São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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SEGURANÇA

Sistema de vídeo de universidade próxima a local onde militares dizem ter achado armas não registrou movimentação

Câmera e depoimento contradizem Exército

ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Câmera de imóvel da Universidade Cândido Mendes, na estrada das Canoas -instalada a 1,5 km do local onde o Exército diz que encontrou as armas roubadas-, não registrou movimentação de nenhum veículo das Forças Armadas durante a tarde e a noite de terça-feira. O endereço do imóvel é um dos dois acessos ao "Esqueleto", local próximo de onde o Exército afirma ter encontrado as armas roubadas do ECT (Estabelecimento Central de Transportes), em São Cristóvão.
Segundo o gerente do Centro de Treinamento da universidade, Sérgio Candido, a empresa de segurança Estrela Azul, responsável pela vigilância do imóvel, revê as fitas todos os dias e nenhuma movimentação diferente foi notada.
"Apenas carros da polícia que fazem as rondas normais aqui na estrada", afirmou. "Causou-me surpresa a notícia de que acharam [as armas] aqui. A polícia fez treinamento aqui de quarta a sexta-feira. Não seria o lugar ideal para deixar essas armas."
O imóvel da universidade fica no número 3.520 da estrada das Canoas, a 1,5 quilômetro da entrada da rua do "Esqueleto". Quem vem do Alto da Boa Vista em direção ao local, passa obrigatoriamente em frente à universidade. O outro acesso possível é pela entrada na estrada Lagoa-Barra, em São Conrado. Funcionários da loja Pau Brasil, que fica na esquina da via com a estrada das Canoas, não viram nenhum carro militar passar pela área à noite.
No caminho de São Conrado ao "Esqueleto", a Vila das Canoas é passagem obrigatória. Funcionário de uma farmácia à beira da estrada diz não ter visto nenhum veículo militar subindo em direção ao "Esqueleto", embora tenha trabalhado "até umas 19h30". Além dele, dois caseiros de imóveis em frente à rua de acesso ao local também afirmam não terem visto carros do Exército por lá.

Esqueleto
O "Esqueleto" é a estrutura da obra do que seria o Gávea Tourist Hotel, paralisada há mais de 40 anos devido à falência da incorporadora, a Companhia Califórnia de Investimentos. Na rua que dá acesso ao prédio, há uma placa, encoberta por plantas, que diz: "Imóvel arrecadado pelo juiz de direito da 5ª Vara Cível da capital da massa falida da Cia. Califórnia de Investimentos".
O edifício tem 11 andares, mais dois de garagem, e é projetado para ter 440 apartamentos, de 23 metros quadrados cada. O prefeito Cesar Maia publicou no "Diário Oficial" do município em 18 de maio de 2001 instrução a secretarias e à subprefeitura da zona sul para que o local fosse utilizado de alguma forma pelo poder público.

Rocinha
Um dia após a ocupação da maior favela da América Latina, moradores da Rocinha não fizeram reclamações dos militares que ali estiveram anteontem. De acordo com eles, o único transtorno foi o fechamento da estrada da Gávea e da via Ápia, principais acessos à comunidade.
"As carnes que recebemos hoje [ontem] era para terem chegado ontem [anteontem]", afirmou funcionária de um açougue da favela, que preferiu não se identificar. Crianças também tiveram dificuldades de ir e voltar das escolas, segundo relatos.
Ontem o movimento voltou ao normal. Inclusive com a subida de caminhões entregando mercadorias. "Sabe como é favela. Temos dias complicados e dias tranqüilos. Ontem [anteontem] e hoje [ontem] foram dias calmos", afirmou uma moradora.


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