perder o ano."
Bertaze afirma que vai aproveitar as horas que acredita passar no trânsito, sobretudo em horário de pico, para estudar o que não vai conseguir em casa, por falta de tempo. "Isso se eu não pegar no sono durante o percurso."
(RN)


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