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Maierovitch quer medidas mais amplas
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A intenção da Câmara de dificultar o caminho para que os
condenados por crime hediondo passem a cumprir pena mais
branda é insuficiente, diz o ex-secretário Nacional Anti-Drogas do governo Fernando Henrique Cardoso, Walter Maierovitch. Agora como presidente
do IBGF (Instituto Brasileiro
Giovanni Falcone), que estuda
a criminalidade, ele concedeu
entrevista à Folha.
FOLHA - O aumento no prazo para
que os condenados por crime hediondo passem para o regime semi-aberto é uma medida acertada?
MAIEROVITCH - O endurecimento é bom. Um sexto da pena [para o indivíduo passar para o regime semi-aberto] é insuficiente para a pessoa sentir a resposta penal. Mas vamos olhar o outro lado. O semi-aberto está
bem descaracterizado. O preso
sai durante o dia e volta à noite.
Quando ele sair, vai ter um chip
de controle? Nunca houve controle algum. Eles podem voltar
com drogas, com celular, o que
é um clássico da vida carcerária
no Brasil. O modelo semi-aberto continua inadequado, isso já
furou, e vai continuar igual.
FOLHA A questão de descentralizar
a legislação penal é pertinente?
MAIEROVITCH - O problema é
que os Estados já se mostraram
incompetentes. Veja os casos
do Rio e de São Paulo. Não conseguem cuidar nem da disciplina dos presídios. O Cabral, no
Rio, é refém do crime organizado. Quem é refém não tem condições de fazer propostas. É um
debate desqualificado, um
oportunismo eleitoreiro.
FOLHA - Depois da morte do menino João Hélio Fernandes, a discussão sobre a redução da maioridade
penal ganhou força. É uma proposta
razoável?
MAIEROVITCH - Pela proposta
feita, faz-se uma mudança de
estabelecimento, das instituições de reabilitação de menores para o regime penitenciário, onde não há programa pedagógico. É um tipo de proposta vingativa, "made in USA".
FOLHA - Há alguma proposta que o
senhor considere inteligente sendo
colocada no momento?
MAIEROVITCH - Há, sim. Alguns
remendos são necessários e
não destroem o sistema. A progressão prisional, por exemplo.
Um sexto da pena [para o indivíduo passar para o regime semi-aberto] é insuficiente para a
pessoa sentir a resposta penal.
Aumentar esse prazo é uma
medida bem-vinda. Outra boa
idéia é criar uma tipificação para o crime organizado especial.
É uma tendência internacional.
Isso dá mais instrumentos para
combater a lavagem de dinheiro e atacar a economia do crime
organizado.
FOLHA - Mas, para se melhorar a
segurança pública, o cerne da questão não seria mexer na legislação
penal?
MAIEROVITCH - Temos uma política criminal, mas, se olharmos
bem, ela não dá segurança social porque os sistemas foram
desvirtuando, virou colcha de
retalhos. Se não fizermos uma
reengenharia, vamos trabalhar
com retalhos. Dentro de toda
essa discussão, eu não vejo propostas concretas para tornar a
Justiça mais ágil, por exemplo.
Precisamos passar por uma reforma total.
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