|
Próximo Texto | Índice
CONTAS PÚBLICAS
Balanço sugere que ex-prefeita cometeu crime ao não incluir despesas no Orçamento; petista nega irregularidades
Serra vê déficit de R$ 1,9 bi na gestão Marta
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Balanço da Prefeitura de São
Paulo obtido pela Folha aponta
um déficit nos cofres municipais
de R$ 1,9 bilhão deixado pela administração Marta Suplicy (PT).
A arrecadação total da prefeitura
em 2004 foi de R$ 13,2 bilhões.
O levantamento, concluído na
sexta pela equipe do prefeito José
Serra (PSDB), aponta que a gestão
passada chegou a deixar de reservar no Orçamento (empenhar)
despesas que acabaram sendo
executadas por fornecedores. Ou
seja, não contabilizou gastos que
agora devem ser cobertos.
Os valores, referentes à posição
de 31 de dezembro e que incluem
secretarias, empresas estatais e
Câmara Municipal, superam as
previsões iniciais feitas pelos tucanos. Os dados devem ser publicadas no "Diário Oficial" do município nos próximos dias. A prefeitura também vai publicar critérios de renegociação com fornecedores para pagar os débitos em
parcelas -e com desconto.
A Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe os governantes de deixar dívidas aos seus sucessores
sem que reservem dinheiro em
caixa para saldá-las.
Se as informações levantadas
pela atual gestão forem confirmadas pelo Tribunal de Contas do
Município, Marta poderá ser enquadrada na lei de crimes fiscais,
que prevê, entre outras penas, a
perda dos direitos políticos.
Assessores da ex-prefeita sustentam que ela deixou dívidas reconhecidas com fornecedores de
R$ 375 milhões e R$ 376 milhões
em caixa para saldá-las. Todos os
empenhos cancelados (despesas
previstas e não pagas) no fim do
ano, dizem os assessores, se referiam a serviços ou obras não realizados (leia texto nesta página).
Além de R$ 652 milhões formalmente reconhecidos (empenhos
liquidados), a atual gestão sustenta que há R$ 351 milhões em despesas não reconhecidas (empenhos não liquidados), R$ 594 milhões de despesas canceladas e
R$ 278 milhões que nem sequer
chegaram a ser empenhados.
Levantamento da Secretaria de
Finanças diz que, apesar de não
reconhecidas por Marta, praticamente todas essas despesas foram
realizadas por fornecedores. E
agora precisam ser pagas pela nova gestão.
Para chegar ao déficit de R$ 1,9
bilhão, a equipe de Serra utilizou
como saldo financeiro deixado
por Marta R$ 16 mil que estavam
no caixa para serem utilizados livremente, R$ 272 mil reservados
para pagamento de serviço da dívida, inativos e pensionistas e R$
332 milhões em verbas vinculadas
-dinheiro que só pode ser usado
em áreas ou projetos específicos,
como saúde e educação, definidos
em leis, contratos ou convênios
da administração.
Irregularidades
O balanço da equipe tucana sugere haver infração fiscal no gasto
superior à receita, no cancelamento de empenhos e na não-inclusão de despesas no Orçamento. No caso do cancelamento dos
empenhos, diversos fornecedores
da prefeitura vêm confirmando a
situação. É o caso das empresas de
construção civil, que reclamam
uma dívida de R$ 500 milhões.
A Folha apurou que os problemas com a não-inclusão de despesas no Orçamento teriam ocorrido em áreas de serviço continuado, como o lixo e a prestação
de serviços para a saúde.
Outros passivos
A dívida com os fornecedores
que a equipe de Serra afirma ter
recebido da administração passada é uma pendência de custeio e
investimento da máquina em
2004 -apenas uma parte do passivo financeiro da prefeitura.
Em precatórios e previdência,
por exemplo, a administração
paulistana amarga um débito que
está em torno de R$ 6 bilhões.
A cidade tem ainda de comprometer, todo mês, 13% de suas receitas -cerca de R$ 100 milhões- com o pagamento de parcelas da dívida renegociada com a
União, que já atinge quase R$ 30
bilhões. Para se enquadrar ao cronograma que limita o endividamento dos municípios no prazo
legal, em maio, a prefeitura teria
de desembolsar R$ 7 bilhões de
um Orçamento de R$ 13,2 bilhões
previsto por Serra para este ano.
Próximo Texto: Outro lado: Ex-prefeita contesta balanço e diz ter deixado dinheiro em caixa Índice
|