São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2001

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"Sabia que a calma dependia de mim"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

"É uma situação de abandono como nunca tinha sentido. Eu já tinha sido sequestrado pela Operação Bandeirantes em 73, mas mesmo a polícia política tem uma lógica, a lógica da tortura. Nesse caso a insegurança é maior, você não sabe o que vai acontecer. Eles estavam muito nervosos, eu sabia que a calma dependia de mim. Abaixei os olhos para não ver o rosto deles. Eles meteram o revólver na nossa cabeça e nos enfiaram no porta-malas."
O relato do secretário Eduardo Jorge foi feito à Folha ontem à noite. "Você se sente fora da lei, fora da civilização. Sabe que sua vida depende de acasos. Quando o carro saiu em alta velocidade, eu imaginava que podia ter um acidente, que a polícia podia persegui-los sem saber que estávamos dentro do bagageiro. Eu pensava, às 8h30, quando notarem que não cheguei a Brasília, vão começar a procurar por nós", disse à Folha.
No início da tarde, ao chegar à prefeitura, ele havia relatado detalhes do sequestro. Abaixo, trechos da coletiva à imprensa.

Pergunta - Como foi o sequestro?
Eduardo Jorge -
Estava saindo de casa. O carro foi cercado. Com armas, mandaram que eu e o motorista entrássemos no porta-malas. Seguiram adiante, pararam em um caixa eletrônico, pediram a senha e sacaram dinheiro. Ainda rodaram mais umas duas horas. Lá pelas 8h, o carro foi abandonado em uma rua deserta.

Pergunta - Durante esse tempo todo o sr. ficou no porta-malas?
Jorge -
Eu e o motorista. Depois, a gente viu que não tinha mais barulho nenhum. A gente ficou sem saber se aquilo era uma casa, o que era aquilo. Batemos, batemos (do interior do porta-malas). Um operário chamou a polícia.

Pergunta - Os sequestradores reconheceram o sr.?
Jorge -
Acho que não.

Pergunta - Já havia acontecido algo semelhante com o sr.?
Jorge -
Estou em São Paulo há 30 anos e nunca tinham me roubado um friso. Morei em Itaquera e em São Mateus (zona leste) por quase 15 anos e nunca me roubaram.

Pergunta - O sequestro pode ter sido uma represália às medidas contra o PAS.
Jorge -
Essa é uma hipótese remota. O mais provável é que tenha sido o mesmo que ocorre com dezenas de pessoas.


Colaborou João Carlos da Silva, da Reportagem Local


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