da Agência Folha

O raio que o governo diz ter provocado o blecaute em metade do país na quinta-feira passada pode não ser a única causa do acidente.
O gerente regional da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) em Bauru (345 km de SP), Hamilton Spagolla de Lemos, afirmou no final de semana que "outros eventos" podem ter colaborado para o fenômeno.
"Provavelmente ocorreram eventos simultâneos que levaram a um processo maior", disse.
Segundo Lemos, a consequência imediata do desligamento da subestação, com a queda do raio, foi "a provável oscilação de frequência e a retirada de grandes blocos de energia de outras linhas", que provocou o blecaute.
Na mesma noite, por exemplo, um pára-raios da subestação de Salto Grande (395 km de São Paulo) explodiu.
A palavra final sobre o blecaute será dada pelo ONS. "Se o evento tivesse sido restrito à subestação de Bauru, não teria acontecido nada", afirmou Lemos.
Desde ontem, o gerente não fala com a imprensa, por temer que suas declarações sejam interpretadas como uma contestação da versão oficial do governo.
O diretor de Geração e Transmissão da Cesp em São Paulo, Reinaldo José de Campos, reiterou ontem a tese do gerente de que o raio foi a origem do blecaute, mas provavelmente não a única causa.
O presidente do Sindicato dos Eletricitários de Furnas, o engenheiro Ataíde Vilela, 46, afirmou ontem que um raio não causa blecaute, se o sistema interligado de proteção das usinas estiver funcionando corretamente.
Segundo Vilela, que trabalhou durante 25 anos em Furnas, se um raio atinge uma subestação, o sistema interligado envia proteção "para frente e para trás".
"Há dispositivos que garantem e que protegem uma subestação e que interrompem ou isolam o restante, quando há problemas. Esses dispositivos são todos acionados automaticamente. Se aconteceu o problema em Bauru, os dispositivos de segurança de transmissão (as chamadas proteções) teriam de ter isolado o local onde houve o problema do restante do sistema interligado." (EDMILSON ZANETTI e FABIANA PEREIRA)

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