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"Sabia que a calma dependia de mim"
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
"É uma situação de abandono
como nunca tinha sentido. Eu já
tinha sido sequestrado pela Operação Bandeirantes em 73, mas
mesmo a polícia política tem uma
lógica, a lógica da tortura. Nesse
caso a insegurança é maior, você
não sabe o que vai acontecer. Eles
estavam muito nervosos, eu sabia
que a calma dependia de mim.
Abaixei os olhos para não ver o
rosto deles. Eles meteram o revólver na nossa cabeça e nos enfiaram no porta-malas."
O relato do secretário Eduardo
Jorge foi feito à Folha ontem à
noite. "Você se sente fora da lei,
fora da civilização. Sabe que sua
vida depende de acasos. Quando
o carro saiu em alta velocidade, eu
imaginava que podia ter um acidente, que a polícia podia persegui-los sem saber que estávamos
dentro do bagageiro. Eu pensava,
às 8h30, quando notarem que não
cheguei a Brasília, vão começar a
procurar por nós", disse à Folha.
No início da tarde, ao chegar à
prefeitura, ele havia relatado detalhes do sequestro. Abaixo, trechos
da coletiva à imprensa.
Pergunta - Como foi o sequestro?
Eduardo Jorge - Estava saindo de
casa. O carro foi cercado. Com armas, mandaram que eu e o motorista entrássemos no porta-malas.
Seguiram adiante, pararam em
um caixa eletrônico, pediram a
senha e sacaram dinheiro. Ainda
rodaram mais umas duas horas.
Lá pelas 8h, o carro foi abandonado em uma rua deserta.
Pergunta - Durante esse tempo
todo o sr. ficou no porta-malas?
Jorge - Eu e o motorista. Depois,
a gente viu que não tinha mais barulho nenhum. A gente ficou sem
saber se aquilo era uma casa, o
que era aquilo. Batemos, batemos
(do interior do porta-malas). Um
operário chamou a polícia.
Pergunta - Os sequestradores reconheceram o sr.?
Jorge - Acho que não.
Pergunta - Já havia acontecido
algo semelhante com o sr.?
Jorge - Estou em São Paulo há 30
anos e nunca tinham me roubado
um friso. Morei em Itaquera e em
São Mateus (zona leste) por quase
15 anos e nunca me roubaram.
Pergunta - O sequestro pode ter
sido uma represália às medidas
contra o PAS.
Jorge - Essa é uma hipótese remota. O mais provável é que tenha sido o mesmo que ocorre
com dezenas de pessoas.
Colaborou João Carlos da Silva, da Reportagem Local
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