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Zilda Arns defende pena maior para jovem infrator
Ela defende que envolvidos em infrações graves fiquem mais tempo internados
A coordenadora nacional da
Pastoral da Criança afirmou
que a proposta de reduzir a
maiorida penal não resolve
questão da criminalidade
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A coordenadora nacional da
Pastoral da Criança, Zilda Arns,
defende uma revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente
que permita maior tempo de
internação aos adolescentes
envolvidos em infrações graves. Hoje o prazo máximo é de
três anos.
No caso da morte do menino
João Hélio Fernandes, 6, arrastado por criminosos preso ao
cinto de segurança do carro, a
fundadora da pastoral não titubeou: três anos não serão suficientes. A seguir, trechos da entrevista dela à Folha:
(IURI DANTAS)
FOLHA - Como a senhora vê a redução da maioridade penal?
ZILDA ARNS - Não resolve. Existem criminosos e criminosos.
Alguns têm uma tara por violência, e deixar solto é um perigo. Outros podem se beneficiar
do convívio com as famílias.
Com a redução, os traficantes
vão recrutar jovens aos 14, 13
anos.
FOLHA - Elevar o tempo de internação é uma alternativa?
ARNS - Se houver avaliação de
que não estão em condições de
sair após três anos, e se estiverem numa escola de crime, não
pode realmente soltar. Deve
haver uma avaliação com psiquiatra especializado em criminologia.
FOLHA - Só funciona se houver
avaliação psiquiátrica?
ARNS - Claro, não adianta fazer
leis e leis se o sistema não funciona. Tem que ver quanto
tempo [de internação] a mais.
Não posso dizer que pode ser
após seis anos. Tem que ter
uma avaliação aos três anos e
acompanhar. O resultado tem
sido mau: mais de 70% voltam
ao crime.
FOLHA - A longa internação não colabora com esse alto índice de reincidência?
ARNS - É multicausal. Por
exemplo: se sai e continua o
problema psicológico ou psiquiátrico presente. Se não sabe
fazer e não aprendeu nada. Se
sai sem emprego. Se os pais não
o sustentam. Se é rejeitado pela
sociedade. Nestes casos, o que
vai fazer para comer? Entra
novamente no crime. É preciso
abrir perspectivas de nova vida
para estes meninos.
FOLHA - E a necessidade de puni-los pelas infrações?
ARNS - Tem que analisar pelo
crime que cometem. É diferente se um menino rouba porque
os pais o obrigam a ficar na rua
para trazer dinheiro para casa
ou se mata, estupra, se faz tanta
coisa.
FOLHA - Como na morte do João
Hélio?
ARNS - Esse aí com certeza depois dos três anos não estará
preparado para voltar para a
sociedade.
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