São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 1997.

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OS IMIGRANTES
Projeto do governo italiano, inédito no mundo, prevê atividades para propagar a cultura e língua do país
Itália prepara nova `invasão' de São Paulo

NOELLY RUSSO
da Reportagem Local

Mamma mia! São Paulo se prepara para assimilar uma nova investida italiana em todo o Estado, a partir da capital.
Um dos objetivos principais da ``reitalianização de São Paulo'', como o projeto é apelidado no Consulado Geral da Itália em SP, é usar a forte influência da Itália na cidade para pulverizar produtos italianos em todo o Estado. O projeto também prevê atividades na área cultural.
``São Paulo é considerada a maior cidade italiana do mundo. São cerca de 5,5 milhões de descendentes na capital e Grande São Paulo. A população de Milão, por exemplo, não ultrapassa os 5 milhões'', diz o cônsul-geral da Itália, Stefano Alberto Canavesio.
O ``censo'' foi realizado há três anos, por um grupo de empresas italianas. Segundo ele, foram considerados os descendentes diretos e indiretos de várias gerações.
Sotaque
Ampliar o sotaque italiano de São Paulo -considerado ainda um traço marcante deixado pelos imigrantes- é uma das medidas já adotadas. O idioma passa a ser ensinado na rede municipal em caráter optativo. Cinco escolas já adotaram o italiano.
O objetivo é reavivar na memória dos paulistanos o idioma, que chegou a ser usado por um terço da população da capital no final do século passado e início deste.
Aline Vieira Ribeiro, 12, foi uma das 265 estudantes que tiveram aulas de italiano no ano passado, em sua escola. Seus bisavós paternos eram italianos, mas a garota diz que nem sabia disso.
``Fui fazer as aulas porque achei legal. Depois minha avó ficou sabendo e gostou muito. Ela entende italiano e fala umas coisas comigo'', diz a aluna da escola Cleómenes Campos (zona leste).
Apresentar a Itália do século 20 a essas gerações é outro objetivo do consulado em São Paulo. ``A Itália não é só pizza, e os descendentes aqui devem conhecer o país moderno'', diz Canavesio.
Outras medidas são a transmissão 24 horas por dia de programas da RAI (TV italiana) pelos canais de TV paga e ampliação de centros culturais italianos.
Outro projeto ambicioso é o do lançamento de um jornal semanal com tiragem de 100 mil exemplares para a comunidade italiana.
Projeto pioneiro
Canavesio afirma que o projeto é pioneiro. ``Se tudo der certo, podemos implantá-lo em cidades como Buenos Aires e Nova York, onde a comunidade italiana é muito grande também.''
O cônsul aponta outros motivos para a retomada: um suposto ``complexo de culpa'' por parte do governo italiano em ter abandonado os cerca de 1,5 milhão de imigrantes italianos que vieram para o Estado de São Paulo, no início do século principalmente.
``Para os brasileiros, essa revitalização também é importante. Conseguir uma cidadania italiana pode ser interessante para abrir as portas para a comunidade européia'', diz Canavesio.
A expansão ``azzurra'' deve continuar ainda para outros Estados de imigração italiana, principalmente no Sul do país, mais em pequenas áreas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
``Mas nada se compara a São Paulo. Quando cheguei à cidade, há dois anos, achei que o projeto do governo italiano não poderia dar certo. Estava enganado, porque a cultura italiana ainda é muito forte, apesar de estar dispersa.''
Canavesio atribui a dispersão da cultura italiana ao fato de em São Paulo haver até a quinta e sexta gerações de descendentes. ``Muitas pessoas nem sabem que o sobrenome é de origem italiana'', diz.

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