São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

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Zilda Arns defende pena maior para jovem infrator

Ela defende que envolvidos em infrações graves fiquem mais tempo internados

A coordenadora nacional da Pastoral da Criança afirmou que a proposta de reduzir a maiorida penal não resolve questão da criminalidade

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, defende uma revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente que permita maior tempo de internação aos adolescentes envolvidos em infrações graves. Hoje o prazo máximo é de três anos. No caso da morte do menino João Hélio Fernandes, 6, arrastado por criminosos preso ao cinto de segurança do carro, a fundadora da pastoral não titubeou: três anos não serão suficientes. A seguir, trechos da entrevista dela à Folha: (IURI DANTAS)  

FOLHA - Como a senhora vê a redução da maioridade penal?
ZILDA ARNS
- Não resolve. Existem criminosos e criminosos. Alguns têm uma tara por violência, e deixar solto é um perigo. Outros podem se beneficiar do convívio com as famílias. Com a redução, os traficantes vão recrutar jovens aos 14, 13 anos.

FOLHA - Elevar o tempo de internação é uma alternativa?
ARNS
- Se houver avaliação de que não estão em condições de sair após três anos, e se estiverem numa escola de crime, não pode realmente soltar. Deve haver uma avaliação com psiquiatra especializado em criminologia.

FOLHA - Só funciona se houver avaliação psiquiátrica?
ARNS
- Claro, não adianta fazer leis e leis se o sistema não funciona. Tem que ver quanto tempo [de internação] a mais. Não posso dizer que pode ser após seis anos. Tem que ter uma avaliação aos três anos e acompanhar. O resultado tem sido mau: mais de 70% voltam ao crime.

FOLHA - A longa internação não colabora com esse alto índice de reincidência?
ARNS
- É multicausal. Por exemplo: se sai e continua o problema psicológico ou psiquiátrico presente. Se não sabe fazer e não aprendeu nada. Se sai sem emprego. Se os pais não o sustentam. Se é rejeitado pela sociedade. Nestes casos, o que vai fazer para comer? Entra novamente no crime. É preciso abrir perspectivas de nova vida para estes meninos.

FOLHA - E a necessidade de puni-los pelas infrações?
ARNS
- Tem que analisar pelo crime que cometem. É diferente se um menino rouba porque os pais o obrigam a ficar na rua para trazer dinheiro para casa ou se mata, estupra, se faz tanta coisa.

FOLHA - Como na morte do João Hélio?
ARNS
- Esse aí com certeza depois dos três anos não estará preparado para voltar para a sociedade.


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