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OS IMIGRANTES
Projeto do governo italiano, inédito no mundo, prevê atividades para propagar a cultura e língua do país
Itália prepara nova `invasão' de São Paulo
NOELLY RUSSO
da Reportagem Local
Mamma mia! São Paulo se prepara para assimilar uma nova investida italiana em todo o Estado,
a partir da capital.
Um dos objetivos principais da
``reitalianização de São Paulo'',
como o projeto é apelidado no
Consulado Geral da Itália em SP, é
usar a forte influência da Itália na
cidade para pulverizar produtos
italianos em todo o Estado. O projeto também prevê
atividades na área cultural.
``São Paulo é considerada a
maior cidade italiana do mundo.
São cerca de 5,5 milhões de descendentes na capital e Grande São
Paulo. A população de Milão, por
exemplo, não ultrapassa os 5 milhões'', diz o cônsul-geral da Itália,
Stefano Alberto Canavesio.
O ``censo'' foi realizado há três
anos, por um grupo de empresas
italianas. Segundo ele, foram considerados os descendentes diretos
e indiretos de várias gerações.
Sotaque
Ampliar o sotaque italiano de
São Paulo -considerado ainda
um traço marcante deixado pelos
imigrantes- é uma das medidas já
adotadas. O idioma passa a ser ensinado na rede municipal em caráter optativo. Cinco escolas já adotaram o italiano.
O objetivo é reavivar na memória dos paulistanos o idioma, que
chegou a ser usado por um terço
da população da capital no final do
século passado e início deste.
Aline Vieira Ribeiro, 12, foi uma
das 265 estudantes que tiveram aulas de italiano no ano passado, em
sua escola. Seus bisavós paternos
eram italianos, mas a garota diz
que nem sabia disso.
``Fui fazer as aulas porque achei
legal. Depois minha avó ficou sabendo e gostou muito. Ela entende
italiano e fala umas coisas comigo'', diz a aluna da escola Cleómenes Campos (zona leste).
Apresentar a Itália do século 20 a
essas gerações é outro objetivo do
consulado em São Paulo. ``A Itália
não é só pizza, e os descendentes
aqui devem conhecer o país moderno'', diz Canavesio.
Outras medidas são a transmissão 24 horas por dia de programas
da RAI (TV italiana) pelos canais
de TV paga e ampliação de centros
culturais italianos.
Outro projeto ambicioso é o do
lançamento de um jornal semanal
com tiragem de 100 mil exemplares para a comunidade italiana.
Projeto pioneiro
Canavesio afirma que o projeto é
pioneiro. ``Se tudo der certo, podemos implantá-lo em cidades como Buenos Aires e Nova York, onde a comunidade italiana é muito
grande também.''
O cônsul aponta outros motivos
para a retomada: um suposto
``complexo de culpa'' por parte do
governo italiano em ter abandonado os cerca de 1,5 milhão de imigrantes italianos que vieram para o
Estado de São Paulo, no início do
século principalmente.
``Para os brasileiros, essa revitalização também é importante.
Conseguir uma cidadania italiana
pode ser interessante para abrir as
portas para a comunidade européia'', diz Canavesio.
A expansão ``azzurra'' deve continuar ainda para outros Estados
de imigração italiana, principalmente no Sul do país, mais em pequenas áreas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
``Mas nada se compara a São
Paulo. Quando cheguei à cidade,
há dois anos, achei que o projeto
do governo italiano não poderia
dar certo. Estava enganado, porque a cultura italiana ainda é muito forte, apesar de estar dispersa.''
Canavesio atribui a dispersão da
cultura italiana ao fato de em São
Paulo haver até a quinta e sexta gerações de descendentes. ``Muitas
pessoas nem sabem que o sobrenome é de origem italiana'', diz.
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